terça-feira, 19 de julho de 2022

GÉNIO BOM GÉNIO MAU

Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

O Cientista Louco e Malvado que pretende dominar o mundo é uma personagem, nascida no mundo da Banda Desenhada, replicada em alguma fitas cinematográficas menores por argumentistas pouco argutos e aparece, episodicamente, na literatura secundária, com vida curta e pouco relevo, em romances de cordel. Mas é uma figura ficcional. Pura e exclusivamente. Não existe!
Não quero dizer que não haja loucos, malvados e que queiram dominar o mundo. Há, sem dúvida. Mas não são cientistas. Porque essa putativa existência é uma impossibilidade! A Ciência é uma atividade desenvolvida e executada por mulheres e homens que tendo virtudes e defeitos, como todos os seres humanos, têm em comum pelo menos dois aspetos que são condições essenciais e não dispensáveis para que o que fazem e em que trabalham seja Ciência: o amor incondicional à verdade e um respeito absoluto e inquestionável pelos seus pares. Ora, quem quer que queira dominar o mundo, sendo louco e, sobretudo, malvado, não pode cumprir nenhuma dessas condições. Então, o resultado do trabalho dos cientistas, é, por natureza bom e dele resulta sempre benefício para a humanidade? Não! 
A forma como se chega às grandes descobertas é boa (tem de ser porque para ser reconhecida e validada), mas tal não impede, não invalida nem tão pouco induz sequer a que não possa, ser usada de forma diferente e diversa do espírito que esteve na sua origem. O que mais motiva o investigador é a descoberta, é o conhecimento, é o aproximar, tanto quanto possível, da verdadeira essência das coisas e dos fenómenos. E isso, em si, sem mais nada, só pode ser bom... mesmo que depois lhe possa ser dada uma má utilização. 
A descoberta da fissão nuclear foi notável. Usada posteriormente para o fabrico de bombas atómicas, é certo, mas também para a produção de energia alternativa à queima dos hidrocarbonetos e, quiçá, poderá propulsionar foguetões proporcionando aos homens descobertas cósmicas assinaláveis e impensáveis. 
A dinamite, inventada por Alfred Nobel, cujos prémios são os mais disputados do mundo atual, tanto serve para remover obstáculos em obras assinaláveis, como para usar em atentados à vida e bens de cidadãos inocentes… ou não. O plástico sintético foi, não haja dúvidas, uma das invenções mais importantes e marcantes do século passado, indutor de um salto enorme na economia, no bem estar e no desenvolvimento da humanidade. Mas foi também o início de uma onda de poluição que toma, atualmente, proporções assustadoras, contribuindo para as terríveis e temidas alterações climáticas, cujos efeitos nefastos estamos todos já a sentir na pele, com o aumento da frequência de fenómenos extremos, inundações, incêndios, calor excessivo e degradação, a raiar a irreversibilidade, dos solos e, sobretudo, dos mares.
Ora bem, surgiu recentemente um projeto, Space Bubbles, que pretende colocar no espaço, entre a Terra e o Sol, num ponto Lagrange (L1), uma bolha gigante com a função de desviar do nosso planeta, pelo menos, 1,8% da radiação solar, suficiente para travar os atuais efeitos do aquecimento global. O mesmo plástico que nos arrasta para a emergência climática, em que vivemos, pode ser o caminho para a sua moderação. Ao cientista cabe a descoberta. À humanidade dar-lhe o melhor uso!

José Mário Leite
, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance), Canto d'Encantos (Contos) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

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