quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Hemodiálise em Mirandela e Mogadouro pode estar comprometida devido a dívida de milhões à Tecsam

 Pode estar comprometido o serviço de hemodiálise a mais de duas centenas de doentes com insuficiência renal que nas últimas duas décadas tem vindo a ser assegurado em Trás-os-Montes por três centros renais privados – em Mirandela, Mogadouro e Vila Real - com quem o Estado tem a prestação do serviço convencionado


A administração da TECSAM, empresa que presta serviços de hemodiálise a mais de 230 doentes com insuficiência renal de Trás-os-Montes e Alto Douro, contratualizados pelo Serviço Nacional de Saúde, está a atravessar uma grave crise financeira, resultante de uma dívida de quatro milhões de euros por parte de entidades estatais, que pode colocar em causa o serviço que presta nos três centros renais da região: Mirandela, Mogadouro e Vila Real.

O diretor executivo da TECSAM conta que só a Unidade Local de Saúde do Nordeste já deve cerca de três milhões de euros. “A dívida está largamente vencida, já que o último mês que foi pago foi o de novembro de 2021, quando o protocolo estabelecido prevê um pagamento a três meses”, adianta Jorge Cruz, acrescentando que também a Administração Regional de Saúde do Norte, com 800 mil euros e a ULS da Guarda com 300 mil euros, são as outras duas entidades com dívidas.

Aquele responsável confessa que pode estar em causa o serviço de hemodiálise. “Os fornecedores já nos fizeram o ultimato que não vão continuar a fornecer se a situação se mantiver”, adianta. Revela ainda que têm sido feitos contactos constantes com o propósito de perceber datas de pagamento ou previsões de pagamento, e não conseguiram obter resposta. O mesmo acontece com o Ministério da Saúde.

Esta situação tem vindo a arrastar-se desde 2011, mas “agudizou-se nos últimos dois anos”, refere, não escondendo que a situação é “desesperante”, admitindo mesmo que a TECSAM não tenha dinheiro para pagar os salários deste mês aos cerca de 150 funcionários. “Dentro de dois dias não temos dinheiro para pagar os impostos, ou seja, o Estado não cumpre para connosco, mas nós temos de cumprir, caso contrário no dia seguinte já estão a cair juros e coimas e neste momento não temos dinheiro sequer para vencimentos dos colaboradores”, lamenta.

O diretor executivo garante que estão “num beco sem saída”, lembrando que, no ano passado, a administração “entendeu injetar liquidez própria na empresa, agora já o fez novamente até ao limite da sua capacidade financeira, e não temos alternativa. Ou recebemos os valores que nos são devidos, ou não vamos conseguir manter o serviço”.

Jorge Cruz lamenta ainda que o Estado esteja a pagar devidamente a todas as unidades de hemodiálise da zona da Grande Lisboa, “o que nos entristece ainda mais porque sendo a TECSAM uma instituição que está no Interior Norte e ouvindo-se falar tanto em combater a desertificação e criando-se o ministério da coesão territorial para a combater, somos sempre prejudicados relativamente ao Litoral”.

Escrito por Terra Quente (CIR)

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