Por: Paula Freire
(colaboradora do Memórias...e outras coisas...)
Adivinha-se como num céu de sombras que o encobrem.
Uma nuvem permanente e imortal em fios estendidos pelo tempo da vida. Numa linha infinita, lenta, adormecida, como um cigarro na ponta dos dedos tomado pelo vagar do esquecimento.
Os sons que decoram o espaço onde sustenta a existência do corpo, são invisíveis, impermeáveis e distantes, agarrados por uma corda que poderia soltar a qualquer momento. Mas não o faz. Porque tem medo da verdade, da solidão inacabada que o devora pelos olhares magoados e vazios dos que o aguardam.
Deu-se a si mesmo um sorriso irónico, enquanto abanou a cabeça desmaiada de tantos pensamentos a arderem-lhe na palidez seca das têmporas.
Quantos amores bêbados de mentira perdidos por este mundo cansado! Juntasse-se-lhe a eles, com pompa e circunstância, e fariam a festa de um circo com muitas palmas.
Sim, talvez fosse mais feliz assim, cheio de palavras inúteis, vozes lúgubres ou tontas e palcos feitos de cartas. Casas de príncipes sem reino, onde o engano é pilar construído por ilustres inverdades.
Inventaram-no dessa forma trôpega quando veio ao mundo, ou ter-se-á adornado a si mesmo das vestes simples que lhe deixam a alma tão a descoberto de tantos frios?
Talvez nunca o saiba com toda a certeza. Seriam precisas muitas vidas, dissera-lhe, um dia, uma velha cigana. Afinal, quantas línguas falas, meu filho? Questionara-o na sua voz rouca, com a mão desprendida sobre os olhos longínquos dele.
Nesse momento, soube por fim que, aqui nesta viagem, seria sempre um fiel desconhecido, de malas feitas, por estrada nenhuma…
Uma nuvem permanente e imortal em fios estendidos pelo tempo da vida. Numa linha infinita, lenta, adormecida, como um cigarro na ponta dos dedos tomado pelo vagar do esquecimento.
Os sons que decoram o espaço onde sustenta a existência do corpo, são invisíveis, impermeáveis e distantes, agarrados por uma corda que poderia soltar a qualquer momento. Mas não o faz. Porque tem medo da verdade, da solidão inacabada que o devora pelos olhares magoados e vazios dos que o aguardam.
Deu-se a si mesmo um sorriso irónico, enquanto abanou a cabeça desmaiada de tantos pensamentos a arderem-lhe na palidez seca das têmporas.
Quantos amores bêbados de mentira perdidos por este mundo cansado! Juntasse-se-lhe a eles, com pompa e circunstância, e fariam a festa de um circo com muitas palmas.
Sim, talvez fosse mais feliz assim, cheio de palavras inúteis, vozes lúgubres ou tontas e palcos feitos de cartas. Casas de príncipes sem reino, onde o engano é pilar construído por ilustres inverdades.
Inventaram-no dessa forma trôpega quando veio ao mundo, ou ter-se-á adornado a si mesmo das vestes simples que lhe deixam a alma tão a descoberto de tantos frios?
Talvez nunca o saiba com toda a certeza. Seriam precisas muitas vidas, dissera-lhe, um dia, uma velha cigana. Afinal, quantas línguas falas, meu filho? Questionara-o na sua voz rouca, com a mão desprendida sobre os olhos longínquos dele.
Nesse momento, soube por fim que, aqui nesta viagem, seria sempre um fiel desconhecido, de malas feitas, por estrada nenhuma…
Paula Freire - Natural de Lourenço Marques, Moçambique, reside atualmente em Vila Nova de Gaia, Portugal.
Com formação académica em Psicologia e especialização em Psicoterapia, dedicou vários anos do seu percurso profissional à formação de adultos, nas áreas do Desenvolvimento Pessoal e do Autoconhecimento, bem como à prática de clínica privada.
Filha de gentes e terras alentejanas por parte materna e com o coração em Trás-os-Montes pelo elo matrimonial, desde muito cedo desenvolveu o gosto pela leitura e pela escrita, onde se descobre nas vivências sugeridas pelos olhares daqueles com quem se cruza nos caminhos da vida, e onde se arrisca a descobrir mistérios escondidos e silenciosas confissões. Um manancial de emoções e sentimentos tão humanos, que lhe foram permitindo colaborar em meios de comunicação da imprensa local com publicações de textos, crónicas e poesias.
O desenho foi sempre outra das suas paixões, sendo autora das imagens de capa de duas obras lançadas pela Editora Imagem e Publicações em 2021: Cultura sem Fronteiras (coletânea de literatura e artes) e Nunca é Tarde (poesia).
Prefaciadora do romance Amor Pecador, de Tchiza (Mar Morto Editora, Angola, 2021) e da obra poética Pedaços de Mim, de Reis Silva (Editora Imagem e Publicações, 2021).
Autora do livro de poesia Lírio: Flor-de-Lis (Editora Imagem e Publicações, 2022).
Em setembro de 2022, a convite da Casa da Beira Alta, realizou, na cidade do Porto, uma exposição de fotografia sob o título: "Um Outono no Feminino: de Amor e de Ser Mulher".
Atualmente, é colaboradora regular do blogue "Memórias... e outras coisas..."-Bragança, da Revista HeliMagazine e da Revista Vicejar (Brasil).
Há alguns anos, descobriu-se no seu amor pela arte da fotografia onde, de forma autodidata, aprecia retratar, em particular, a beleza feminina e a dimensão artística dos elementos da natureza, sendo administradora da página de poesia e fotografia, Flor De Lyz.
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