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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Gilberto Ferreira: “Aprendi a cutelaria testando e errando”

 É junto ao rio Pepim que o cutileiro Gilberto Ferreira tem a sua oficina. Local onde este artífice controla todos os passos de produção de objetos muito estimados e procurados por mestres da cozinha. São tesouros que nasceram por tentativa e erro - e basta-lhe um martelo, uma rebarbadeira e uma forja.

Gilberto Ferreira, cutileiro, trabalha como cutileiro em Aveleda, Bragança. (Fotografia de Leonel de Castro/Global Imagem)

O invejável silêncio instalado na aldeia de Aveleda, incrustada no belíssimo Parque Natural de Montesinho, é interrompido a espaços pelo bater do martelo no aço. Quando as mãos de Gilberto Ferreira amanham outra tarefa, é o correr acelerado do rio Pepim que se faz ouvir. A pacatez desta povoação de Bragança ajuda o cutileiro a concentrar-se. É preciso minucioso rigor e redobrada atenção para, dominando os quatro elementos (ar, água, terra e fogo), dar corpo (e alma) a navalhas e facas totalmente artesanais. Há quem por elas pague milhares de euros. Porquê? Tem a palavra Gilberto, o “alquimista”.

(Fotografia de Leonel de Castro/Global Imagem)
(Fotografia de Leonel de Castro/Global Imagem)

De onde vem esta paixão pelas facas e pelas navalhas?
Um transmontano tem que andar sempre com a navalhinha na mão. Comecei a comprá-las, para coleção, desde muito novo. Surgiu-me a ideia de as querer fazer com as minhas próprias mãos. Tentei uma vez ou duas, mas a coisa não me saía bem. Fui desistindo, mas chegou um momento em que disse: tenho que ser capaz! E fui!

Fez alguma formação, ou foi sempre aprendendo por moto próprio?
Nunca fiz qualquer formação. Aprendi a cutelaria testando e errando. Estraguei muito até chegar onde queria, mas valeu a pena estragar. Fiquei a conhecer todas as áreas, das madeiras aos aços.

Costuma dizer que um transmontano precisa sempre de uma navalha para cortar o presunto e que, para si, andar sem navalha é como andar sem telemóvel.
[Risos] É isso mesmo! Uso a navalha para tudo: fatiar o pão, cortar um baraço, descascar uma maçã.

Tem que dominar bem os quatros elementos da Natureza para fazer o seu trabalho: o fogo e a água para domar o aço, o ar para aquecer o carvão e a terra para o fazer. É assim uma espécie de alquimista.
[Risos] Nunca tinha pensado nisso, mas é verdade. Tenho colegas que não conseguem trabalhar se não tiverem uma oficina cuja montagem custa um milhão de euros. A mim basta-me um martelo, uma rebarbadeira e uma forja.

Produz o seu próprio carvão. Como é que isso se faz?
Pegamos na raiz da urze, a que chamamos cepa, enterramos numa poça de terra e deixamos queimar até ficar incandescente. Além de ter maior durabilidade, este carvão permite-nos chegar a temperaturas mais elevadas, o que é fundamental para trabalhar o aço.

(Fotografia de Leonel de Castro/Global Imagem)

Quem são os seus principais clientes?
É um leque muito alargado. Trabalho cada vez mais para a restauração, sobretudo para restaurante de luxo. Trabalho com o Óscar Geadas [chef do restaurante G, em Bragança, uma estrela Michelin] com o Ricardo Costa [chef de The Yeatman, Vila Nova de Gaia, duas estrelas Michelin], com o Hans Neuner [chef do Ocean, Porches, duas estrelas Michelin], entre outros, nacionais e estrangeiros.

Os chefs têm exigências próprias, ou confiam cegamente no seu trabalho?
Há os que me dizem apenas que querem uma faca para isto ou para aquilo. E há os que mandam o desenho da faca que pretendem.

Qual é o valor de cada peça que vende para esses restaurantes?
À volta de 100 euros.

(Fotografia de Leonel de Castro/Global Imagem)

A peça mais cara que já vendeu custou quanto a quem a comprou?
Alguns milhares de euros [risos]. Foi um cliente que me pediu para incrustar diamantes no cabo. Ficou lindíssima. Foi o pedido mais fora da caixa que tive: marfim, damasco e diamantes.

O faqueiro lá de casa é todo feito por si?
Não, não. O único que tem uma faca, um garfo e uma colher feitos por mim é o meu filho de cinco anos. Ele adora.

Navalhas Gilberto Ferreira
A oficina situa-se na Rua do Santo, 19, em Aveleda, Bragança. Mesmo ao lado está a loja com centenas de facas e navalhas expostas. Email: navalhasgferreira@gmail.com. Antes de ir, espreite o site navalhasgferreira.pt.

Paulo Ferreira

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