terça-feira, 28 de novembro de 2023

DESEMPREGO DESCE NA REGIÃO MAS EMPRESÁRIOS CONTINUAM A QUEIXAR-SE DA FALTA DE MÃO-DE-OBRA

 Em relação a Outubro do ano passado, a taxa de desemprego desdeu 4,6%


É na região Norte, que está o maior número de desempregados do país. Segundo dados do último relatório divulgado pelo IEFP - Instituto de Emprego e Formação Profissional, em Outubro, 39,8% dos desempregados do país estão no Norte. Comparativamente a Outubro do ano passado, verificou- -se um aumento de 6%. No entanto, na região o cenário é contrário. A taxa de desemprego diminuiu. Em Outubro deste ano, havia 3162 pessoas desempregadas no Centro de Emprego e Formação Profissional de Bragança, que abrange os concelhos de Alfândega da Fé, Bragança, Macedo de Cavaleiros, Miranda do Douro, Mirandela, Mogadouro, Vimioso, Vila Flor e Vinhais. São menos 153 que no mesmo período do ano passado. Quer isto dizer, que houve uma diminuição de 4,6% de desempregados.

Oferta formativa tem que ser mudada

Mas, os empresários continuam a queixar-se da falta de mão-de-obra. De acordo com Sónia Reis, da direcção do NERBA- Associação Empresarial do Distrito de Bragança, as empresas queixam-se da falta de trabalhadores nas áreas da “mecatrónica, soldadura, pichelaria, climatização, carpintaria, restauração e as actividades veterinárias”. O problema, na opinião de Sónia Reis, é que as pessoas que estão desempregadas não têm formação para as ofertas que as empresas disponibilizam. Isto, porque o ensino e formação não está direccionado para as necessidades da região. Por isso, considera que é “necessário haver uma reestruturação da oferta formativa”. “Não podemos ser todos doutores. Já temos aqui um problema ao nível da oferta e procura de emprego, porque se formos todos licenciados não temos electricistas e acho que é importante dignificar rapidamente estas profissões, até porque são profissões de futuro”, frisou. Sónia Reis levantou ainda outra problemática relacionada com a carga fiscal das empresas, que impossibilita boas ofertas de remuneração. “As empresas precisam de recursos, não os conseguimos é fixar. Não é por não existir trabalho, não é por não necessitarem, é porque a carga fiscal que as empresas têm é elevadíssima e estar a assumir um emprego sustentável a médio e longo prazo é difícil para as empresas. Os ordenados não são altos e os jovens vêm-se obrigados a saírem”, disse, dando como exemplo uma medida do IEFP para contratar jovens qualificados e que não está a ser bem-sucedida. “Foi lançada uma medida de apoio pelo IEFP para contratar jovens qualificados, com um vencimento de 1330 euros, o problema é que tem que se tem que realizar um contrato por tempo indeterminado e as empresas não sabem se vão conseguir suportar pós apoio esse vencimento aos colaboradores”.

Falta de mão-de-obra impossibilita crescimento de empresas

A Tecnofrio é uma das empresas que se vê a braços para arranjar mão-de- -obra qualificada. Criada em 1995, faz reparação e venda de electrodomésticos, prestando assistência técnica. Tem 10 trabalhadores, mas Fernando Correia, um dos sócios admite que “não são suficientes”. Precisa de picheleiros e electricistas e “não há”. O problema é que não tem como os contratar, visto que não os há no mercado e também não tem como formar essas pessoas. Esta situação leva-o a rejeitar trabalho e, consequentemente, impossibilita o crescimento da empresa. “Não podemos alargar-nos no horizonte, temos que abdicar de certos trabalhos, porque não há mão-de-obra qualificada e nós estarmos a formar pessoas, além de ser caro, não temos tempo para isso. O mercado não espera por nós para conseguirmos formar alguém”, disse. Para o empresário, o grande responsável para a falta de mão-de-obra qualificada nestas áreas é o Centro de Emprego, uma vez que não acompanha a realidade local e não cria oferta formativa adequada. “Os cursos não estão virados para a necessidade do mercado”, afirmou, salientando que “não há vontade” para criar esses cursos. “Podem dizer-nos que esses cursos não vão ter aproveitamento, porque as pessoas vão para lá para receber o dinheiro do curso, mas as pessoas estão no desemprego igual. Estão 20 pessoas a fazer um curso, se forem feitos durante cinco ou seis anos e se houver um aproveito nem que seja de 30%, vão dar um equilíbrio ao local”, vincou. A juntar-se a isso, Fernando Correia considera que os jovens não estão interessados em “aprender”, limitando-se apenas a trabalhar para receber o ordenado. “Em Portugal as pessoas não têm necessidade de trabalhar, porque estão a ser governados de alguma forma por alguém”, afirmou. Segundo o empresário, um profissional, como um picheleiro, recebe “uma média de mil euros por mês” e não precisa de um “curso superior”. Já um aprendiz ganha cerca de “900 euros”. Valores que entende serem “atractivos” para a região transmontana e tendo em conta o cenário nacional. Ainda assim admite que gostava de poder pagar mais aos seus funcionários, mas para isso, teria que deixar de estar asfixiado em impostos. “O governo é que devia criar condições, redução de impostos de um lado e aumento de salários do outro. Eu não tinha qualquer problema e chegar a um funcionário e dar-lhe 2500 euros por mês, se não tivesse tantos impostos”, vincou.

Criar o próprio emprego é uma solução cada vez mais na moda

Hoje em dia, criar o próprio emprego é uma grande solução para acabar com a situação de desemprego e “é muito possível”, segundo Pedro Mascarenhas, o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) de Macedo de Cavaleiros. Para isso, basta que as pessoas se enquadrem em medidas como o PAECPE, um programa de apoio à criação do próprio emprego/ negócio por beneficiários que estejam em situação de desemprego involuntário e a receber prestações de desemprego. Neste caso, os apoios consistem na antecipação total ou parcial das prestações de desemprego, os quais poderão ser cumulados com outras medidas, tais como acesso a crédito facilitado e com condições mais vantajosas. Mas, Pedro Mascarenhas, na semana passada, em Alfândega da Fé, no “Fórum Oportunidades de Investimento e Criação de Emprego”, falou ainda de outra “via”, o Empreende XXI. “Permite criar também o próprio emprego, mas com montantes mais avultados. As candidaturas podem ir até 200 mil euros, com uma componente de 40% a fundo perdido e 45% de empréstimos sem juros e 15% de componente de capital próprio”, esclareceu sobre esta medida que agora tem as candidaturas fechadas. E há cada vez mais gente a tentar criar o próprio emprego, segundo reforçou Pedro Mascarenhas, que disse que, por exemplo, no que toca ao Empreende XXI, no período em que esteve aberto, foram recebidas duas mil candidaturas. Destas, mil na zona Norte, que agora estão a ser avaliadas. Em termos de PAECPE, os números de candidaturas são muito inferiores. “Ainda assim, em termos de serviço de emprego de Macedo de Cavaleiros, que integra, além de Macedo, Alfândega da Fé e Mogadouro, quem se candidata cumpre os três anos obrigatórios e continuam depois com as suas pequenas empresas e a viver daquilo a que se propuseram a viver”, rematou. Voltando a este território, Macedo, Alfândega e Mogadouro, ao Empreende XXI foram feitas 20 candidaturas, mas não é possível comparar números porque esta foi a primeira vez que o programa abriu, mas, da percepção que Pedro Mascarenhas tem, “a adesão foi muito superior ao que se esperava”. “No começo havia 20 milhões de euros disponíveis e depois teve que se reforçar para 30 e mesmo assim considerou- -se pouco para as candidaturas que houve”, reforçou, assumindo que “cada vez somos mais empreendedores na região, microempreendedores, mas sim empreendedores” porque “não há muito emprego disponível e as pessoas viram-se cada vez mais para o turismo, pequenas empresas de agricultura, pequeno comércio, como cabeleireiros, frutarias, cafés”, uma “boa forma de sair da situação de desemprego” e “ter a vida melhorada”. No fórum, em Alfândega da Fé, esteve também Vítor Sobral, secretário executivo da Associação de Municípios do Baixo Sabor, apresentando o programa de empreendedorismo do Baixo Sabor para 2024. Este programa também é uma boa ajuda para quem quer ser o seu próprio patrão já que o programa para o próximo ano visa, acima de tudo, capacitar os interessados para poderem, autonomamente, saber elaborar um plano de negócios, um estudo de mercado e avaliar a situação económico-financeira do projecto de criação de uma empresa. A ideia é instruir as pessoas, capacitando-as como alguém que é portador de uma ideia de implementação de um projecto neste território. O programa é completamente gratuito para todos os empreendedores, com um prémio final para os melhores projectos, sendo que este é reeditado anualmente. “É algo estrategicamente fulcral para dizer às pessoas que estamos de portas abertas a apoiar qualquer tipo de ideia, investimento e projecto”, assinalou Vítor Sobral, dizendo que, com este programa, já houve 76 empresas a fixar-se neste território, foram criados mais de 120 postos de trabalho e investidos mais de quatro milhões de euros na região dos Lagos do Sabor.

Desempregados Outubro 2023 – 3162

-25 anos – 497 – 15,7%
25-34 anos – 627 – 19,8%
35- 54 anos – 1199 – 37,9%
+55 anos – 839 – 26,6%

Jornalista: Carina Alves/Ângela Pais

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