quinta-feira, 25 de julho de 2024

Falar precoce e falar tardio nas tradições do povo

 Acreditava-se antigamente no prodígio de haver crianças que falavam antes do tempo.
É verdadeiramente milagroso o facto narrado por Fernão Lopes e aproveitado por Luís de Camões nos «Lusíadas»:


Uma menina ter-se-ia levantando no berço, erguendo a voz a favor do Mestre de Avis (1).

Garcia de Resende, na Miscelânea e Variedade de Histórias, cita também um menino aparecido em Évora, que, não tendo atingido a idade de dois anos, entendia, falava e «era já bom latino».
Por seu lado as tradições populares, como o romance de Dona Silvana, vieram demonstrar-nos a existência da mesma tradição no meio do povo anónimo.
Perante as dificuldades observadas na fala das crianças era natural também que se imaginassem remédios para as debelar, arvorando-se santos patronos para defender a infância, entre eles S. Luís, que tem na freguesia de Sequeirô (Santo Tirso) a sua capelinha, aonde acudiam crianças dos arredores em busca da cura.
Quanto a Santa Clara a invocação é natural pois no seu culto o povo associou, como muitas vezes sucede, o nomen ao numen.
Entre os remédios citados o povo usa a água de chocalho e a água em que esteve de molho um bilro de fazer rendas, recurso explicável pela sonoridade do primeiro recurso e do movimento incessante do segundo instrumento.

(1) Crónica de D. João I por Fernão Lopes e Lusíadas, c. IV, est.ª Pelo Dr. Augusto César Pires de Lima

Fonte: “Guia oficial do I Congresso de Etnografia e Folclore” – Braga e Viana do Castelo – 22 a 25 de Junho de 1956 (texto editado e adaptado) | Imagem (meramente ilustrativa): “Ao serão” – António Christo Fragoso (“Boletim Fotográfico”, nº041 – 1903

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