terça-feira, 22 de novembro de 2022

Anos atípicos podem ser cada vez mais frequentes e obrigar a repensar cultura da castanha

 A quebra de produção de castanha na nossa região é de 80 a 90%. Perante o cenário, a câmara de Bragança já tomou uma posição, pedindo medidas de apoio aos agricultores. Ainda assim, parece que ajudas imediatas não chegam... é preciso pensar a longo prazo porque o clima está a mudar


A campanha de apanha da castanha está já quase no fim e é agora que se percebem os verdadeiros danos. Manuel Fortes, que tem 10 hectares de soutos no Parâmio, no concelho de Bragança, para já, pensa seriamente no presente e admite que um apoio financeiro directo era muito bem-vindo. "Há famílias que vivem da produção de castanha, como o meu caso. A castanha é a minha fonte de rendimento. Precisávamos de um apoio a fundo perdido. As linhas de crédito não interessam porque depois é preciso repor o dinheiro".

O produtor, de 66 anos, admite que a quebra de produção é assombrosa. "Nós andamos, como se costuma dizer, ao rebusco. Não tenho memória de ver um ano assim. Nem os mais velhos têm lembrança disso. Há um castanheiro ou outro no meio do souto que tem uma castanha mas na nossa zona há soutos que davam dez sacas de castanhas e este ano têm um balde".

Abel Pereira, presidente da Arborea - Associação Agro-Florestal da Terra Fria Transmontana, confirma que há locais em que as quebras são muito acentuadas e já não há recuperação este ano. Considerando que 2022 já não será sequer um ano médio, em termos finais, está alarmado com o facto de, muito provavelmente, anos como este se repetirem com intervalos de tempo cada vez menores. "O ano de 2017 também foi dramático mas a produção era mais considerável. Passaram apenas cinco anos. A experiência diz-nos que não há anos iguais mas a tipicidade pode-nos trazer mais anos idênticos a 2022. não há dúvidas que este factores nos fazem pensar seriamente. O ciclo da castanha tinha aumentado duas semanas e agora voltou a atrasar cerca de duas a três semanas. São ciclos cada vez mais atípicos e menos previsíveis. Temos que repensar a estrutura dos recursos hídricos".

Albino Bento, presidente do Centro Nacional de Competências dos Frutos Seco, está certo de que um ano como está vai suceder mais vezes. Por isso, é preciso pensar a longo prazo, nomeadamente em rega. "Aquilo que dizem os modelos, relativamente às alterações climáticas, é que a frequência destas situações pode vir a agravar-se por isso temos que pensar seriamente na rega do castanheiro. Criarmos algumas zonas de captação podia resolver o problema de falta de água, no Verão, em algumas aldeias. Água essa que podia ser aproveitada para regar".

O cancro, a tinta e a vespa das galhas do castanheiro eram as grandes dores de cabeça, até agora, para os agricultores. Neste momento, as alterações climáticas estão a assustar muito mais quem produz.

Cerca de 85% da produção nacional de castanha tem origem na Terra Fria do Nordeste Transmontano.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Carina Alves

Sem comentários:

Enviar um comentário