sexta-feira, 30 de setembro de 2022

A montra da ilusão

 Por: Paula Freire
(colaboradora do Memórias...e outras coisas...)


Viu-se menina, num mundo imaginário, 
onde todas as formas tinham cor.
Mas a vida, é somente uma maneira frágil de existirmos. 
E os sonhos, o nosso coração à deriva a espreitar 
desejos esquecidos pelo mundo…

A montra da ilusão
encantou os olhos da menina!

A boneca de cera que sorria
derreteu-se nos olhos da menina,
o comboio de papel que corria
fugiu dos olhos da menina,
o cavalo de madeira que galopava
perdeu-se nos olhos da menina,
o vestido de cristais que brilhava
apagou-se nos olhos da menina.
E a menina, olhou os sorrisos de outras crianças
que levaram a sua montra da ilusão perdida.
E olhou as suas mãos
cheias de vazio e de nada…
E gritou:
“Ninguém quis oferecer-me
os meus sonhos de menina!”

A montra da ilusão
encantou os olhos da mocinha!

O livro de História que se abria
fechou-se nos olhos da mocinha,
a casa da aldeia que habitava
longe ficou dos olhos da mocinha,
a terra onde nasceu e onde morava
afogou-se no mar dos olhos da mocinha.
E a mocinha, olhou outras raparigas
que viviam dentro da sua montra da ilusão.
E olhou em seu redor
para o silêncio amargurado…
E falou:
“Ninguém soube oferecer-me
os meus sonhos de mocinha.”

A montra da ilusão
encantou os olhos da mulher!

O país onde feliz ela sonhava
explodiu nos olhos da mulher,
o sorriso dos pais que adorava
morreu nos olhos da mulher,
a luz da madrugada que se avizinhava
escureceu nos olhos da mulher,
os ideais para os filhos que tanto amava
saltaram dos olhos da mulher.
E a mulher, olhou o céu sagrado por cima de si,
com duas lágrimas de sal e poeira.
Desaparecera a sua montra da ilusão.
E apenas murmurou:
“Ninguém conseguiu viver
os meus sonhos de mulher...”


Paula Freire - Psicologia de formação, fotografia e arte de coração. Com o pensamento no papel, segue as palavras de Alberto Caeiro, 'a espantosa realidade das coisas é a minha descoberta de todos os dias'.

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