O Diabo é, inclusivamente, apresentado como capaz de sentimentos positivos, como por exemplo a gratidão. Como nesta conta:
Era uma vez um homem que tinha por costume, quando dava esmola aos santos, deixar também uma parte para o Diabo.
Um dia passou por uma estalagem, cheio de fome e sem dinheiro, e pediu ao estalajadeiro que lhe fritasse uns ovos, que lhos pagaria da próxima vez que ali passasse.
O estalajadeiro fritou-lhe os ovos, mas não esteve para esperar que ele voltasse a passar por ali e meteu-o em tribunal, dizendo que lhe devia uma conta calada, porque dos ovos que lhe fritara podiam ter nascido galinhas, e essas galinhas podiam ter posto mais ovos, e desses ovos podiam ter nascido mais galinhas, e assim por diante. Segue-se que o homem não tinha por onde pagar, e andava muito triste, com medo que o juiz o mandasse para a cadeia. Então o Diabo, sabedor do caso, veio ter com o homem e disse-lhe que no dia do julgamento estaria lá para o defender como advogado. Mas o dia do julgamento chegou e o advogado sem aparecer. O juiz estava já para mandar o homem para a cadeia, quando o Diabo apareceu todo enfuliçado.
− Vossemecê porque é que demorou tanto? – procurou-lhe o juiz.
− Porque inda estive a assar umas castanhas para plantar – respondeu o Diabo.
− Ó homem, então vossemecê não sabe que castanhas assadas não dão castanheiros?
− Sei, sim senhor. E também sei que ovos fritos não dão pitos.
O juiz entendeu e mandou o réu em paz. Quando o homem foi procurar ao Diabo quanto lhe devia, teve esta resposta:
− Tu já pagaste, porque nunca te esquecias de mim quando davas a esmola aos santos da tua devoção. E olha: eles têm-te faltado algumas vezes. Eu não te faltei, quando precisaste de mim.»
Esta comparação do procedimento do Diabo com o dos santos — comparação de que o Diabo sai vencedor — é bem possível que causasse a sua urticariazinha às forças paroquiais, que falariam talvez de blasfémia, sacrilégio, impiedade. Mas nem por isso o povo — justiça lhe seja feita — deixou de contar esta história tão pouco ortodoxa e tão saborosa — e tão surpreendente, ao atribuir sentimentos generosos a quem se diria menos capaz deles. Mas afinal de que é que é incapaz o Diabo? Ele é capaz de tudo e mais alguma coisa, e uma maneira que o povo tem de exprimir essa convicção é o provérbio “o Diabo é tendeiro”. A palavra ‘tendeiro’ cobre tudo o que o povo possa e queira imaginar.
O Diabo é, inclusivamente, apresentado como capaz de sentimentos positivos, como por exemplo a gratidão. Como nesta conta:
O diabo advogado
Era uma vez um home que tinha por costume, quando dava esmola aos santos, deixar também uma parte para o Diabo.
Um dia passou por uma estalagem, cheio de fome e sem dinheiro, e pediu ao estalajadeiro que lhe fritasse uns ovos, que lhos pagaria da próxima vez que ali passasse.
O estalajadeiro fritou-lhe os ovos, mas não esteve para esperar que ele voltasse a passar por ali e meteu-o em tribunal, dizendo que lhe devia uma conta calada, porque dos ovos que lhe fritara podiam ter nascido galinhas, e essas galinhas podiam ter posto mais ovos, e desses ovos podiam ter nascido mais galinhas, e assim por diante. Segue-se que ele não tinha por onde pagar, e andava muito triste, com medo que o juiz o mandasse para a cadeia. Então o Diabo, sabedor do caso, veio ter com o homem e disse-lhe que no dia do julgamento estaria lá para o defender como advogado. Mas o dia do julgamento chegou e o advogado sem aparecer. O juiz estava já para mandar o homem para a cadeia, quando ele apareceu todo enfuliçado.
− Vossemecê porque é que demorou tanto? – procurou-lhe o juiz.
− Porque inda estive a assar umas castanhas para plantar – respondeu o Diabo.
− Ó homem, então vossemecê não sabe que castanhas assadas não dão castanheiros?
− Sei, sim senhor. E também sei que ovos fritos não dão pitos.
O juiz entendeu e mandou o réu em paz. Quando o homem lhe foi a procurar ao Diabo quanto lhe devia, teve esta resposta:
− Tu já pagaste, porque nunca te esquecias de mim quando davas a esmola aos santos da tua devoção. E olha: eles têm-te faltado algumas vezes. Eu não te faltei, quando precisaste de mim.»
Esta comparação do procedimento do Diabo com o dos santos — comparação de que o Diabo sai vencedor — é bem possível que causasse a sua urticariazinha às forças paroquiais, que falariam talvez de blasfémia, sacrilégio, impiedade. Mas nem por isso o povo — justiça lhe seja feita — deixou de contar esta história tão pouco ortodoxa e tão saborosa — e tão surpreendente, ao atribuir sentimentos generosos a quem se diria menos capaz deles. Mas afinal de que é que é incapaz o Diabo? Ele é capaz de tudo e mais alguma coisa, e uma maneira que o povo tem de exprimir essa convicção é o provérbio “o Diabo é tendeiro”. A palavra ‘tendeiro’ cobre tudo o que o povo possa e queira imaginar.
Era uma vez um homem que tinha por costume, quando dava esmola aos santos, deixar também uma parte para o Diabo.
Um dia passou por uma estalagem, cheio de fome e sem dinheiro, e pediu ao estalajadeiro que lhe fritasse uns ovos, que lhos pagaria da próxima vez que ali passasse.
O estalajadeiro fritou-lhe os ovos, mas não esteve para esperar que ele voltasse a passar por ali e meteu-o em tribunal, dizendo que lhe devia uma conta calada, porque dos ovos que lhe fritara podiam ter nascido galinhas, e essas galinhas podiam ter posto mais ovos, e desses ovos podiam ter nascido mais galinhas, e assim por diante. Segue-se que o homem não tinha por onde pagar, e andava muito triste, com medo que o juiz o mandasse para a cadeia. Então o Diabo, sabedor do caso, veio ter com o homem e disse-lhe que no dia do julgamento estaria lá para o defender como advogado. Mas o dia do julgamento chegou e o advogado sem aparecer. O juiz estava já para mandar o homem para a cadeia, quando o Diabo apareceu todo enfuliçado.
− Vossemecê porque é que demorou tanto? – procurou-lhe o juiz.
− Porque inda estive a assar umas castanhas para plantar – respondeu o Diabo.
− Ó homem, então vossemecê não sabe que castanhas assadas não dão castanheiros?
− Sei, sim senhor. E também sei que ovos fritos não dão pitos.
O juiz entendeu e mandou o réu em paz. Quando o homem foi procurar ao Diabo quanto lhe devia, teve esta resposta:
− Tu já pagaste, porque nunca te esquecias de mim quando davas a esmola aos santos da tua devoção. E olha: eles têm-te faltado algumas vezes. Eu não te faltei, quando precisaste de mim.»
Esta comparação do procedimento do Diabo com o dos santos — comparação de que o Diabo sai vencedor — é bem possível que causasse a sua urticariazinha às forças paroquiais, que falariam talvez de blasfémia, sacrilégio, impiedade. Mas nem por isso o povo — justiça lhe seja feita — deixou de contar esta história tão pouco ortodoxa e tão saborosa — e tão surpreendente, ao atribuir sentimentos generosos a quem se diria menos capaz deles. Mas afinal de que é que é incapaz o Diabo? Ele é capaz de tudo e mais alguma coisa, e uma maneira que o povo tem de exprimir essa convicção é o provérbio “o Diabo é tendeiro”. A palavra ‘tendeiro’ cobre tudo o que o povo possa e queira imaginar.
O Diabo é, inclusivamente, apresentado como capaz de sentimentos positivos, como por exemplo a gratidão. Como nesta conta:
O diabo advogado
Era uma vez um home que tinha por costume, quando dava esmola aos santos, deixar também uma parte para o Diabo.
Um dia passou por uma estalagem, cheio de fome e sem dinheiro, e pediu ao estalajadeiro que lhe fritasse uns ovos, que lhos pagaria da próxima vez que ali passasse.
O estalajadeiro fritou-lhe os ovos, mas não esteve para esperar que ele voltasse a passar por ali e meteu-o em tribunal, dizendo que lhe devia uma conta calada, porque dos ovos que lhe fritara podiam ter nascido galinhas, e essas galinhas podiam ter posto mais ovos, e desses ovos podiam ter nascido mais galinhas, e assim por diante. Segue-se que ele não tinha por onde pagar, e andava muito triste, com medo que o juiz o mandasse para a cadeia. Então o Diabo, sabedor do caso, veio ter com o homem e disse-lhe que no dia do julgamento estaria lá para o defender como advogado. Mas o dia do julgamento chegou e o advogado sem aparecer. O juiz estava já para mandar o homem para a cadeia, quando ele apareceu todo enfuliçado.
− Vossemecê porque é que demorou tanto? – procurou-lhe o juiz.
− Porque inda estive a assar umas castanhas para plantar – respondeu o Diabo.
− Ó homem, então vossemecê não sabe que castanhas assadas não dão castanheiros?
− Sei, sim senhor. E também sei que ovos fritos não dão pitos.
O juiz entendeu e mandou o réu em paz. Quando o homem lhe foi a procurar ao Diabo quanto lhe devia, teve esta resposta:
− Tu já pagaste, porque nunca te esquecias de mim quando davas a esmola aos santos da tua devoção. E olha: eles têm-te faltado algumas vezes. Eu não te faltei, quando precisaste de mim.»
Esta comparação do procedimento do Diabo com o dos santos — comparação de que o Diabo sai vencedor — é bem possível que causasse a sua urticariazinha às forças paroquiais, que falariam talvez de blasfémia, sacrilégio, impiedade. Mas nem por isso o povo — justiça lhe seja feita — deixou de contar esta história tão pouco ortodoxa e tão saborosa — e tão surpreendente, ao atribuir sentimentos generosos a quem se diria menos capaz deles. Mas afinal de que é que é incapaz o Diabo? Ele é capaz de tudo e mais alguma coisa, e uma maneira que o povo tem de exprimir essa convicção é o provérbio “o Diabo é tendeiro”. A palavra ‘tendeiro’ cobre tudo o que o povo possa e queira imaginar.
(Continua. Já começam a ficar cansados?)
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