sexta-feira, 26 de maio de 2023

"𝗘𝗰𝗼𝗻𝗼𝗺𝗶𝗮 𝗽𝗼𝗿𝘁𝘂𝗴𝘂𝗲𝘀𝗮 𝗰𝗿𝗲𝘀𝗰𝗲𝘂 𝗾𝘂𝗮𝘁𝗿𝗼 𝘃𝗲𝘇𝗲𝘀 𝗮𝗰𝗶𝗺𝗮 𝗱𝗮 𝗺𝗲𝗱𝗶𝗮 𝗱𝗮 𝗢𝗖𝗗𝗘"

 Não deixa de ser interessante e digno de estudo o orgulho que algumas pessoas expressam com este título.

Especialmente quando o principal motivo para este resultado é, imaginem lá, o 𝘁𝘂𝗿𝗶𝘀𝗺𝗼, o tal monstro!

O tal monstro que, apesar de representar atualmente cerca de 𝟭𝟵,𝟭% 𝗱𝗼 𝗣𝗜𝗕 veio, segundo muitas dessas mesmas pessoas que agora exacerbam orgulho, destruir a identidade das grande cidades e desalojar cidadãos nos centros históricos, muito pela via do trabalho maioritariamente não qualificado, dos salários baixos e dos empregos precários, bem expressivos da nossa baixa produtividade, que é apenas um dos maiores problemas da nossa economia. E, neste campo, convém relembrar que na vertente da produtividade por cada hora trabalhada (aquilo que acrescentamos de valor em cada hora), esse valor cai para 66% do valor médio da UE, o que significa que trabalhamos muitas horas, mas produzimos pouca riqueza.

O tal monstro que subsiste graças à mão de obra imigrante, que vem para Portugal para ocupar os empregos que os portugueses não querem, 𝗽𝗿𝗲𝗳𝗲𝗿𝗶𝗻𝗱𝗼 𝗲𝗺𝗶𝗴𝗿𝗮𝗿. E sim, desde 2012 que os nossos jovens continuam a emigrar! Onze anos após o apóstolo Pedro (qual Judas Tadeu), o culpado de todas as desgraças deste país, ter entregue a governação, a situação 𝗺𝗮𝗻𝘁𝗲́𝗺-𝘀𝗲 𝗲 𝗮𝗴𝗿𝗮𝘃𝗮𝗱𝗮. 

O tal monstro que, por ser fácil, permite ao país e seus governantes não terem que se preocupar em desenvolver 𝗯𝗲𝗻𝘀 𝘁𝗿𝗮𝗻𝘀𝗮𝗰𝗶𝗼𝗻𝗮́𝘃𝗲𝗶𝘀, 𝗮𝘁𝗶𝘃𝗶𝗱𝗮𝗱𝗲𝘀 𝗱𝗲 𝘃𝗮𝗹𝗼𝗿 𝗮𝗰𝗿𝗲𝘀𝗰𝗲𝗻𝘁𝗮𝗱𝗼 que possam, esses sim, ser a base de sustentação da nossa 𝗲𝗰𝗼𝗻𝗼𝗺𝗶𝗮, tornando-a 𝗽𝗿𝗼𝗱𝘂𝘁𝗶𝘃𝗮 nos sectores primário e secundário, com toda a segurança que isso permite a médio e longo prazo.

O tal monstro que, com estes resultados, desvia para si as atenções outrora viradas para a situação catastrófica 𝗱𝗮 𝘀𝗮𝘂́𝗱𝗲. Sector em que o Orçamento do Estado prevê apenas 6,8% do PIB para a despesa pública em saúde, 𝟮% 𝗮𝗯𝗮𝗶𝘅𝗼 𝗱𝗮 𝗺𝗲́𝗱𝗶𝗮 𝗲𝘂𝗿𝗼𝗽𝗲𝗶𝗮 mantendo-se o modelo arcaico da navegação à vista, em que as 𝗹𝗶𝘀𝘁𝗮𝘀 𝗱𝗲 𝗲𝘀𝗽𝗲𝗿𝗮 para consultas e cirurgia 𝗰𝗿𝗲𝘀𝗰𝗲𝗺 por insuficiência de recursos humanos, escassos devido à continua emigração, à falta de condições de trabalho adequadas nos hospitais e nos centros de saúde, mas também, e não o podemos esquecer, por falta de salas de bloco operatório ou de gabinetes de consulta, resultado do contínuo desinvestimento;

ou para a situação 𝗱𝗼 𝗲𝗻𝘀𝗶𝗻𝗼, não menos grave e marcado pela precariedade daquela que deveria ser considerada a 𝗺𝗮𝗶𝘀 𝗻𝗼𝗯𝗿𝗲 𝗱𝗮𝘀 𝗽𝗿𝗼𝗳𝗶𝘀𝘀𝗼̃𝗲𝘀, pelas inúmeras de greves, escolas fechadas,pelos milhares de alunos sem aulas, e pelo caos que paira sobre o futuro dos portugueses;

ou para a situação do excedente orçamental das 𝗳𝗶𝗻𝗮𝗻𝗰𝗮𝘀, fruto da enorme carga fiscal sobre o trabalho e as empresas. Para que se possa, dependendo do nível de desagrado que se faça sentir, atirar cheques avulso para a conta bancária dos mesmos cidadãos que viram o seu salário descontado desse valor, mas em dobro, quando na realidade não era necessário. Qual troika.

ou para a situação da 𝗷𝘂𝘀𝘁𝗶𝗰̧𝗮, que teima em ser(-nos) pesada, lenta, complicada e, para a grande maioria do cidadão comum, inatingível. A mesma justiça que deixa impunes todos os Sócrates deste país provando que, a responsabilidade morre sempre solteira e o que roubam lhes fica na carteira, 𝗻𝗼𝗿𝗺𝗮𝗹𝗶𝘇𝗮𝗻𝗱𝗼 𝗲 𝗯𝗿𝗮𝗻𝗾𝘂𝗲𝗮𝗻𝗱𝗼 𝗮 𝗰𝗼𝗿𝗿𝘂𝗽𝗰̧𝗮̃𝗼 e sempre, de cravo ao peito.

E nem vou meter neste embrulho TAP's, CP's e Efacec's...

Vivemos, portanto, numa realidade paralela àquela que a comunicação social e os governos nos apresentam e que, pelos vistos a maioria defende, do alto de um falso positivismo que, efetivamente não reprogramará o futuro daquele que precisávamos que fosse o melhor país para os nossos filhos.

Vivemos desejando melhor mas acreditando no pior.

Vivemos um dia de cada vez, apenas.   

E os nossos filhos não nos merecem isso...

Cláudio Trovisco
(OPINIÃO)

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