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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 20 de maio de 2023

4.º BISPO DE MIRANDA - Desde 16 de Janeiro de 1565 a 1579 (pelo menos)

 D. António Pinheiro – Lente de retórica no colégio de Santa Bárbara da Universidade de Paris, onde se doutorou, capelão-mor, pregador e mestre do príncipe D. João, filho de D. João III, cronista-mor do reino, guarda-mor do arquivo real da Torre do Tombo, visitador e reformador da Universidade de Coimbra, secretário de Estado, do conselho de Estado, desembargador da casa de Suplicação, deputado da Mesa da Consciência e bispo de Miranda e Leiria (43).
Nasceu em Porto de Mós, distrito de Leiria, e morreu em Lisboa, dia 9 de Novembro de 1582 ou Janeiro de 1583.


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(43) SANTA MARIA, Francisco de – Ano Histórico, vol. III, p. 315. Estatutos da Sé de Miranda. BARBOSA – Biblioteca Lusitana, tomo I, p. 353.
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Inocêncio, no seu Diccionario Bibliographico, diz que «não foi ainda possível discriminar a época da sua morte, que deve ser de 1581 a 1583»; o autor do Ano Histórico assinala-lhe apenas o dia 9 de Novembro, sem indicar o ano, e o Portugal Antigo e Moderno, artigo «Porto de Mós», diz que teve lugar a 6 de Novembro de 1582 ou Janeiro de 1583. O Dicionário Popular, de Pinheiro Chagas, diz que morreu a 9 de Dezembro de 1582.
O seu cadáver foi trasladado para a capela de S. Sebastião, por ele mandada edificar, na igreja de S. Pedro de Porto de Mós, onde jaz. O Catálogo que vem junto às Constituições, que tem o Quina de Argozelo, lembra que alguns o dão como natural de Vinhais.
Era filho de Pedro Vaz do Couto e de Leonor Álvares Pinheiro, neto paterno de Brás Anes do Couto, e materno de Álvaro Fernandes Pinheiro, padroeiro da capela de S. Sebastião, onde o bispo foi sepultado. Teve por irmão Álvaro Fernandes Pinheiro, fidalgo da casa real, ascendente de Manuel António Pinheiro da Câmara, governador de Cabo Verde, Penamacor e Moura(44). Procedia dos Pinheiros de Aragão, que têm por armas: em campo de prata, cinco pinheiros da sua cor postos em santor; timbre, um dos pinheiros (45).
D. Leonor Pinheiro, sobrinha deste bispo, por ser filha de seu irmão Álvaro Fernandes Pinheiro, casou em Vinhais com Duarte Ferreira de Morais, fidalgo da casa real, senhor do morgado de Tuizelo, instituído por Duarte Rodrigues de Morais e Catarina Gonçalves (46). Será da confusão desta notícia que provém o equívoco de assinar alguns Vinhais como berço de origem a D. António Pinheiro? Devemos advertir que em Tuizelo instituiu anos depois, 1690, um outro morgadio, o doutor André de Morais Sarmento.
Inocêncio, já citado, diz que há dúvidas se D. António foi cronista-mor, cargo que Barbosa, na Biblioteca Lusitana, já citada, lhe atribui.
Parece-nos que esta dúvida não tem razão de ser, porque, além de serem muitos e de peso os escritores que o dão como tal, Silvestre Ribeiro, que no assunto tem voto decisivo, diz-nos que Pinheiro foi nomeado cronista-mor do reino por D. João III, em carta de 16 de Julho de 1550, com o ordenado maior do que o dos seus antecessores, aumentado pelo mesmo monarca até 50$000 réis, mandando-lhe, além disso, abonar papel, pergaminho, tinta e 6$000 réis para um amanuense (47).

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(44) ABREU, Fernando de, Frei – Catálogo….
(45) SANCHES DE BAENA – Arquivo Heráldico Genealógico, parte II, p. 140.
(46) BORGES – Descrição Topográfica…
(47) RIBEIRO, Silvestre – História dos Estabelecimentos…, vol. VI, «Cronistas-móres», p. 299.
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Também em O Panorama(48) se encontra um artigo sobre Damião de Góis, que deixa ver em como o nosso bispo foi cronista-mor.
Mas para que mais, se o próprio Góis (49) nos diz que Rui de Pina, cronista do reino, fora encarregado de escrever a crónica de D.Manuel e até – caso assombroso! – que o grande Afonso de Albuquerque lhe mandava anéis de pedras preciosas para que escrevesse de melhor vontade os seus feitos?! Morto Rui de Pina sem completar a crónica, sucedeu-lhe no ofício seu filho Fernão de Pina, que nada fez, e por culpas que cometeu foi privado do cargo e em seu lugar nomeado «António Pinheiro, que agora é bispo de Miranda» para escrever de novo a crónica de D. Manuel, mas escusou-se deste serviço, pelo que o rei D. João III o incumbiu a João de Barros.
Fica, pois, bem líquido que D. António Pinheiro foi nomeado cronista-mor do reino. No artigo já citado de O Panorama, diz-se que Góis só foi nomeado cronista depois da morte de Pinheiro, quando este sobreviveu àquele sete ou oito anos, e num estudo sobre o nosso bispo, muito documentado, publicado na Revista Católica, de Viseu, nos números correspondentes a 7, 13 e 28 de Maio de 1892, se afirma que Pinheiro foi substituído no ofício de cronista por Fernão de Pina, quando é exactamente o contrário.
«A 16 de Janeiro de 1565 (adiante veremos como erram os que o dão assumpto à Sé de Miranda em 1570), foi D. António Pinheiro, já então bispo de Miranda, nomeado visitador e reformador da Universidade de Coimbra em provisão do rei D. Sebastião. Deu princípio à sua comissão a 19 de Fevereiro seguinte, reunindo claustro pleno na capela da Universidade onde o bispo, sentado numa cadeira, recebeu num Missal em suas mãos o juramento dos lentes, segundo a fórmula tridentina; congraçou os doutores Morgovejo, lente de prima de cânones e Luís de Castro Pacheco, que o era de decreto, e deu novos estatutos à Universidade que os achou rigorosos e, por isso, pediu ao rei suspensão deles ao que este respondeu, em carta de 26 de Maio do mesmo ano, que declarassem em que eram rigorosos, e que entretanto os guardassem» (50).
A estes Estatutos fez nova adição com autorização régia, em 1567, o reitor da Universidade Aires de Sá.

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(48) O Panorama, (1837), p. 110.
(49) GÓIS, Damião de – Crónica del-rei D.Manuel, parte IV, cap. XXXVII.
(50) RIBEIRO, Silvestre – História dos Estabelecimentos Literários, Científicos e Artísticos de Portugal, vol. I, p. 455.
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Catálogo dos Bispos de Miranda, tirado de várias memórias por V. J. A. F., manuscrito da Biblioteca Nacional de Lisboa, diz que D. António Pinheiro foi provido no bispado de Miranda em 1564 e transferido para Leiria em 1579.
D. António Pinheiro foi um dos homens mais notáveis do seu tempo pelo brilhantismo do seu talento oratório, incansável e erudita actividade intelectual e preponderância política, infelizmente mal orientada.
O autor da Biblioteca Lusitana classifica-o de «homem de muita virtude, de eminente habilidade, muita eloquência, douctíssimo e mui erudito nas letras humanas», de insigne orador latino, cuja eloquência arrebatava a atenção dos maiores oradores desta arte, sem ser menos feliz na portuguesa.
Jorge Cardoso, em várias partes da sua obra, alude às brilhantes qualidades intelectuais do bispo Pinheiro(51). Faria exalta-lhe os predicados de tradutor, e Teles a muita virtude, eminência da grande habilidade, muita eloquência e conhecimento das letras divinas e humanas(52).
O egrégio orador latino e português D. António Pinheiro, como lhe chama Francisco de Santa Maria (53), foi o maior pregador do seu tempo, era o orador da moda; o seu verbo eloquente, arrebatador, fazia-se ouvir sempre com admiração nas mais altas funções sagradas e políticas. Assim o vemos orar nas cortes de Almeirim, convocadas para o juramento do príncipe, filho do rei D. João II, que depois morreu da queda de um cavalo em Outubro de 1557, na trasladação dos ossos do rei D. Manuel e da rainha D. Maria; em 15 de Julho de 1574, na ocasião de se benzer a bandeira que levou D. António quando partiu para Tânger; em 11 de Janeiro de 1580 nas cortes de Almeirim, convocadas pelo cardeal-rei D. Henrique, onde pronunciou o discurso de abertura das mesmas (54) e o mesmo fez em 16 de Abril de 1581 nas de Tomar por ocasião do juramento de Filipe I (55).
Camilo Castelo Branco(56) fala-nos num sermão audacioso do «grande orador e bispo António Pinheiro» pregado na presença do rei D. Sebastião no qual, a propósito das

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(51) CARDOSO, Jorge – Agiologio Lusitano, ao dia 3 de Junho, e na prevenção «A quem ler» do tomo III.
(52) FARIA,Manoel Severim de – Discursos da Língua Portuguesa. TELES, Baltazar – Crónica da Província de Portugal, parte II, livro VI, cap. XVIII.
(53) SANTA MARIA, Francisco de, Frei – Ano Histórico, vol. III, p. 315.
(54) LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, artigo «Almeirim». Colecção das Obras Portuguesas do sábio Bispo de Miranda e Leiria, D. António Pinheiro, tomo I, p. 121 a 129.
(55) SILVA, Rebelo da – História de Portugal nos séculos XVII e XVIII, vol. I, p. 608 a 618. SOUSA, Luiz de, Frei – Vida de Frei Bartolomeu dos Mártires, livro IV, cap. XV.
(56) CASTELO BRANCO, Camilo – D. Luís de Portugal (quadro histórico). Porto, 1883, p. 158.
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pretensões deste em conquistar a África, lhe disse verdades amargas, discorrendo subtilmente sobre o texto: – Adolescens, tibidico, surge! – que é como quem diz: «Mancebo, a África será a tua desgraça se a não evitas, por isso levanta-te e vai para tua casa».
Nestes discursos e muitos outros que pronunciou, o verbo eloquente de Pinheiro «roubava suavemente a alma pelos ouvidos», como o autor do Agiologio Lusitano dizia, pois era o oráculo daquela idade no entender do mesmo Cardoso, o Cícero português, como lhe chama Faria e Sousa (57).
Coelho da Rocha (58) conta-o entre os oradores e literatos mais distintos do século XVI.
D. Rodrigo da Cunha(59) diz que o sermão epigramático sobre o texto – Adolescens, tibidico, surge! – foi pregado em África na primeira expedição que D. Sebastião ali fez e que este, percebendo perfeitamente o picante da alusão, mostrara ao bispo o seu despeito, o qual, num momento de arrebatamento, vendo-se caído em desagrado, renunciou ao bispado de Miranda, e sendo-lhe aceite foi nomeado, para esta Sé, Frei Marcos, depois bispo do Porto, mas, reconsiderando Pinheiro e reclamando a renúncia, ficou aquela nomeação sem efeito(60).
Ignoramos a data precisa em que D. António Pinheiro foi nomeado bispo de Miranda. Soares Barbosa, na Biblioteca Lusitana, diz que foi em 1570, guiado talvez por ser este o ano em que faleceu o seu antecessor, mas este, como dissemos, resignara a mitra anos antes de morrer.
Os Retratos e Elogios de Varões e Donas que ilustraram a nação portuguesa, emendando a data assinada por Barbosa, dão-no como assumpto à Sé de Miranda em 1564; igual ano lhe assina o Dicionário Popular, de Pinheiro Chagas.
De resto, a opinião de Barbosa não pode aceitar-se, pois já Silvestre Ribeiro nos disse atrás que a 10 de Janeiro de 1565, por ocasião de ser nomeado visitador e reformador da Universidade de Coimbra, era bispo de Miranda, sendo portanto este o elemento mais antigo que temos para restabelecer a data do seu ingresso nesta Sé.

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(57) SOUSA,Manuel de Faria e – Comentários de Camões, Canto V, estância 33. CARDOSO, Jorge – Agiologio Lusitano, «Prefácio» do tomo III.
(58) ROCHA, Coelho da – Ensaio sobre a história do governo e da legislação de Portugal, 5.ª edição, 1872, § 213.
(59) CUNHA, Rodrigo da – Catálogo e História dos Bispos do Porto, parte II, p. 336. MORERI, Luiz – El Gran Diccionario, artigo «Pinheiro» (D. António).
(60) Sobre o nomeado Frei Marcos, vide Portugal – Dicionário histórico, artigo «Lisboa», no seu nome.
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As seguintes notícias, além de provarem o que levamos dito, mostram a acção episcopal do prelado:
A 25 de Janeiro de 1566, emprazou D. António Pinheiro, estando em Miranda, ao licenciado Cristóvão Pires de Bragança várias propriedades pertencentes à igreja de S. João Baptista, desta cidade (61).
A 6 de Abril do mesmo ano, sábado de Ramos, sagrou o altar-mor da Sé de Miranda, e no ano seguinte visitou o santuário da Senhora da Serra, no termo de Rebordãos, concelho de Bragança (62).
A 23 de Julho de 1506, convocou o arcebispo de Braga D. Frei Bartolomeu dos Mártires concílio provincial, o 4.º desta Sé, e na carta convocatória já se menciona entre os bispos comprovinciais a D. António Pinheiro como prelado de Miranda, que assistiu a ele nas sessões de 16, 20 e 25 de Março de 1567.
Este concílio, que corre impresso e do qual possuímos um exemplar da 2.ª edição, de onde extraímos estas notícias, não foi completamente aprovado em Roma que mandou fazer algumas correcções em suas determinações.
A carta convocatória indicava o dia 8 de Setembro como destinado para a primeira sessão, mas D. António Pinheiro não assistiu a ela, ao contrário do que erradamente afirma o Ano Histórico(63).
A 8 de Dezembro de 1569, benzeu e consagrou o terreno para a construção do mosteiro de Santa Clara em Bragança (64); depois, em provisão de 3 de Novembro de 1571, declarou padroeira do convento a Câmara Municipal da cidade (65).
É, pois, evidente que já antes de 1570 era bispo de Miranda. Em 1579, foi transferido para o bispado de Leiria (66).
Ainda quando bispo de Miranda fundou a Misericórdia de Algoso, concelho de Vimioso (67).

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(61) Tabua Velha da Egreja de S. João, fl. 21 e seguintes.
(62) SEPÚLVEDA, Francisco Xavier Gomes de – Novena da Santa Natividade da Virgem Maria Nossa Senhora, p. 11. Lista do cónego Rocha.
(63) SANTA MARIA, Francisco de, Frei – Ano Histórico, vol. III, p. 35.
(64) Documento n.º 100-A.
(65) Documento n.º 96. São notáveis estes documentos por várias razões; mostram o que noutra parte afirmamos relativamente a ser este bispo cronista do reino, pois sendo feitos no tempo em que ele vivia, ambos lhe dão este título.
(66) BARBOSA, Soares – Biblioteca Lusitana. FIGUEIREDO, Pedro José de – Retratos e Elogios. CHAGAS, Pinheiro – Dicionário Popular.
(67) LEAL , Pinho – Portugal Antigo e Moderno, artigo «Algozo».
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Bento José de Sousa Farinha, professor régio de filosofia e sócio da Academia das Ciências de Lisboa, publicou parte das obras de D. António, debaixo do título Colleçam das obras portuguezas do sabio bispo de Miranda e de Leiria D. Antonio Pinheyro pregador do senhor Rey D. Joam III e mestre do principe. Lisboa, na oficina de Filipe da Silva e Azevedo.
Dois tomos em 8.º, 1784-1785, de 255-174 páginas com quatro de «Prólogo», no I volume inumeradas, e duas de índice. O II volume é impresso na oficina de José da Silva Nazareth.
Os títulos das obras compreendidas nesta colecção são:
– Summario da pregaçam funebre que o doutor Antonio Pinheiro pregador del-Rey N. S. fez por seu mandado no dia da trasladação dos ossos dos muito altos e muito poderosos princepes el-rey D. Manuel seu pai, e a rainha Dona Maria sua may de louvada memoria derigido aa muito alta e muito poderosa rainha D. Caterina N. S. Abrange noventa e sete páginas.
– Trasladaçam dos ossos dos muyto altos e muyto poderosos el rey D. Manuel e a rainha Dona Maria de louvada Memoria feita por o muito alto e muito poderoso rei, Dom Joam o III deste nome seu filho, Nosso senhor.
Compreende trinta páginas. É uma notícia histórica dos factos referentes a esta trasladação.
– Pregaçam feita na Igreja de Bellem em XV de julho de 1574 na ocasião de se benzer a bandeira que levou o senhor D. Antonio quando partio pera Tangere. Compreende vinte e cinco páginas.
– Oraçam dita no Capitulo Geral da Ordem de Christo que el rei, D. Sebastiam fez celebrar em Santarem a VIII de dezembro de 1573. Tem quatorze páginas.
– Oraçam pera o juramento do muyto alto e muito excellente princepe D. Joam pay del rey Dom Sebastiam nosso Senhor. Contém sete páginas.
– Reposta do procurador de Lixboa leterado que foy o doctor Lopo Vaz a qual per mandado del rei Dom Joam o III lhe fez o doctor Antonio Pinheiro pera elle a dizer. Contém três páginas.
– Practica na aclamaçam do senhor rey Dom Sebastiam. Contém duas páginas.
– Oraçam na salla dos Paços da Ribeyra, nas primeyras cortes que fez o muyto alto e muyto poderozo rey D. Sebastiam nosso senhor governando seus regnos e senhorios a muyto alta e muyto poderosa raynha Dona Caterina sua avo nossa senhora. Contém quatorze páginas.
– Falla que fez á raynha D. Caterina em nome do povo de Lisboa para que nam largasse a regencia do reyno no anno de 1561. Contém quatro páginas.
– Falla nas cortes del rey D. Henrique em Almeyrim a 11 de janeiro de 1580. Contém quatro páginas.
– Falla no acto do alevantamento de S.Magestade nas cortes de Thomar em 16 de abril de 1581. Contém quatro páginas.
– Falla no auto das cortes que S. Magestade celebrou em Thomar em 20 de abril de 1581. Contém três páginas.
– Falla no auto do juramento do principe D. Diogo nas mesmas cortes em 23 de abril de 1581. Contém cinco páginas.
– Carta de M. Tullio a Q. Cicero seu irmam tirada do latim em linguagem. Contém trinta e oito páginas.

Tudo isto vem no primeiro e segundo volumes.

– Trelladaçam do panigirico de Plinio o mais moço ditto no Senado em louvor de Trajano: em nossa vulgar linguagem: dirigido ao mui alto, e mui poderoso rei D. Joam o terceiro nosso senhor.
Além destes escritos, o Summario da Biblioteca Lusitana menciona mais os seguintes, alguns deles impressos e outros manuscritos:
– Traduziu em português a oração de Cornejo, no concílio de Trento.
– Tratado da eloquencia da lingua portugueza.
– Sermões varios (um volume).
– Advertencias das cousas antigas de Portugal.
– Oração do capitulo de Aviz, outra do Capitulo da Ordem de S. Thiago e outra do da Ordem de Cristo.
– Carta a Frei Agustinho prior de Thomar.
– Parecer acerca do uso da astrologia.
– Pratica consolatoria que fez a el-rei D. João III.
– Resposta a uma carta satyrica que se lhe fez.
– Commentarios e annotações a Marco Fabio Quintiliano. Veneza, 1567. Paris, 1569.
– Tractatus in Psalmos David.
– Uma carta latina a Cabedo. Anda nas obras de Miguel de Cabedo. Roma, 1597, in 8.º.
– Um epigramma latino a Pedro Nunes. Anda no tratado de Crepusculis. Conimbricae, 1571.
– Epitaphio latino de Fr. Thomaz da Costa. Anda na história de S. Domingos, parte II, livro VI.
– Várias cartas manuscritas.
– Oração Obedencial ao Papa Paulo IV.
Jorge Cardoso (68) menciona uma carta do próprio punho do rei D. João III, de 5 de Agosto de 1556, para D. António Pinheiro, a quem dá o título de bispo (mais uma prova de que já o era antes de 1570, em que a Biblioteca Lusitana dá assumpto à Sé de Miranda), na qual lhe incumbe que, investigando os cartórios e documentos concernentes, organize sumários das vidas dos santos de Portugal e colónias para serem incorporados na obra que sobre esse assunto andava escrevendo o alemão padre Lourenço Surio, que para Portugal pedia tais notícias.
A parte notável que este bispo teve na entrega de Portugal a Espanha, consta do Livro IV da Embaixada sobre a sucessão do Reino de Portugal, desde o primeiro de fevereiro de 1580, até que S. Majestade entrou n’este reino, que está na Biblioteca Real de Madrid, estante n.º 60, onde Ferreira Gordo(69) o viu quando lá foi comissionado pela Academia Real das Ciências. É um fólio de mil e quarenta páginas, que compreende as seguintes negociações de Filipe II para adquirir Portugal: I – Cartas deste rei para D. Cristóvão de Moura, embaixador ordinário em Portugal; II – Cartas do duque de Ossuna, Rodrigo Vasques e Luís Molina, que estavam também naquele reino com o carácter de embaixadores extraordinários, para solicitarem e defenderem as pretensões de Filipe II; III – Cartas e instrusões de D. António Pinheiro, bispo de Leiria, que na contenda da sucessão foi um que por seus ofícios, pareceres e autoridade, concorreu mais que ninguém para sujeitar Portugal ao castelhano.
Sobre esta perniciosa influência de D. António, veja-se Luís Augusto Rebelo da Silva, História de Portugal nos séculos XVII e XVIII, «Introdução», vol. I, pág. 483, 504, 511, 521, 535, e parte II, pág. 233, 375 e 419; idem, livro I, parte I, cap. I, pág. 11, onde, ao passo que o apresenta como «dotado de prompto engenho, de grande lucidez nos argumentos, de

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(68) CARDOSO, Jorge – Agiologio Lusitano, na prevenção, «A quem ler», do tomo III, onde talvez por erro tipográfico se lê 1556 em vez de 1565.
(69) GORDO, Joaquim José Ferreira – Apontamento, para a Historia civil e litteraria de Portugal e seus dominios, colligidos dos manuscriptos assim nacionaes como estrangeiros, que existem na Bibliotheca Real de Madrid, na do Escurial… In «Memórias de Literatura Portuguesa»,
tomo III.
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muita subtileza e firmeza de indole», lhe admira os «escritos concebidos com incrivel rapidez, allumiados pela viveza» do seu génio.
Neste particular chegou a tal ponto a sua importância que o sombrio diabo do Meio-Dia «pouco inclinado a sahir da serenidade glacial, que era o toque peculiar da sua physionomia... exaltando o engenho e agudeza do prelado, parecia não achar palavras sufficientes para manifestar o seu reconhecimento», e por isso dizia em carta de 9 de Abril de 1580 para D. Cristóvão de Moura: «Quiero que le digaes, ao bispo, que estoy en estremo satisfecho de su persona y modo de proceder, y le prometais y assegureis de mi parte que le haré la merced que merece; y asi se os parecere que aora de presente se le deve dar algo, será bien que me lo aviseis, que de muy buena gana mandaré que se haga».
Vejam-se ainda sobre o assunto os Documentos, Memorias e Correspondencias, manuscrito da Academia Real das Ciências de Lisboa.
Esta desgraçada aberração não deve causar estranheza se atendermos que era a ideia dominante de então em todos os espíritos e poucos, muito poucos, tiveram a rara coragem de imitar o proceder digno e patriótico do bispo da Guarda e do conde de Vimioso(70), que por isso foram excluídos da amnistia geral que Filipe II concedeu aos crimes políticos ao tomar conta de Portugal. Como lenitivo a tanta miséria, sirva-nos ao menos de consolo o saber que sem o auxílio do clero a aclamação de 1640, resgate desta débâcle, não se teria dado (71) e que os padres Nicolau da Maia, Bernardo da Costa, conhecido pelo nome de clérigo da Azambuja, e o jesuíta Luís Álvares resgataram nobremente por seu heróico proceder as fraquezas do clero de 1580, de resto comuns a todas as classes sociais. D. Miguel de Portugal, dos condes de Vimioso, bispo de Lamego e enviado de Portugal a Roma, rompendo sanhudo nas ruas da cidade sobre os castelhanos, que pretendiam afrontá-lo, vale uma epopeia.
A História de Portugal, popular e illustrada, de Pinheiro Chagas, traz uma linda gravura representando o bispo irado, despedindo chispas dos olhos, de barrete na nuca e mãos crispadas sobre um bacamarte. É soberbo e consola a alma de todo o bom patriota (72)!

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(70) A sua Declaração está na Biblioteca de Madrid, estante E, n.º 76.
(71) MENESES, Luís de – História de Portugal Restaurado, parte I, livro II, p. 102 e livro III, p. 181. SILVA, Rebelo da – História de Portugal, livro III, parte III, cap. III, p. 387 a 440; livro IV, parte IV, cap. IV, p. 114, 158 a 640; livro V, parte I, cap. III, p. 266 e livro IX, parte IX, cap. I, p. 308.
(72) MENESES, Luís de – Portugal Restaurado, parte I, livro III, p. 174. SILVA, Rebelo da – Historia de Portugal, livro V, parte V, cap. IV, p. 311. CHAGAS, Pinheiro – História de Portugal, tomo V,
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Pinheiro foi um dos juízes que assinaram a sentença da anulação da legitimidade de D. António, Prior do Crato. O seu retrato, acompanhado de notas biográficas, encontra-se nos Retratos e elogios de varões e donas que illustraram a nação portugueza, donde ultimamente o copiou a Historia de Portugal, de Pinheiro Chagas, tomo IV, pág. 620.
A legenda do retrato, em tela, no Paço Episcopal de Bragança, é como segue: D. Antonius Pinheiro natus iu oppido / Porto de Moz scienciarum cau / sa abiit Flandriam indeque Parisios, / ubi docuit humanas litteras in Colle / gio Divae Barbarae cujus erat alumn / us, unde rediit magister electus princip / is Joannis III, cujus orator fuit pos / teaque senator supelicacionis sena / tus que Conscienciae archivi regalis / maximus custos, ac inquisitor Col / limbriae, a secretis regioe magestatis, et consilus, universitatis Conimbri / censis reformator, obiit Ulyssipo / ne indoeque fuit ejus / corpus translatum / ad natale / solum.
Ainda relativamente a este bispo encontrámos no Arquivo do Cabido de Bragança, numa colecção de bulas em pergaminho, formando volume, com capas de carneira roxa, uma com o número 6, de Gregório XIII, datada do dia 5 das calendas de Setembro de 1572, cuja sua «petitionem continebat quodum juxta consuetudinem in Mirandensem et ceteris Regni Portugallie ecclesiis observatum nonnullis anni fertilitatibus canonici semiprebendati nuncupati ejusdem eclesie Mirandensis in quo due demidie dumtaxat et alio numero viginti excedentes integre nuncupate prebende esse dignoscuntur divina officia celebrare seu aliis canonicis prebendatis nuncupatis ejusdem ecclesie Mirandensis et dignitates in illa obtinentens ministrare teneantur et debeant ac frequenter ipsi canonici prebendati celebrantibus aliis canonicis prebendatis in altari ministrare renuant seque excusent vel quando contingit oliquos canonicos a dicta ecclesia Mirandensis infirmitatis vel alia causa abesse ob ministrum defecti divina officia in illa minorique deceat et in partibus aliis fieri soleat solemniter peragatur».
Por estas razões apresentadas pelo bispo D. António concedia o Papa que, das duas primeiras prebendas inteiras que vagassem (os rendimentos de cada uma das quais excediam então a duzentos ducados de oiro da câmara), se fizessem quatro meias prebendas para outros tantos meios prebendados.

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p. 337. Também na p. 546 do tomo IV e 31 do tomo V, se alude à parte que este bispo teve na perda da nossa independência.
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MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA

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