terça-feira, 30 de julho de 2024

Investigação arqueológica no Côa revela pinturas do pós-paleolítico, as primeiras na região

 Investigadores da Universidade de Coimbra puseram a descoberto, pela primeira vez no Vale do Côa, uma rocha pintada com motivos associados à arte levantina da pré-história pós-paleolítica, disse hoje à agência Lusa a presidente da Fundação Côa Parque.


“Trata-se de uma rocha pintada com alguma espetacularidade iconográfica na vertente sobre o Côa, juntando-se a algumas das mais icónicas rochas gravadas do Paleolítico Superior do Vale do Côa. Trata-se de um novo conjunto, desta feita pintado, com motivos que se enquadram nos milénios da pré-história pós-paleolítica”, explicou Aida Carvalho.

Até aqui, no Vale do Côa, eram conhecidas rochas picotadas representado motivos da fauna daquele território de há cerca 25.000 a 30.000 anos, com destaque para auroques (boi selvagem), cavalos, cabras e cervas, entre outros.

De acordo com Aida Carvalho, “as figuras pintadas nesta rocha são de grande originalidade no contexto da Arte do Côa e facilmente apreensíveis por qualquer pessoa, complementando assim de maneira muito feliz aquele que já é um percurso especial e ímpar na visitação do território do Côa”.

“São pequenos núcleos de pintura, agora descobertos, associados à chamada arte levantina. Esta nova descoberta é fundamental para o Parque Arqueológico do Vale do Côa, porque denota a presença humana, que foi sucessivamente gravando ao longo de um largo período da pré-história [testemunhos] fundamentais para reforçar os círculos artísticos neste território”, vincou Aida Carvalho.

Vários investigadores indicam que a arte levantina se expressa sobretudo em pintura, centrada na figura humana e na sua representação, muitas vezes com alusão à natureza e a situações do quotidiano. São pinturas, gravuras e desenhos que podem ir de simples linhas ou sinais, a cenas de caça, localizadas em paredes de grutas, cavernas ou abrigos.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) inscreveu a arte rupestre levantina ibérica, incluída no Arco Mediterrânico, na lista do Património Mundial da Humanidade, em 1998.

A equipa de investigadores da Universidade de Coimbra está a trabalhar na datação exata das pinturas agora descobertas no Vale do Côa, e no processo de verificação dos motivos representados, para estudos que serão apresentados a breve prazo.

Segundo Aida Carvalho, a localização desta nova rocha facilita o acesso de logística de apoio, o que também deverá promover uma melhor experiência da visita ao parque arqueológico, no futuro, sem aumentar a pressão humana sobre este sítio em particular. “Este será um motivo para a revisitação à Arte do Côa”, concretizou Aida Carvalho à Lusa.

Nesse contexto, um cais palafítico, segundo a responsável, poderá vir a revitalizar as visitas nesta área do parque.

“A colocação de um cais palafítico sobre o Côa, para jusante deste sitio, permitiria a fácil atracagem da embarcação eletrossolar da Fundação Côa Parque, eliminando o custo ambiental dos combustíveis fósseis e permitindo uma muito maior facilidade no acesso ao acervo de rochas decoradas, selecionadas para visita”, indicou a presidente da Fundação.

Quando da criação do Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC), em agosto de 1996, foram identificadas 190 rochas com arte rupestre. Atualmente são 1511, das quais 38 são pintadas, que representa um total de 15.661 motivos identificados, em mais de uma centena sítios distintos, sendo predominantes as gravuras paleolíticas, executadas há cerca de 30.000 anos.

“Trata-se de um ciclo artístico que nunca foi interrompido, ao longo de mais de 30.000 anos”, rematou Aida Carvalho, em declarações à Lusa.

A arte do Côa foi classificada como Monumento Nacional em 1997 e, em 1998, como Património Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

Como uma imensa galeria ao ar livre, o PAVC ocupa 20 mil hectares de terreno que estão distribuído pelos concelhos Vila Nova de Foz Côa, Mêda, Pinhel e Figueira de Castelo Rodrigo, no distrito da Guarda, a que se junta o concelho de Torre de Moncorvo, no distrito de Bragança, com manifestações de arte rupestre.

Francisco Pinto, da agência Lusa
FYP // MAG
Lusa/fim

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