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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 2 de março de 2023

Carnaval de Bragança, “rituais satânicos” e, crimes sociais

 Se há eventos carnavalescos originais que fazem sentido para a promoção turística e preservação das tradições, são efetivamente os de Podence e, a “Queima do Mascareto” em Bragança, entre outros. Como diz o investigador Pinelo Tiza [2015], “o ciclo festivo do Inverno compreende, no Nordeste Transmontano, o período que se inicia no solstício e se prolonga até ao S. Sebastião, com maior incidência nos dias de Natal, Santo Estêvão, Ano Novo e Epifania. Aqui, continua o autor, “o sagrado e o profano surgem relacionados de forma “sui generis”. O mesmo não se pode dizer do evento “Bragança, Terra Natal e de Sonhos”, que acaba por ser mais um sucedâneo de outros produtos importados e, sem enraizamento na história local.
Dizer que “o Carnaval de Bragança se transformou num ritual satânico, à custa dos Caretos que nada têm a ver com o caso, isco para dar corpo e forma a um espetáculo degradante, que em nada representa a cultura do povo brigantino” [FERREIRA, 20/02/2023] é falso e insultuoso, pois deprecia as tradições de Inverno de Trás-os-Montes e, não quer perceber que se trata de uma “performance” artística, com a sua exuberância natural, para atrair pessoas, favorecer o comércio local e, preservar tradições que é isso que se pretende. Eu, também apenas vi as bonitas fotos do amigo Fernando Pimparel e, contrariamente, a quem tanto se enojou, gostei do que vi.
Quando li pela primeira vez o artigo em questão confesso que fiquei enregelado e, pensei: será que ressuscitaram a Inquisição e, eu não dei por isso? Então só vêm símbolos satânicos nas estrelas de 5 pontas e, nas mulheres com pés de cabra? Será que desconhecem a tão rica tradição oral transmontana? Para quem se escandaliza facilmente com estas coisas, recomendo a leitura do livro do estudioso Vinhaense Roberto Afonso, “(Às) Contas com Almas Penadas e Diabos, Bruxas e Maus-olhados”, pelo menos fica a saber que o confronto entre o bem e o mal são uma constante no nosso imaginário e, os mascarados sempre andaram por aqui lado a lado, entre o sacro e o profano.
Será que com a mesma objetividade conseguimos ver o diabo, nos contratos de trabalho temporário que se eternizam sem qualquer justificação? Será que não vemos o pai da mentira e do medo, na coação para não falar de assuntos sociais sérios que importam às pessoas da nossa região? E, o demo que se escondeu “na fuga dos impostos” e, na “venda danosa” das barragens do Douro? E, a fuga constante das instituições Brigantinas para o litoral, não é ela bem diabólica? E, o demo do comboio que teima em não passar por aqui? E, o mafarrico do despovoamento? E, o canhoto que se instalou com a falta de natalidade persistente? Neste fogo, onde não ardem bonecos de palha, nem se queimam pentagramas, mas pessoas, aqui sim o céu obscurece-se a cada dia que passa! Não serão os crimes sociais bem mais diabólicos, que um simples espetáculo preformativo? Não estará porventura nestes crimes o diabo bem mais enraizado? Porque teimamos em não o ver?

Pe. Estevinho Pires

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