Por: António Pires
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
A todo o momento somos confrontados com notícias do género: “fulano tal fez um desfalque na empresa onde trabalha”. Em situações destas, o alegado prevaricador conta sempre com a benevolência cristã e o benefício da dúvida de quem por si põe incondicionalmente as mãos no lume, dizendo: “Não, ele seria incapaz de fazer uma coisa dessas”. A pessoa acusada, formalmente ou na praça pública, aos olhos de quem o conhece e com ele priva e convive, não tem perfil psicológico para cometer actos socialmente reprováveis.
Apurados os factos em “sede própria”, e depois de se ter confirmado, para grande desgosto e desilusão de todos quantos julgavam tratar-se duma cabala, com motivações que podem ser de vária ordem, orquestrada por certas forças do Mal, o sujeito que, até então, tinha a folha limpa, foi mesmo tentado pelo vil metal.
Como que numa espécie de justificação/atenuante para aqueles que são tomados por tais momentos de fraqueza (um generoso eufemismo), é costume recorrer-se ao ditado popular “a ocasião faz o ladrão”. Totalmente em desacordo com o adágio, ou do ensinamento que lhe está associado, e não muito distante da opinião de Machado de Assis (provavelmente, o maior vulto da literatura brasileira), segundo a qual “a ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito”, inclino-me mais para a ideia de que o ladrão faz a ocasião.
Numa interpretação/análise grosseira (própria de quem, como eu, está longe de dominar com propriedade o tema em apreço), acerca da conduta humana e sua complexidade, tenho p´ra mim que os nossos comportamentos, desviantes ou não, são irreversivelmente determinados pelos genes. Quando, com alguma frequência, dizemos “aquele individuo bem me enganou!”, ou “quem diria!”, ficamos, incrédulos, a tentar perceber o porquê desta ou daquela pessoa nos deixar de boca aberta, porque se transfigurou.
Correndo o risco duma “comprometedora” teoria sobre o assunto, direi que nós, enquanto seres gregários e inevitavelmente sociais, comportamo-nos não segundo a nossa vontade e desejos, mas de acordo com as regras que a sociedade nos impõe. Pretendo com isto dizer que, por exemplo, há pessoas que vivem infelizes uma vida inteira, com a sexualidade reprimida, em casamentos de fachada, por nunca terem tido a coragem de sair do penoso calvário a que foram “condenados”.
À semelhança do que acontece com a sexualidade, existe também o fenómeno da personalidade reprimida, precisamente pelos mesmos motivos da primeira, em que, mais tarde ou mais cedo, o grito do Ipiranga, a revelação definitiva e transformadora, devolve o verdadeiro eu/identidade ao sujeito que se revela. Nestes casos, o espanto de quem assiste à abrupta e inimaginável transformação da personalidade, colhe o comentário: “esta não é a pessoa que eu conheci!”. Sim, pode não ser, pode parecer estranho, mas esta é a sua verdadeira essência.
E porque, ao contrário do que se pensa, os ditos populares, essa “riqueza imaterial intangível”, não encerram verdades absolutas, é seguro dizer que, no perfeito juízo, os genes, o garante do nosso “eu”, “jamais permitirão que bebamos de certas águas”. Como alternativa, há sempre um bom vinho na garrafeira.
Acreditemos ou não, e por maiores que possam ser os mistérios da mente humana, nada fica sem resposta. O verniz não estala como que por magia.
Apurados os factos em “sede própria”, e depois de se ter confirmado, para grande desgosto e desilusão de todos quantos julgavam tratar-se duma cabala, com motivações que podem ser de vária ordem, orquestrada por certas forças do Mal, o sujeito que, até então, tinha a folha limpa, foi mesmo tentado pelo vil metal.
Como que numa espécie de justificação/atenuante para aqueles que são tomados por tais momentos de fraqueza (um generoso eufemismo), é costume recorrer-se ao ditado popular “a ocasião faz o ladrão”. Totalmente em desacordo com o adágio, ou do ensinamento que lhe está associado, e não muito distante da opinião de Machado de Assis (provavelmente, o maior vulto da literatura brasileira), segundo a qual “a ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito”, inclino-me mais para a ideia de que o ladrão faz a ocasião.
Numa interpretação/análise grosseira (própria de quem, como eu, está longe de dominar com propriedade o tema em apreço), acerca da conduta humana e sua complexidade, tenho p´ra mim que os nossos comportamentos, desviantes ou não, são irreversivelmente determinados pelos genes. Quando, com alguma frequência, dizemos “aquele individuo bem me enganou!”, ou “quem diria!”, ficamos, incrédulos, a tentar perceber o porquê desta ou daquela pessoa nos deixar de boca aberta, porque se transfigurou.
Correndo o risco duma “comprometedora” teoria sobre o assunto, direi que nós, enquanto seres gregários e inevitavelmente sociais, comportamo-nos não segundo a nossa vontade e desejos, mas de acordo com as regras que a sociedade nos impõe. Pretendo com isto dizer que, por exemplo, há pessoas que vivem infelizes uma vida inteira, com a sexualidade reprimida, em casamentos de fachada, por nunca terem tido a coragem de sair do penoso calvário a que foram “condenados”.
À semelhança do que acontece com a sexualidade, existe também o fenómeno da personalidade reprimida, precisamente pelos mesmos motivos da primeira, em que, mais tarde ou mais cedo, o grito do Ipiranga, a revelação definitiva e transformadora, devolve o verdadeiro eu/identidade ao sujeito que se revela. Nestes casos, o espanto de quem assiste à abrupta e inimaginável transformação da personalidade, colhe o comentário: “esta não é a pessoa que eu conheci!”. Sim, pode não ser, pode parecer estranho, mas esta é a sua verdadeira essência.
E porque, ao contrário do que se pensa, os ditos populares, essa “riqueza imaterial intangível”, não encerram verdades absolutas, é seguro dizer que, no perfeito juízo, os genes, o garante do nosso “eu”, “jamais permitirão que bebamos de certas águas”. Como alternativa, há sempre um bom vinho na garrafeira.
Acreditemos ou não, e por maiores que possam ser os mistérios da mente humana, nada fica sem resposta. O verniz não estala como que por magia.
António Pires
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