Assim foi criada a geração que deu casa, carro, roupa e cursos superiores à geração atual que reclama por falta de oportunidades. |
As crises económicas não se fizeram sentir muito, exceto a crise do petróleo, 1972, a máquina da publicidade assenhoreou-se da TV, moldando os filhos. Por mais que disséssemos que a vida era de sacrifícios, não passaram por experiências dolorosas. Frequentar a universidade já não é apanágio de elites, nem mesmo as privadas. Os cursos facilitam o acesso a canudos com a fama de distinguir entre os que vencem na vida e os outros, mas na prática é muito diferente.
Os pais enfrentam a situação desconcertante de filhos que, por um lado, se comportam irresponsavelmente sem dar importância às coisas que, teoricamente, lhes deveriam interessar e, por outro, se manifestam devastados pela incerteza do futuro ou pequenos reveses. Jovens tão pouco dados a levar a vida a sério tornam-se vítimas quando veem as coisas mal paradas.
Estarão a exagerar? Não se tratará de estratagema de autodesculpa, para obterem compaixão e evitarem atuar? Tudo leva a crer que não. Raras vezes se trata de birras e de espavento de adolescentes tentando enternecer os adultos. Os pais fizeram o que lhes competia dando o máximo de bens materiais (que eles não tiveram), e rodearam-se desses bens. Parecia uma sociedade de abundância sem limites. A pressão dos pares a nível social, engendrada pela insaciável publicidade, levou-os a comprarem tudo e mais alguma coisa. Quando a árvore das patacas seca, ou saem de casa, dão conta de que as mais pequenas coisas têm um custo, o que os irrita profundamente porque quando chegam às grandes coisas já não há dinheiro.
Muitos especialistas concordam, as causas da intolerância e da frustração jovens estão ligadas aos valores propugnados pelos meios de comunicação. Quando, desde a nascença, um jovem recebe da TV, mensagens subliminares, não é descabido pensar que isso os incapacitou para enfrentar a realidade. E não foi nem o pai nem a mãe, mas os meios de comunicação a manipular as mentes dos recetores consumidores. Que capacidade de enfrentar problemas terão os que nos anos mais recetivos da vida foram metralhados com promessas de felicidade virtual, êxito imediato, a vida como um show de diversões que nunca termina? O discurso mediático mercantil alimenta a imaturidade que se revela quando a realidade nua e crua se mostra e o jovem constata que nada é como lhe disseram, criando um desajustamento causador de insatisfação e ansiedade.
Nos anos 60 e 70 geração rebelde, nos 80 e 90 “Millenials” e agora da frustração. Nem poderia ser doutra forma, mas a evidência não resolve o problema nem serve de consolo. Quando dizem que estão deprimidos estão a falar a sério, sofrendo mais do que possamos imaginar. Aumentou substancialmente, o número de consultas de adolescentes na urgência psiquiátrica. Num hospital de Barcelona as estatísticas indicam primeiro, as alterações de conduta, seguidas das crises de ansiedade, 25% do total. Se acrescentarmos 15% de tentativas de suicídio teremos de admitir que se trata dum problema grave e crescente.
Muitos jovens não aguentam revezes pois não foram treinados para os enfrentarem, sobreprotegidos, acostumados a conseguirem tudo, falta-lhes a experiência de sentirem necessidades ou penúria, carecem de defesa face às dificuldades. Já se disse, que os pais criaram inválidos sem recursos para enfrentarem o mundo, regido pela competitividade e elevados padrões de exigência, a nível laboral e profissional, nas relações interpessoais e integração social. Os adolescentes naufragam no trajeto entre a infância almofadada que nada lhes exigiu e o futuro eriçado de obstáculos.
A geração paterna perpetua o estereótipo. A sobreproteção e a permissividade excessivas criaram dependentes, sem autonomia para tomar decisões e confrontarem os problemas. Não será justo culpar os pais. As famílias, têm uma parcela da irresponsabilidade dos filhos que pagam com angústia, a vida mole. Os pais atuaram por carinho, mesmo se revestido de formas erradas. A maioria dos jovens deixou de buscar apoio e cumplicidade nos amigos, como quando se refugiavam dos defeitos dos pais, ineficazes a gerirem a segurança emocional necessária.
Crianças mimadas em vez de trabalharem e ganhar mais, queixam-se, entram em depressão apática, sofrem na inação e deprimem-se mais. Tudo é um direito divino que compete aos pais satisfazer e quando não alimentam a ilusória vida fácil, sentem-se traídos pela sociedade. O que não sabem é que vão pagar as dívidas que lhes deixaram, e só então terão razão para se sentirem deprimidos. Parece a história deste país que habito.
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