terça-feira, 22 de novembro de 2022

E isto está bonito, está!

Por: António Pires 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Vivendo este nosso país numa Democracia consolidada, com quase meio século, é um paradoxo o reconhecimento de que vivemos, actualmente, como em nenhum outro período da nossa história, numa ditadura da palavra, da opinião e do pensamento. Hoje (quem diria!), como o grande perigo vem não das maiorias, mas do seu oposto, vejo-me obrigado, para minha segurança, a (mais) uma declaração de interesse, para não correr o risco de ser mimoseado com adjectivos que são a negação da minha personalidade: racismo, xenofobia e homofobia.
Porque, para mim, todo o homem é meu irmão, baseado no princípio cristão do tutti fratelli, não consigo aceitar a ideia de que o carácter de alguém seja julgado de acordo com a cor da sua pele, pela religião que professa, pela origem étnica ou pela sua orientação sexual. Considero, pois, estes três sentimentos os mais abomináveis da espécie humana; pelo que não consigo ter simpatia por quem os manifesta, seja velada ou de forma expressa. Como não sou nada dado às palavras de circunstância, nem adepto do politicamente correcto (eufemismo para hipocrisia), mentiria se dissesse que o racismo, a xenofobia e a homofobia eram um fenómeno sem expressão no nosso país.
Bem diferente é essa onda de falsa moralidade, muito na moda, duma certa gente que vê na mais inofensiva palavra ou gesto um acto de racismo, xenofobia e homofobia.  Mas não se pense que esta gente (à excepção da homofobia, onde, basicamente, se faz “juízo” em causa própria) toma as dores de quem é discriminado e sente na pele estes fenómenos. Não se pense que esta gente deixa de dormir o sono reparador, por causa das condições desumanas que vivem os moradores da Cova da Moura. A “causa” desta gente nada tem a ver com o bom samaritarismo, muito menos se inspiram na Madre Teresa de Calcutá. A defesa destes “oprimidos” tem um único propósito:  são números; rendem votos. Legitimados, pois, por tal instrumento da Democracia, esta malta toma assento parlamentar, produzindo legislação que nos remete, estupefactos, para a pergunta retórica: “onde é que isto vai parar?!”.
Há dias, estava numa esplanada, sozinho, a beber um copo. Na mesa ao lado, dois casais a conversar, mas não sei qual o tema. Naquele preciso momento, passou um jovem africano (supostamente aluno do IPB) bem - parecido, tendo suscitado o seguinte comentário dum dos elementos femininos da mesa: “olha que preto tão bonito!”. Qual não é o meu espanto, quando ouço a reacção/resposta da amiga: “tens que ter mais cuidado com o que dizes, pelo menos em público, porque agora dizer ´preto´ é crime, punível com uma multa de 300 euros”. Tens que dizer negro”.
Ainda nesta semana, passando, de relance, pelas redes sociais (lugar onde me sinto pouco confortável, atraído não mais do que pelos blogues de anedotas e gastronomia africana), vi uma anedota do Bocage, acerca de lésbicas, que alguém publicou. Como achei muita piada, em tom irónico, disse ao autor que lhe gabava a coragem por tê-lo feito. Dali a dois minutos, não mais, recebi o “troco” duma “meçoila”:”Olha só! Mais um homofóbico!”.
Por essa ordem de ideias, pobres dos brasileiros, que, julgo, hão-de ser acusados, por esses islamo-fundamentalistas que pupulam por aí, quais cogumelos em pinhais, de bullyng anedótico e xenofobia sobre os portugueses. Como tuga, só ficaria ofendido, se as anedotas não me fizessem rir. E o que dirão os gagos da canção brasileira do “gago me chámô”, tão popular no nosso Portugal?!
A ditadura da palavra é também o “regime” do actual feminismo. Neste aspecto, tenho alguma autoridade para me indignar, porquanto não há ninguém que defenda mais a Mulher, as causas e direitos, do que eu -  ao ponto de não conseguir negar que a nossa sociedade é culturalmente machista: chega-se, pois, ao cúmulo de, imagine-se, alguém defender e apelar, nos debates públicos televisivos, para que não se admitam brincadeiras e anedotas machistas. Ou seja: o ridículo desta gente chega ao ponto de querer pôr em causa “a existência literária, social e cultural da anedota”, parafraseando Arnaldo Saraiva.
Estou cada vez mais convencido que, por exemplo, estas campanhas de anti racismo, quando levadas ao extremo, no patamar do anedótico e do ridículo, não têm a simpatia nem a concordância dos supostos visados: os mais aclamados humoristas americanos são negros, e a maior parte do seu reportório é sobre a raça a que pertencem.
A última vez que fui a Vimioso, sede do meu concelho, aproveitei para meter combustível nas bombas à saída para Miranda – cujos donos são dois jovens irmãos simpáticos, de São Joanico, o Pedro e o Miguel. Depois de abastecer, arranquei e, inesperadamente, meteu-se à frente do carro um rapaz amigo, de nome João Martins, vimiosense, bombeiro de profissão, de cor de pele diferente da minha. Reação dele ao “incidente”: “Tu querias era f…..o preto!”. Perante a reação, estive mesmo para chamar a GNR, pelo acto de racismo cometido pelo João (risos). É impossível ser-se racista, conhecendo este ser humano, apenas diferente de mim na tonalidade da pele.
Confesso que estou a ficar sem paciência para os caprichos de certos betinhos perigosamente intolerantes, transformando a bondade duma causa nobre, que nos deve tocar a todos, numa causa ridícula e atontalhada.  E o que mais me assusta, como acérrimo defensor e amante da liberdade, é o facto destes tipos, uma minoria, produzirem legislação que vai contra o pensamento da maioria, fazendo com que esta se converta na sua alienação e tontice.  Para mal dos meus pecados, não consigo voltar para a ilha, como era o desejo do actor Carlos Areia, na memorável peça televisiva da SIC.
Sinceramente, gostava de ver esta gente a viver no Katar ou na Arábia Saudita.

António Pires


António Pires
, natural de Vale de Frades/S. Joanico, Vimioso. 
Residente em Bragança.
Liceu Nacional de Bragança, FLUP, DRAPN.

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