quarta-feira, 24 de julho de 2024

Festival da Lombada em Bragança recupera viveres da aldeia

 A 24.ª edição do Festival da Lombada, em Palácios, no concelho de Bragança, arranca na sexta-feira e, ao longo de três dias, vai recuperar os viveres da aldeia.


Segundo Bruno Aliste, da organização, os participantes vão poder experimentar e aprender na localidade onde durante o ano moram 25 pessoas, a maioria idosos, viveres na agricultura, no cancioneiro popular ou nos acontecimentos do dia a dia, como cozer pão, fazer cestas ou espantalho e saber interpretar o toque do sino da igreja.

“O objetivo do festival é reviver os tempos antigos e ensinar aos mais novos como é que se fazia. Os mais velhos lembram o que faziam e os mais novos aprendem, até porque, um dia, poderão ter necessidade de o fazer”, disse o presidente da Associação Cultural, Recreativa e Ambiental de Palácios.

No primeiro dia vai ser possível aprender a amassar e cozer pão em forno a lenha. Sábado é dedicado à ceifa e à malha sem mecanização, que completam o ciclo do cereal, que estava na base da alimentação.

A acompanhar, vai estar a gastronomia típica: “Temos as pataniscas de bacalhau, as sopas da segada, que levam vinho, o arroz doce e o pão cozido no dia anterior”, enumerou Bruno Aliste.

Este ano, a malhadeira rudimentar, mas mecânica, fica parada, e a força é braçal, com o malho - um instrumento de pau usado para separar o grão da espiga. 

Há ainda espaço para a música e para os saberes que uniam a população, tendo Bruno Aliste referido que foi feita uma recolha de cantigas tradicionais, que ficaram registadas num álbum.

“À parte agrícola juntámos a musical, que na verdade já estava junta. Porque todos os trabalhos agrícolas têm cantigas associadas. Vamos ter toques religiosos, e não só, que se faziam no sino da igreja e que ainda hoje se fazem”, explicou.

Estes toques, detalhou o responsável, serviam para dizer que a missa ia começar, informar que alguém morreu, juntar as pessoas em caso de emergência, como num incêndio, ou avisar o povo que era preciso reunir o conselho popular.

“Dava-se na noite anterior dois toques no sino e as pessoas já sabiam que no dia seguinte era preciso reunir o concelho, por exemplo, para fazer um trabalho comunitário. Era a forma que havia de comunicar entre todos rapidamente. Era o grupo do WhatsApp da altura”, riu-se Bruno Aliste.

O festival, que para o ano assinala o quarto de século de existência na zona da Lombada, que pertence ao Parque Natural de Montesinho, assume que não quer ser de massas mas já atrai visitantes, entre eles estrangeiros.

TYR // JAP
Lusa/Fim

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