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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 27 de junho de 2022

São João Batista, seus festejos e minhas lembranças

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Há Santos que têm mais popularidade do que outros e por razões diversas, o povo tomou para si o trabalho de os engrandecer e lhes prestar o culto religioso com pompa e circunstância.
Para isso juntam-se grupos de pessoas, quase sempre jovens e todos imbuídos dum espírito festivo e solidário, no dia que a Igreja determina, lhes seja prestado o culto religioso, aproveita-se a vontade do festejo, arma-se a tenda e toca a bailar e assim se passará a data mais alegremente.
O São João é o mais sortudo pois tanto no imaginário do povo como nas canções escritas por gente de todas as classes ele é uma figura central que está ligado ao imaginário mais alargado de todos os Santos populares que a gente tanto precisa para levantar o astral e poder viver mais feliz.
No meu tempo de rapaz, o São João fazia-se com o acordo tácito da gente nova, da mais velha e as próprias autoridades que zelavam pela ordem e compostura, já que como havia sempre alguns desaguisados com os mais afoitos era de bom senso estar prevenido.
Havia bailes, normalmente no Loreto, Além do Rio, no Toural, em frente à capela que ali se ergue e noutros sítios onde houvesse juventude e gente mais idosa que ajudavam a manter a tradição.
Os processos de realização eram simples, sendo a coesão da Comissão de Festas o mais importante de todas as tarefas, pois havia necessidade de pagar despesas contraídas com o proprietário da aparelhagem sonora, com pequenos espaços decorados que balizavam o recinto, construção da quermesse e limpezas da área determinada para o baile e a da quermesse que deveria uma não ser impeditiva da outra. À Comissão competia fazer atempadamente o peditório para guarnecer a quermesse que era o ex-libris da festa. Era também usual fazermos uma "Cascata" que era algo de semelhante a um presépio, mas com motivos mais ligeiros e que punham em evidência o carácter distinto da festividade.
O Tio Mirandela de quem já falei algumas vezes ajudava com as suas bugigangas e com o seu saber a alindar a cascata que atraía muita gente para verem as casinhas e outras construções de madeira e cortiça que este artesão concretizava ao longo do ano. Recordo-me de uma cascata gigante que montou no Jardim Dr. Antonio José de Almeida, era eu ainda pequeno, que deu brado, pois ele havia montado um sistema capaz de elevar a água quase até à Rua da República e suster em movimento uma bola de ping pong que subia e descia fazendo as delícias da garotada e também dos mais velhos.
Observando este uso que durante a minha juventude era sempre cumprido sem falhar e o que se passa agora que quando se festeja algo é sempre a Câmara a tomar em mãos a sua concretização, concluímos que houve um retrocesso na sociabilização dos indivíduos, pois o espírito de pertença aos locais onde se vive, deixou de existir e perdeu-se assim algo que não tendo nunca a dimensão de Braga ou Porto, cumpria com o seu objectivo que era o de comemorar o dia, enaltecendo o Santo popular e alegrando o povo que assim tinha a possibilidade de se divertir, dançando e convivendo.
Lembro-me de ser miúdo e ir com a minha mãe e o meu pai ao Bairro de Além do Rio às Festas do S. João, que eram muito populares no seu Bairro de nascimento. No Loreto, o Barril dava a Música e faziam-se bailes monumentais e não me lembro de haver nesses bailes, quermesse ou cascata, o financiamento, penso, fazia-se por multa ao par dançante que pagava uma quantia irrisória mas que multiplicado por muitos dava o suficiente para as despesas.
Para além de pagar a música havia também o preço das licenças do Governo Civil que eram indispensáveis bem assim como a Polícia também recebia os seus honorários já que havia a imposição de ter segurança em caso de acidentes imponderáveis e possíveis zaragatas que alguns já com o grão na asa pudessem ocasionar. Na minha rua fizeram -se algumas vezes, não sempre, bailes que foram grandes e que a minha memória guarda com orgulho. Sou no entanto sincero, pois penso e digo que os maiores e melhores eram os do Loreto, talvez porque no Loreto o piso era mais plano e as meninas podiam ali dar ao pé mais facilmente. Muita coisa haveria para dizer desse tempo maravilhoso que me coube viver, tempo que hoje recordo com saudade e me faz reviver um tempo que passou sem que possa de novo Voltar.
A canção que recordo mais das muitas que decorei nesses bailes tão divertidos, reza assim:

Pus um trevo num balão 
E balão mandei-o ao ar 
São João, meu São João 
Maroteiro, brincalhão 
Que me quis contrariar 
São João, meu São João 
Dos folguedos e alegrias 
Ó meu rico São João 
Maroteiro, brincalhão 
Padroeiro das folias. 
O São João gosta de morar 
No coração de quem queira amar 
E dá formosas, voltas e voltinhas 
Na grande roda das Fontainhas .

Parte da canção - incompleta 
Versos de uma canção popular da qual não recordo o autor ou criador. Direi quando conseguir identificar.



Bragança, 25/06/2022
A. O. dos Santos
(Bombadas)

1 comentário:

  1. Caro colega colaborador do MOC
    Gostei deveras de sua cronica memorialista!
    Ha' uma musica brasuca, cuja letra diz:
    --Vou pedir numa oracao/Ao querido Sao Joao/Que me desse um matrimonio.
    Sao Joao disse que nao/Sao Joao disse que nao: matrimonio, matrimonio/ Isso e' la' pra Santo Antonio."

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