Dizem alguns que o ano, que teve durante milhões de milénios quatro estações bem distintas, está agora reduzido a duas: Verão e Inverno. Assim parece de facto, pela rapidez com que passamos do calor ao frio e do frio ao calor, sem o bálsamo de uns dias moderados de permeio, para a habituação.
Há muito de verdade nisso. É um facto que todos temos observado e sofrido. Mas que é sobretudo verdadeiro a nível climático. Porque a nível de paisagem, continua a haver, felizmente, as quatro estações, sendo que, em minha opinião, as que faltam no clima, a Primavera e o Outono, são justamente as mais belas por esses campos fora. Senão veja-se essa fotografia que é um autêntico hino à Primavera. É uma das inquilinas da minhas pasta das favoritas, com toda a justiça. Pode alguém ficar indiferente perante um quadro destes? Há razões para não se gostar dele, mas não decerto por razões estéticas. É que as giestas amarelas, que também se chamam maias, são uma planta tremendamente infestante, que tende a ocupar todo o espaço, numa espécie de monopolização do solo.
Sabendo disso, o nosso coração balança entre gostar das maias e abominá-las. Mas, se temos costela de amantes do belo, é muito grande a tentação de gostar, apesar do prejuízo que causam à lavoura. Esta escolha difícil entre gostar e abominar está condensada numa frase feita que se aplica em situações que tais: “Perdoo-lhe o mal que me faz pelo bem que me sabe.” É uma desculpa como qualquer outra desculpa... de mau pagador.
Este morro disputado pelo amarelo e o verde, que lembra uma dalmática bicolor, merece bem uma visita na Primavera, tanto mais que é vizinho, calhau com calhau, de outro morro que é um dos meus lugares de culto. Querem saber que lugar é esse? Está bem, eu digo. É o castelo de Algoso.
A. M. Pires Cabral
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