segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Os futuros da biodiversidade

 Estima-se que existam entre 5 e 10 milhões de espécies de plantas e animais na Terra. No entanto, apenas cerca de 2 milhões dessas espécies foram formalmente descritas e nomeadas, sendo que entre 30 e 50% dessas estarão ameaçadas.

© André Rolo / Global Imagens

A salvaguarda da biodiversidade é essencial para garantir o funcionamento dos ecossistemas e manter as contribuições da natureza para as pessoas, que delas dependem para a sua sobrevivência e bem-estar. É urgente desenvolver estratégias para acelerar o conhecimento e a produção de dados sobre a diversidade biológica e definir prioridades para a sua conservação, promovendo novas formas de governação que envolvam ativamente as comunidades e reconheçam os limites planetários.

A investigação e as práticas de conservação da biodiversidade, em todas as suas dimensões (espécies, ecossistemas, genética, filogenética, funcional), foram das primeiras áreas do conhecimento a adotar as agendas digitais, uma vez que lidam com grande volume de dados produzidos com diferentes objetivos e por distintos atores, entre os quais: a localização e abundância dos organismos, a sua relação com fatores bióticos e abióticos nas suas áreas de distribuição, a monitorização de espécies e áreas protegidas, a tradução das contribuições da natureza para as pessoas, como os serviços de ecossistema (ex. a polinização ou o controlo de pragas e doenças), os esforços contínuos de catalogação do mundo natural e digitalização de coleções científicas, ou o crescente envolvimento dos cidadãos nos processos científicos de produção de conhecimento, fornecendo informações valiosas para a preservação, monitorização e compreensão do mundo natural.

As ferramentas digitais, incluindo a Inteligência Artificial, aceleram a compreensão da biodiversidade ao simplificarem a recolha, o armazenamento, a análise e a divulgação de dados e possibilitando a análise integrada de grande quantidade de informação para responder a questões biológicas e ecológicas. A utilização rápida e inteligente de grande volume de dados permite aos investigadores descobrir padrões, modelar a distribuição de espécies, seguir tendências populacionais e avaliar o impacto das alterações ambientais e da pressão humana.

A deteção remota desempenha um papel vital na monitorização da biodiversidade, utilizando imagens de satélite e sensores para avaliar a saúde dos ecossistemas, a fragmentação dos habitats ou a distribuição das espécies.

É indiscutível que os ecossistemas proporcionam uma infinidade de benefícios essenciais para o bem-estar humano, pelo que quaisquer esforços de conservação a pôr em prática, serão apenas eficazes com a participação de indivíduos e comunidades. Envolver as pessoas na criação de conhecimento sobre biodiversidade gera sentimentos de pertença e responsabilidade para com o mundo natural. Através de iniciativas de ciência participativa, com a criação de programas educativos abrangentes e plataformas digitais, todos podem contribuir ativamente para a recolha de dados, investigação e esforços de conservação, estimulando uma maior compreensão e apreciação da importância da biodiversidade para um futuro sustentável. Neste contexto, é importante valorizar a diversidade biocultural que realça a interconexão da diversidade biológica e cultural. O reconhecimento e a valorização dos conhecimentos locais e indígenas, das práticas tradicionais e do papel das comunidades na salvaguarda da biodiversidade contribuem para a gestão sustentável dos ecossistemas. Ao integrar as perspetivas bioculturais, podemos promover abordagens de conservação que respeitem a diversidade cultural e reforcem a proteção da biodiversidade para as gerações futuras.

É urgente desenvolver estratégias para acelerar o conhecimento e a produção de dados sobre a diversidade biológica e definir prioridades para a sua conservação.

Estes novos desafios exigem novas formas de governança e o envolvimento das comunidades é crucial. Para responder às suas necessidades e aspirações, é importante fomentar ações de colaboração no sentido de capacitar as partes interessadas, promovendo a cogestão dos valores naturais e desenvolvendo práticas sustentáveis que utilizem dados científicos abertos e respeitem os conhecimentos tradicionais para criar soluções eficazes de proteção da diversidade biológica.

Na Digital with Purpose Global Summit 2023, que vai realizar-se em Lisboa, no final de setembro, os oradores do programa Biodiversity Futures vão abordar o papel das agendas digitais em temas como: big data e biodiversidade, deteção remota, ciência participativa, conhecimento biocultural ou coleções científicas, promovendo o debate e pondo em evidência os desafios globais da biodiversidade.

A agenda digital é estratégica para catalisar os esforços em matéria de conservação, práticas sustentáveis e cooperação global e para conceber e pôr em prática futuros mais auspiciosos para a diversidade biológica e para a vida em geral. A sua implementação é, pois, urgente e exigirá uma forte mobilização da indústria digital para inovar e investir nas soluções necessárias.

Centro de Ecologia Funcional e Cátedra UNESCO em Biodiversidade e Conservação para o Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Coimbra;

Cocuradores do programa Biodiversity Futures na Digital with Purpose Global Summit 2023.

Helena Freitas e António C. Gouveia

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