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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 17 de junho de 2023

D. PEDRO V: O REI DA CAIXINHA VERDE

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Não é a primeira vez que me refiro à figura de D. Pedro V, Rei cultíssimo e de elevada sensibilidade.
Mas só depois de se ter descoberto, na livraria do Paço Ducal de Vila Viçosa, o famoso " Livro Negro", que se pensava ter sido destruído pelo seu irmão, o Rei D. Luís I, é que se conheceu, verdadeiramente, o carácter desse jovem Rei, semelhante a D. Pedro II, Imperador do Brasil, ambos amigos e admiradores de Alexandre Herculano.
                Durante os curtos anos que dirigiu a Nação, inaugurou-se os primeiros quilómetros da linha-férrea do Norte – 1856 (Lisboa - Porto); fundou-se o Curso Superior de Letras (1859); lançaram-se as primeiras linhas telegráficas (1855); e deu-se início ao primeiro cabo submarino, entre Lisboa, Açores e Estados Unidos.
                Mas, a meu ver, o que é merecedor e de se exaltar, foi o cuidado de se manter sempre atualizado, e principalmente, o esforço que realizou em defesa da liberdade, que para ele, era:
                 "O sentimento mais nobre do homem."

                         (Escritos de el-rei D. Pedro V, vol 2º. pág.170)

                 A 24 de março de 1856, D. Pedro V escreveu no seu diário:
"...Não sou tão tolo que goste de meu ofício, mas hei de trabalhar por ele com zelo e com perseverança, e fazer bem e florescer um pouco a moralidade."

               (Lembranças, fól.141 v) 

                  Os escrúpulos extremados, e o amor à verdade, levaram-no a tomar atitude inédita na política.
Diz Oliveira Martins, que: " Tinha em tanta conta os que o rodeavam, cria tanto neles, que mandou pôr à porta do seu palácio, uma caixa verde, cuja chave guardava, para que o seu povo pudesse falar-lhe com franqueza, queixasse e acusar os crimes dos governantes."
Dizem que foi obrigado a retirá-la, porque o povo ou os políticos (?) lançavam em lugar de pedidos e queixas, insultos e palavras incongruentes.
É bem verdade – quando se pretende dar voz a quem a não tem, os "democratas" não gostam...
Aos dez anos D. Pedro V teve como mestre D. Maria Carolina Mishisch,, seguiu-se Martins Basto. Aprende latim e com seis meses de estudo, traduz: Eutrópio e Fedro; aos doze, consegue verter para língua pátria, textos de: Virgílio, Tito Lívio e Cícero.
Aprende, também música, pintura, filosofia e línguas vivas. Era admirador de Alexandre Herculano, que foi seu preceptor.

" O Papá deu-me conta duma interessante conversa que tivera com A.Herculano."

         (10 de outubro de 1856 -Volume VI, fól. 65)

Aos dezassete anos (1854) viaja para Inglaterra, Bélgica, Alemanha, França, e no ano seguinte, Itália e Suíça.
Não viaja para se divertir, mas para aprender e contactar políticos e homens da cultura.
Lê imenso: livros e revistas generalistas, mas mormente, de economia, para se manter sempre atual.
Era de sensibilidade delicada. Quando o pai (Papá - como escreveu no diário) adoecia, ficava grande parte do dia junto do leito, lendo-lhe artigos publicados nos jornais:

" Estive no quarto do Papá, que está doente. Estive conversando com ele, e lendo-lhe artigos da Revue des Deux Mondes."

  (Diário de D. Pedro V. - 28 de novembro de 1855)

Durante a epidemia de Cólera (1855-56) que se espalhou em Lisboa, seguido da Febre-amarela (esta iniciou-se no Porto,) parte da população da cidade foge para a província. D. Pedro V não só não recusa abandonar a Capital, como visita hospitais, entra nas enfermarias, e conversa, afetuosamente, com doentes.
Fiz Damião Peres: " Quando deixavam Lisboa, aos cardumes, todos quantos fazê-lo podiam, o Rei não desertou, como é sabido. Podia, porém, e já não era pouco, limitar-se a permanecer na capital, dando exemplo de indefetível civismo; mas não, pois inúmeras vezes afrontando corajosamente os riscos de contágio, visitou os hospitais, detendo-se à cabeceira dos doentes e levando-lhes com o consolo da sua presença, o doce alívio duma animadora palavra."
Sabendo que muitas crianças ficavam órfãs, auxilia-as, correndo as despesas do seu próprio bolso.
Alves Mendes, em: "Orações e Discursos", na "Oração Fúnebre". Proferido nas exéquias do Rei D. Pedro V, a 11 de dezembro de 1861. Mandada celebrar pela Câmara Municipal da Figueira da Foz", afirma a determinado passo:
“(...) E em balde alguém o aconselha para que mudasse de sistema. Não! Dizia ele a seus ministros: diante da crise que dizima meus povos, não será meu coração que descansa, nem meu braço que deixe de trabalhar!..."
A 29 de Setembro de 1861, o rei desloca-se a Vila Viçosa, com os infantes D. Fernando e D. Augusto. Após curtíssima estadia percorre várias localidades, sendo recebido acaloradamente pelo povo.
Chega a Lisboa, senta-se mal, vindo a falecer decorridos dias (11 de novembro de 1861, pelas 19H00).
Existe no Porto, na Praça da Batalha, estátua de bronze, com três metros de altura, e peso de noventa arrobas. O monumento tem a legenda, em bronze: " Os artistas portuenses por gratidão a D. Pedro V, em 1862.
Foi oferecido á Sociedade Portuguesa de Beneficência do Rio de Janeiro, réplica do monumento, em prata, com o peso de nove quilos.

Humberto Pinho da Silva
nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG” e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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