Este fim de semana deu mote à primeira feira em sua homenagem, que aconteceu na aldeia de Vale de Prados, no concelho macedense, e atraiu vários visitantes.
Farinha, ovos, azeite, fermento de padeiro, ou massa mãe, açúcar ou mel, e a raspa de laranja são os ingredientes que estão na base desta iguaria, que é tradição por estas terras, mas em cada casa é feita de uma maneira, como explica o gastrónomo Virgílio Nogueiro Gomes:
“É uma tradição local simples que pode ser enobrecida, e partir do calço por Vale de Prados e Macedo de Cavaleiros, numa perspetiva nacional, com um doce diferente.
Quase todas as terras têm um doce associado à Páscoa, que começa de uma massa de pão que depois é enriquecida. É esse enriquecimento e a forma que se lhe dá que os diferem.
Cada casa tem a sua perspetiva de receita. Os produtos são básicos mas as proporções são diferentes, pois antigamente não havia balanças nem análise de gramagem, era a olho.”
Na tarde de sábado, a chef Justa Nobre, filha daquela terra, onde já não passava a Páscoa há mais de 50 anos, realizou um showcooking com dicas para reaproveitar o calço, quando já está duro:
“Começando por uma torrada com manteiga para o pequeno-almoço, ou então fazer uma tosta mista com duas fatias de calço, um pouco de queijo e outro de marmelada.
Criei dois bolinhos de chá para festas de crianças com aproveitamento de calço. Podem picá-lo, colocar em saquinhos plásticos e congelar.
Quando já tiverem saudades de comer alguma coisa a saber a calço há duas receitas. Para uma delas basta juntar manteiga, amassar e pôr um pouco mais de raspa de laranja, canela e mel, amassa-se novamente, fazem-se umas bolinhas que podem ser recheadas com mel, passam-se por ovos e amêndoa ralada e fritam-se.
Outra consiste em fazer um puré de cenoura, fazer um ponto de açúcar, juntamos o puré, o calço picado, umas gemas de ovo e deixamos secar. Depois de estar frio juntamos algum coco ralado e é como se estivéssemos a comer uns queijinhos de ovos.”
O objetivo é certificar o calço e, para isso, ao longo deste ano vai ser feita uma recolha de receitas para se poder oficializar uma única e, assim, dar seguimento à candidatura.
Durante os dois dias do fim de semana marcaram presença no certame 16 expositores, oito de calço e os restantes com produtos regionais.
Maria Meireles e Amália Silva são naturais de Vale de Prados e não perderam a oportunidade de se juntar à feira para vender alguns produtos:
“Trouxe calços, folares, bolas de azeitona, bolas sovadas, económicos, feijão frade, batata e grão-de-bico.
O calço é confecionado aqui na aldeia desde sempre, já a minha mãe fazia e nesta altura era levado para quem fosse abrir as vinhas, que era um trabalho cansativo. Era um reforço.
Parabéns a quem teve esta iniciativa, foi muito boa.”
“Folar, económicos, calços, pão de centeio e pão de trigo.
Esta feira foi algo bom que nunca tinham feito.
Eu vendi bem os meus produtos.”
“Páscoa D’Outrora – Tradições e Gastronomia” foi o nome do certame que durante os dois dias do fim de semana não só deu destaque ao calço mas também à leitura e dramatização da Queima do Judas, que não se perdeu naquela aldeia.
Houve ainda uma caminhada, a inauguração de uma exposição de fotografia, demonstrações gastronómicas, animação musical e recriação de jogos tradicionais.
Sem comentários:
Enviar um comentário