quinta-feira, 7 de março de 2024

Diversidade

Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Com o patrocínio do Expresso, a Merck promoveu um debate, com alguns reputados oradores, no âmbito da conferência que comemorou os 90 anos da farmacêutica, em Portugal, subordinado ao tema da equidade, diversidade e inclusão.
A poucos dias da realização de mais um ato eleitoral, para a Assembleia da República é da diversidade que mais interessa falar. Entre outras razões, pelo facto de ser um tema ausente da campanha (pelo menos até ao momento em que escrevo) apesar da sua inegável relevância. Hong Chow, vice-presidente-executiva da mais antiga farmacêutica do mundo e que está em Portugal há quase um século, não tem qualquer dúvida sobre as vantagens das equipas baseadas na pluralidade e diversidade de opiniões por serem mais criativas e, por essa razão, serem, igualmente, geradoras de melhores resultados financeiros. Igualmente perentório é o médico e cientista António Coutinho apontando a diversidade como a base estrutural da evolução e da cooperação.
E, porém, apesar de se pretender que a Assembleia da República, represente o povo português (é esse o sentido da eleição direta e universal), para em seu nome exercer o poder legislativo que há de condicionar a vida pública comum… a diversidade de uma comunidade plural e diversa não só não é replicada na multiplicidade das suas componentes como, frequentemente, é apontada não como uma mais valia, mas antes como uma dificuldade para o funcionamento eficaz daquele órgão de soberania. Paradoxalmente, a existência de um leque alargado de partidos, com relevância, é frequentemente apontada como um entrave à boa governança e, inclusive, há quem lamente a atual dissolução da Assembleia “apesar” da existência de uma maioria absoluta. Pode ser fácil e prático traçar os destinos do país, “sentado” num grupo monocórdico de deputados cuja razão de ali estarem é, precisamente, darem garantia de alinharem pela opinião da liderança partidária. Ora, a natureza, ao longo dos séculos e milénios de existência tem demonstrado sem quaisquer dúvidas que os sistemas mais estáveis e autossustentáveis são os que assentam na… biodiversidade. Uma análise simplista, imediatista e preguiçosa pode apontar a monocultura como a mais fácil de operar e, assim sendo, como a mais adequada para a obtenção de maior rentabilidade face ao trabalho a empregar. No imediato pode, muito bem ser mas, em pouco tempo se verá que, só por si, a homogeneidade de cultivo se traduzirá num desastre que se não forem tomadas medidas compensatórias acabará numa irremediável desgraça.
A proliferação de correntes ideológicas, podendo dificultar a constituição de um “governo estável” (os governos mais estáveis do mundo são liderados por déspotas e apoiado em partidos únicos) enriquecem a Câmara Legislativa que deve ser promovida e aprofundada, em todas as dimensões, não só política, mas igualmente de género, proveniência, formação e cultura, nas mais variadas formas e aspetos.
Não acredito em líderes ungidos nem tão pouco em lideranças iluminadas.
Acredito na pluralidade, no diálogo e, sobretudo, no respeito e valorização das diferenças individuais.

José Mário Leite
, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance), Canto d'Encantos (Contos) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

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