domingo, 24 de julho de 2022

Um par de óculo de sol, precisam-se.

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Começou por levantar-se do leito onde dormira, com pouca vontade de ser mais rápido, já que por ser verão e as temperaturas andarem acima dos 40 graus positivos a moleza ser evidente, pois quem trabalha a partir das 8:00 da matina até às 5:00 da tarde apanha com toda a violência deste sol intenso que nos abrasa.
Aqui e agora está a decorrer um tempo de canícula que desfaz completamente a vontade de estar apto a cumprir com aquelas tarefas que por serem pequenas em tempo normal se fazem sem se dar por isso.
O verão instalou-se e faz-nos recordar as tarefas que antigamente a maioria dos moradores das aldeias e até de vilas e cidades, estavam incumbidos de realizar, como seja: fazer as ceifas, malhar o trigo e passar calores que os escritores mais conhecidos da literatura nacional, não deixaram passar despercebidos, pois era demais evidente que o encargo se fazia dobrando a cerviz e louvando a Deus pela fartura que era, quando o grão entrava na tulha e estava garantida a base da alimentação para todo o ano, logo que a farinha viesse do moinho e o forno fosse arrojado ao ponto rubro e nos desse finalmente o pão nosso de cada dia. Tarefas que a humanidade executava e que faziam o povo acreditar que só com o suor do rosto as tarefas do quotidiano seriam realizadas.
Claro que o mundo evoluiu e hoje as ceifas são feitas com máquinas gigantescas que ceifam um terreno grandioso bem semeado de cereal num tempo record, coisa inimaginável no tempo anterior à segunda guerra mundial.
Em Trás-os-Montes a recordação dos tempos da segada está quase esquecida pelos que nelas participaram e para aqueles que se recordam não passa de nostalgia. O minifúndio que foi trabalhado até à exaustão dos solos não passa de campos abandonados que os herdeiros de meia idade já não cultivam e onde pensam fazer um chalé que sirva de Alojamento Local, para turistas que se deliciarão e voltarão para o ano, para continuarem a tarefa ingente de calcorrearem veredas e caminhos que nas margens têm lírios bravos e giestas pegajosas, silenciosas e bonitas que levam como recordação dos montes e vales que ainda não arderam pois, nos ditos, os senhores dos Serviços Florestais não plantaram eucaliptos já que Deus criou estes Montes com altitude demasiado elevada para o desenvolvimento destas árvores que trouxeram da Austrália para nosso desassossego.
Todas as recordações de Verão que neste tempo regressam ao nosso registo, se baseiam na intensidade das ondas de calor que se fazem sentir ao longo dos dias que de quentes e pelos quais clamamos durante o tempo frio e ansiamos sofredores, nos fazem a impressão de nos quererem torrar, como o povo faz nas festas aos cabritos e leitões que cozem em lume brando para delicia do nosso paladar. Tempo este que trouxe a seca dos rios e das nascentes causador de anseios e descrença nas palavras dos homens que pela boca apregoam a paz, mas que fazem a guerra sem piedade e condicionam a distribuição do cereal oriundo do País que o fabrica e o distribui pelo resto do planeta. Hipocrisia só comparável à do Faraó e José filho de Jacob, chamado Israel, que aferrolhou o trigo durante sete anos e fez a glória do Egipto e ao mesmo tempo a desgraça do Povo.
Há na Bíblia histórias bonitas que falam do valor que os cereais possuíam nesse tempo distante e a mais bela é a de Ruthe que foi ao rebusco dos grão deixados pelos segadores de Boz e o encontrou a ele que era quem tinha o direito e a obrigação de a desposar. Histórias velhas mas que podem ter similitude com a vida actual. Reparem nos actos de guerra e desassossego que o povo sofria naquele tempo e comparem-nos com o que se passa hoje no mundo e vejam se a hipocrisia não é igual.
Bem, a verdade é que eu só hoje, neste dia de Verão resolvi, não sei por quê, pensar nestes assuntos e dá-los à estampa, entrando assim num modelo de reflexão pouco condizente com outras lucubrações que noutros cenários meteorológicos não me atreveria fazer.
É assim o Verão na nossa terra, como nos manda tanto calor que seca os rios e faz suar a humanidade, deixa razão para suspirarmos pelo outono que prevemos venha fresco e nos traga a serenidade que tanto necessitamos para termos a cabeça fria e não pensarmos como eu penso hoje. Até lá veremos o que o Verão nos  traz e sei que no mínimo trará consigo o fim de Agosto e o princípio de Setembro que consigo trarão o signo Virgem, que só de imaginar me dá vertigem. (Em Setembro se Vénus me ajudar / virá alguém / Eu sou de Virgem / E só de imaginar me dá vertigem /. Versos de uma canção brasileira).



Bragança, 23/07/2022
A. O. dos Santos
(Bombadas)

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