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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 13 de junho de 2024

Tradições relacionadas com a comida e o comer

 
Senhora do Fastio
: quem tem fastio vai à capela da Senhora do Fastio, no Paço de Fontelo, em Viseu, e faz uma promessa de uma tigela, prato e colher, para sarar. Estive lá e vi exemplares.

As colheres são de pau, toscas, as mais pobres, e de lata de estanho. A maior parte das colheres é de lata, de um mesmo tipo, baratíssimas; havia uma gaveta cheia delas.

O pão deve pôr-se na mesa com o lar para baixo; se, por qualquer motivo fica com o lar para cima, volta-se logo: porque não foi ganho de barriga para o ar (Columbeira, Peral).

É pecado espetar o garfo no pão. Quererá dizer que é espetar o corpo de Deus?

Partir o pão quente com a faca corta as forças de quem o amassou (Óbidos).

Pedaço de pão que cai ao chão apanha-se, beija-se e come-se: «Apanha-o, beija-o e come-o», ouvi dizer na Ucanha, em rapaz.

Em Mangualde, Óbidos, Mondim, se cai o pão ao chão, sopram-lhe e beijam-no.

E 13 pessoas à mesa?

Não devem comer treze pessoas à mesma mesa, morrerá a que tiver um nome maior (Vila Real). Não se deve estar dinheiro em cima da mesa enquanto se come; é sinal de traição ou pobreza (Vila Real).

Entornar água na mesa de comer dá azar e entornar vinho, alegria (Alentejo). Entornar azeite no chão e partir vidros dá azar (Alentejo).

Quando se dá de comer ou beber a alguém que se engasga, supõe-se que foi dado com má vontade, mas se se sabe que não, costuma dizer-se: «Olhe que não foi dado de má vontade» (Barcelos).

Quando se está a comer e vem um pobre à porta, não se deve dar perdão, dizendo: «Perdoe, vá com Deus» (arredores de Lisboa).

A razão será a de que haverá sempre a ideia de que um pobre pode ser Jesus Cristo, tal como ocorre nos contos populares.

Quem come um fruto pela primeira vez num ano benze-se com ele, dizendo: «Deixa-me fazer novo. Em nome de Padre, Filho e Espírito Santo» (Alportel, Algarve).

Nas mesmas circunstâncias, na Beira, diz-se: «Ano melhor ano, Deus me deixe chegar ao ano.»

Ouvi que, em Coimbra, quando se come uma coisa pela primeira vez, se formulam três desejos.

Raparigas solteiras ao jantar

Num jantar em que há raparigas solteiras, se alguma oferece a um conviva palitos, não os deve escolher, senão não casa nunca, deve oferecê-los em conjunto (Lisboa e Castelo Branco).

Não é bom ficar com a toalha na mesa depois da comida, porque andam os anjos em volta, enquanto não se tira (Óbidos).

Não é bom aventar as migalhas da mesa ao lume, nem à rua, porque se aventa a fortuna (Tolosa).

Sacudir a toalha à noite para a rua é deitar fora o pão, isto é, impede-se que haja pão em casa (Lisboa).

Também se diz só: «Não é bom sacudir a toalha das migalhas para a rua.» Será por irem tocadas da boca e poderem fazer feitiço?

Será, apenas, porque são pão e este se não deve pisar?

Se depois de comer, vem o sono, é sinal de fortuna (Tolosa).

É costume, quando alguém abre uma garrafa com vinho, beber um pouco dele no seu copo. Diz-se que é por causa da cortiça.

Não terá isto relação com o que se faz na África Ocidental, onde, quando se bebe vinho de palma, a dona da casa bebe primeiro, para «enlever le fetiche»?

Fonte: “Etnografia Portuguesa” – vol.VI, J. Leite de Vasconcelos 

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