terça-feira, 11 de abril de 2023

Calço foi o rei da “Páscoa D’Outrora” que decorreu na aldeia de Vale de Prados

 O calço é uma rosca doce, em forma de ferradura, típica do concelho de Macedo de Cavaleiros, que tal como o folar, é indispensável na mesa de muitos transmontanos por altura da Páscoa.


Este fim de semana deu mote à primeira feira em sua homenagem, que aconteceu na aldeia de Vale de Prados, no concelho macedense, e atraiu vários visitantes.

Farinha, ovos, azeite, fermento de padeiro, ou massa mãe, açúcar ou mel, e a raspa de laranja são os ingredientes que estão na base desta iguaria, que é tradição por estas terras, mas em cada casa é feita de uma maneira, como explica o gastrónomo Virgílio Nogueiro Gomes:

“É uma tradição local simples que pode ser enobrecida, e partir do calço por Vale de Prados e Macedo de Cavaleiros, numa perspetiva nacional, com um doce diferente.

Quase todas as terras têm um doce associado à Páscoa, que começa de uma massa de pão que depois é enriquecida. É esse enriquecimento e a forma que se lhe dá que os diferem.

Cada casa tem a sua perspetiva de receita. Os produtos são básicos mas as proporções são diferentes, pois antigamente não havia balanças nem análise de gramagem, era a olho.”

Na tarde de sábado, a chef Justa Nobre, filha daquela terra, onde já não passava a Páscoa há mais de 50 anos, realizou um showcooking com dicas para reaproveitar o calço, quando já está duro:

“Começando por uma torrada com manteiga para o pequeno-almoço, ou então fazer uma tosta mista com duas fatias de calço, um pouco de queijo e outro de marmelada.

Criei dois bolinhos de chá para festas de crianças com aproveitamento de calço. Podem picá-lo, colocar em saquinhos plásticos e congelar.

Quando já tiverem saudades de comer alguma coisa a saber a calço há duas receitas. Para uma delas basta juntar manteiga, amassar e pôr um pouco mais de raspa de laranja, canela e mel, amassa-se novamente, fazem-se umas bolinhas que podem ser recheadas com mel, passam-se por ovos e amêndoa ralada e fritam-se.

Outra consiste em fazer um puré de cenoura, fazer um ponto de açúcar, juntamos o puré, o calço picado, umas gemas de ovo e deixamos secar. Depois de estar frio juntamos algum coco ralado e é como se estivéssemos a comer uns queijinhos de ovos.”                                  

O objetivo é certificar o calço e, para isso, ao longo deste ano vai ser feita uma recolha de receitas para se poder oficializar uma única e, assim, dar seguimento à candidatura.

Durante os dois dias do fim de semana marcaram presença no certame 16 expositores, oito de calço e os restantes com produtos regionais.

Maria Meireles e Amália Silva são naturais de Vale de Prados e não perderam a oportunidade de se juntar à feira para vender alguns produtos:

“Trouxe calços, folares, bolas de azeitona, bolas sovadas, económicos, feijão frade, batata e grão-de-bico.

O calço é confecionado aqui na aldeia desde sempre, já a minha mãe fazia e nesta altura era levado para quem fosse abrir as vinhas, que era um trabalho cansativo. Era um reforço.

Parabéns a quem teve esta iniciativa, foi muito boa.”

“Folar, económicos, calços, pão de centeio e pão de trigo.

Esta feira foi algo bom que nunca tinham feito.

Eu vendi bem os meus produtos.”

“Páscoa D’Outrora – Tradições e Gastronomia” foi o nome do certame que durante os dois dias do fim de semana não só deu destaque ao calço mas também à leitura e dramatização da Queima do Judas, que não se perdeu naquela aldeia.

Houve ainda uma caminhada, a inauguração de uma exposição de fotografia, demonstrações gastronómicas, animação musical e recriação de jogos tradicionais.

Escrito por ONDA LIVRE

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