sábado, 1 de junho de 2024

Igreja de Nossa Senhora da Assunção, Vale de Nogueira. A Beleza retabular, pictórica e mística falam por si!

 Aldeia da freguesia de Salsas, designava-se Ribeira de Lourenço na Carta de Foral recebida a 6 de fevereiro de 1299, no tempo de D. Dinis. Vila e sede concelho, era relevante em termos de comunicações viárias, sendo entreposto do correio real com estalagem para muda de cavalos. Foi extinta como concelho em 1836, passando a pertencer ao de Izeda e, a partir de 1855, com a extinção deste, ao de Bragança. Além da Igreja Matriz, em Vale de Nogueira existe o Santuário do Divino Senhor da Agonia, no lugar de Chãos, na estrada Nacional N.º 15, e a capela de Santa Ana, no “Bairro” de Fernand.


A Igreja seiscentista de Nossa Senhora da Assunção apresenta frontispício com elementos do barroco, nomeadamente no frontão triangular: nicho vazado, concheado e jarro batismal; enquadrado por volutas e encimado por flor-de-lis; coroado por cruz da Ordem de Cristo. É ladeado por dois pináculos e dois óculos para entrada de luz para o cor-alto. A empena truncada do frontispício sobreleva campanário de duplo corpo. Quanto ao interior, além de coro-alto na parte fundeira, púlpito na nave e sacristia adossada à capela-mor, é de uma diversidade notável. Na nave, os primeiros altares confrontantes, de retábulo gémeo, em talha policromada e estilo rocaille, são dedicados a São Caetano, no lado do evangelho, e a Santo Estêvão, no da epístola. O de São Caetano, com o Menino ao colo, assenta em sotabanco, com frontal vidrado expondo o Senhor Morto; uma originalidade.

Seguem-se os altares confrontantes e gémeos junto do arco triunfal, estes de estilo barroco, dedicados a Santo António e a Nossa Senhora do Rosário. De eixo único e talha policromada e dourada, têm tribuna definida por pilastras e arcos recortados de volta perfeita, com colunas exteriores espiraladas, decoradas com vegetalismos e capitel coríntio.
Merece referência o sacrário tipo templete, com dossel festivo e porta ladeada por putti. Acrescente-se que no século XVIII Santo António teve Irmandade com 900 confrades, com bula pontifícia e jurisdição régia. A parte do tecto que confina com o arco triunfal apresenta caixotões emoldurados com pinturas hagiográficas. Os próximos do altar de Santo António aludem a episódios relativos ao Santo: Aparição de Jesus; Santo António com o Menino; pregação aos peixes; burro ajoelhado perante a Eucaristia. Os junto do altar de Nossa Senhora do Rosário dizem respeito à Anunciação, Visitação, Natividade de Belém e Apresentação do Menino no Templo. O arco triunfal, chanfrado e assente em colunas toscanas, é encimado por decoração festiva.
É apreciável a policromada beleza retabular e pictórica da capela-mor. O retábulo, do barroco joanino em cinco eixos, é composto por seis pilastras, decoradas a motivos vegetalistas, e seis colunas salomónicas de capitel coríntio, decoradas com pâmpanos, fénices e putti. O apainelado ático é definido por arquivoltas seccionadas por aduelas e rematado por um par de anjos a segurar coroa. O eixo central abre-se em tribuna com trono de três degraus, expondo pequeno crucifixo resplendoroso. É ladeado por dois painéis entre colunas contendo as imagens do Sagrado Coração de Jesus e de São Sebastião, do lado do evangelho e da epístola, respectivamente. Os eixos exteriores apresentam configuração retabular entre pilastras, com as imagens de Nossa Senhora da Assunção, Orago da Igreja, e de Nossa Senhora da Imaculada Conceição. Estão ‘protegidos’ por dossel circular com sanefas. As paredes da Capela-mor são forradas a caixotões de moldura dourada, com painéis pintados alusivos à paixão e crucificação de Jesus Cristo, que inclui instrumentos do martírio, do lado do evangelho, e cartelas legendadas referentes à Virgem Maria, do lado da epístola. De idêntico registo, no teto sobressaem 18 pinturas alusivas aos Apóstolos, Evangelistas e Santos.
Contemplamos, neste Templo, a Senhora da Glória, posicionada ao lado do seu Divino Filho!

Susana Cipriano e Abílio Lousada

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