Segura-te bem Meu Amor

 O nosso mundo continua à deriva e nada querem fazer para que seja diferente. Este mundo, e a nossa terra, precisam de gente que veja com nitidez o que, de facto, faz falta às pessoas e porventura talvez esteja na tua geração a derradeira esperança de paz, liberdade e respeito pela Mãe Terra. Gasta-se nos gabinetes, nos tachos, na corrupção e nos “arranjinhos” o dinheiro que deveria servir para “agarrar” as pessoas à Terra e para criar cidadãos solidários e responsáveis.
Vou-te contar umas coisas que não se resolvem com “likes” no facebook, nem com fotos bonitinhas.
Queria confirmar-te que quem manda no mundo é um monstro mau chamado Capital Financeiro. É a mesma coisa que dizer que quem manda no mundo é quem tem muito dinheiro e muito poder. Mas não me entendas mal, não tem mal nenhum ter dinheiro, mesmo que seja muito, se for ganho com trabalho honesto e os lucros forem divididos por todos os que ajudaram a que fosse criada essa riqueza. Esses donos do mundo de que te estava a falar, são muitos e não têm cara porque se escondem. Os que os representam e vão “pagar” se correrem mal as negociatas, são os chamados “Testas de Ferro”. Criam "sociedades" e mudam-lhes o nome quando lhes convém. Mentem e todos sabem. Chama-se abrir falência. Não pagam a quem devem e ficam impunes. Logo de seguida abrem, ou fundam, outras empresas e continuam com os mesmos comportamentos.
Colocam a mandar nos Países quem querem e lhes apetece. Colocam ditadores, que são homens maus, e a seguir tiram-nos de lá, matam-nos conforme lhes convém. Até lhes dão armas para poderem matar e depois matam-nos a eles quando deixam de lhes interessar.
Mas olha que nos países que se dizem democráticos “a coisa”, apesar de ligeiramente melhor, não anda ainda capaz de fazer felizes as pessoas.
Nesses países as pessoas podem votar. Quer isso dizer que são as pessoas que escolhem aqueles que vão governar esses países. Compram-se votos e “pessoas”… acredita. E esses vendilhões ficam sempre impunes. Pois fica sabendo que muitas vezes, são escolhidos Ladrões, Malfeitores, Corruptos…que, depois de descobertos, nunca são punidos. E mesmo que o sejam, quando saem da prisão o povo volta a votar neles como se fossem homens e mulheres honestos e entregam-lhes, novamente, as chaves dos cofres e das decisões que a nós nos podem fazer felizes e homens livres… Ou escravos.
Os donos dos bancos, que se chamam banqueiros, roubam milhões e milhões do dinheiro que as pessoas depositam nos bancos. Arruínam os bancos, dão dinheiro à família e aos amigos e depois sou eu e todos os que pagam impostos que temos que voltar a meter mais dinheiro nos bancos, dinheiro esse que podia servir para construir hospitais, escolas, lares para idosos que podiam ser iguais a hotéis de 5 estrelas.
Estes Países, ditos democráticos, também são governados por um monstro. Chama-se Cunha. Mas, disso, falamos na próxima conversa.
Custa a acreditar, com tanto dinheiro no mundo, que existam meninos da tua idade que estão a morrer de fome, de frio, de sede e com falta de tratamentos médicos.
Alguns Países fingem que querem paz na terra mas é mentira. Dizem uma coisa e fazem outra. Oferecem umas fisgas a uns e vendem milhões de armas aos outros e que lhe rendem biliões.
Eu sei que te custa a acreditar mas sabes bem que não te ia mentir.
Por estas e por outras, é que te peço que te agarres bem.
Cada vez dás mais importância a estas coisas, eu sei.
Ouve mais esta.
Há muitas pessoas, iguais a nós, com casa, trabalho, bens, família, que estão a fugir dos países deles. Os países deles estão em guerra. Na guerra morrem pessoas, perde-se tudo. Os bens, o trabalho, a família…tudo. Morre-se na guerra. Não querem muito. Só querem poder viver, trabalhar, ter família… tentarem ser felizes.
Sabes o que dizem alguns homens da minha idade? Outros mais novos e outros mais velhos?
Dizem que aqueles que fogem da guerra são todos terroristas, bandidos, assassinos e que não podem vir para cá.
Achas que faz sentido abandonar tudo o que se tem, sabendo que as probabilidades de morrer pelo caminho, são inúmeras?
O Avô quer dizer que milhares dessas pessoas que fogem, dos países deles, vão morrer antes de chegar a qualquer destino. Os Avôs, os Pais, os Filhos, os Netos.
O mundo tem na decisão do seu destino o ÓDIO e a falsidade, o corporativismo, a ambição e a prepotência.
Não te aborreço mais por hoje.
Meu Amor…
Talvez vós… um dia...

Beijos do Avô. 
HM

Parque Natural de Montesinho assinala 45 anos com novos projetos

 O Parque Natural de Montesinho (PNM) assinalou ontem os 45 anos com a apresentação de dois novos projetos e procura financiamento na ordem dos 64 milhões de euros para mais investimentos, referiu Sandra Sarmento, do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).


A diretora regional do norte do ICNF considerou à Lusa que o modelo de cogestão da área protegida implementado há quase três anos e que integra também os municípios de Bragança e Vinhais e várias entidades e associações locais, foi “um marco”.

Sandra Sarmento referiu ainda que neste período foi investido no parque cerca de um milhão de euros provenientes do Fundo Ambiental e que com a entrada mais recente na cogestão da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, estão a procurar fontes de financiamento para os projetos que integram o plano de cogestão.

“Temos trabalhado com a Comissão para encontrar fontes de financiamento (…) que forem possíveis para apoiar as ações que temos previstas. O plano envolve um conjunto de ações com um valor significativo, que ronda os 64,5 milhões de euros.”, afirmou Sandra Sarmento.

Hoje, no dia aberto do PNM, foram apresentados na aldeia de Vilarinho dois novos projetos - o “Experienciar Montesinho”, que é uma aplicação para dispositivos móveis para ajudar na visita à área protegida, e o “Montesinho para todos”, que inclui a criação de um centro de apoio aos percursos pedonais, trilhos ou rotas interpretativas.

Foi ainda inaugurado um centro interpretativo na aldeia de Montesinho.

O PNM perdeu quase 500 hectares num incêndio que deflagrou a 10 de agosto. De acordo com os dados divulgados pelo ICNF, arderam 445,331 hectares, a grande maioria, cerca de 421, mato. 

Questionada sobre os pedidos feitos após a extinção das chamas, nomeadamente por Paulo Xavier, presidente da câmara de Bragança e que acumula o cargo da presidência da cogestão do PNM, sobre a necessidade de revisão do ordenamente e do plano contra incêndios na zona, para que sejam melhoradas as áreas de contenção à volta da população e as redes viárias, Sandra Sarmento revelou que está em curso o processo de recondução do plano de ordenamento do PNM.

“Contratámos uma empresa e estamos a trabalhar. O processo de recondução de plano a programa está em curso. Nesse processo vamos implementar as alterações, os ajustes, os acertos que forem necessários. Naturalmente não será possível acolher tudo, mas faremos o nosso melhor para garantir que vamos ao encontro também das ambições das populações”, garantiu Sandra Sarmento, acrescentando que, depois de concluída esta etapa, haverá uma consulta pública. 

Sobre as antigas casas da floresta, atualmente sem uso e degradadas, a diretora regional disse que algumas serão recuperadas em projetos já previstos, outras está a ser avaliada a possibilidade de recuperação para lhes serem atribuídas novas funções e o ICNF está ainda disponível para protocolos de colaboração com privados.

Sobre a possibilidade de o PNM voltar a ter um diretor, Sandra Sarmento comentou apenas que está previsto que alguns parques possam voltar a ter essa figura, mas que no momento não consegue adiantar mais informações.

“A mensagem [que queremos deixar] é que temos vindo a apostar numa gestão de proximidade, colaborativa, que envolve as pessoas para encontrar formas de apoiar e ajudar nas estratégias que se vão desenhando para o território”, rematou, em jeito de resumo, a dirigente do ICNF, vincando que a instituição está sempre disponível para novos projetos que vão ao encontro das expectativas da população que se enquadrem no “espírito de uma área protegida”. 

O PNM foi reconhecido a 30 de agosto de 1979. Tem cerca de 75 mil hectares nos concelhos de Bragança e Vinhais, a Terra Fria Transmontana, e inclui 92 aldeias.

TYR // CC
Lusa/Fim

Miradouros sobre o Douro e o Tua, maçãs, vinho e azeite são tesouros para descobrir em Carrazeda de Ansiães

 Com peculiar geografia, Carrazeda de Ansiães descobre-se no perfume de maçãs singulares, vinho e azeite. Na terra delimitada pelos rios Douro e Tua, a viagem faz-se por estradas panorâmicas ao encontro de miradouros que desvendam uma "Paisagem Cultural Evolutiva e Viva", e por trilhos em pleno Parque Natural Regional do Vale do Tua. Roteiro de Fim de Semana é uma iniciativa Boa Cama Boa Mesa, com o apoio do Recheio.

Maçãs sumarentas, cultivadas em altitude, vinhos e azeites afamados motivam a Feira Anual de Carrazeda de Ansiães. Com geografia ímpar, este concelho antigo é uma das portas do Vale do Tua e oferece esplêndidas panorâmicas sobre as encostas do Douro.

Tidas por muitos como “as melhores maçãs” do país, o fruto é símbolo de Carrazeda de Ansiães, um dos municípios situados mais a sul de Bragança. A terra, marcada por forte ruralidade, localiza-se junto aos rios Douro e Tua, e está rodeada por Alijó, Murça, Mirandela, Vila Flor, Torre de Moncorvo, Vila Nova de Foz Côa e São João da Pesqueira. O enumerado de locais faz crescer ainda mais a vontade de planear uma viagem à região.

Ansiães explora uma grande variedade de recursos agrícolas. A vinha ocupa sobretudo os habitantes das aldeias que se implantam dentro da área da "Paisagem Cultural Evolutiva e Viva", classificada como Património da Humanidade pela UNESCO, onde nasce o precioso e afamado vinho do Porto, a que se junta o azeite e a maçã. Aos emblemas dos férteis campos de Ansiães acrescenta-se a laranja, o figo, a castanha, a batata do planalto e o queijo que integram o vasto rol de produtos da região. À mesa brilham ainda as carnes e o peixe do rio.

Parque Internacional de Escultura

Estradas panorâmicas e parque internacional de escultura

Pela região, multiplicam-se as estradas panorâmicas que conduzem a miradouros sem fim num imenso planalto. 14 freguesias perfazem este concelho onde o património natural e arquitetónico convive com o arqueológico e o cultural.

Aproveitando a pedra mais típica da região, o granito, 12 artistas, nacionais e internacionais, interpretaram a seu modo diversos temas relacionados com a arte e a vida. O resultado pode ser apreciado em permanência no Parque Internacional de Escultura de Carrazeda de Ansiães, em plena área urbana, constituído por doze esculturas em granito. Também escultor, Alberto Carneiro é homenageado em permanência na galeria Alberto carneiro, onde se descobre o trabalho do artista local, interpretando paisagens entre desenhos e esculturas.

Carrazeda de Ansiães

Sete miradouros que são varandas sobre a paisagem

A localização geográfica do concelho de Carrazeda de Ansiães é interfluvial. Demarcado a Sul e a Oeste pelos encaixados vales dos rios Douro e Tua e a Norte e Nordeste pela imensidão de um planalto, há miradouros em abundância. Sete sobressaem entre os inúmeros da região, que merecem visita para se deslumbrar com as diferentes cores da paisagem, a saber, Miradouro da Brunheda, da Fraga da Ola, da Senhora da Graça, da Senhora da Saúde, do Senhor da Boa Morte, e de São Lourenço. A aliar a paisagem rural e fluvial, o Miradouro do Douro fica localizado na meia encosta, voltado ao Rio Douro e perfeitamente integrado na paisagem, deixa admirar toda a envolvente duriense feita de vinhas, quintas, povoados ribeirinhos e o próprio rio. Já o dos Olhos do Tua situa-se no limite nordeste da aldeia de Castanheiro do Norte e presenteia com uma panorâmica sobre um amplo troço do vale do rio Tua. A estrutura do miradouro tem assinatura do escultor Paulo Moura, assim como acontece com o miradouro de São Lourenço.

Castelo de AnsiãesFoto: DRCN - Francisco Piqueiro

Mais de cinco mil anos de história

A joia da coroa do património é a Vila Amuralhada de Ansiães, chamado de Castelo, Monumento Nacional desde 1910. É fortificação com mais de cinco mil anos de história, que foi importante baluarte defensivo durante a Reconquista Cristã e uma das cinco mais antigas do território que hoje é Portugal. Dentro das muralhas encontra a Igreja de S. Salvador, cujo tímpano “Pantacrator” do portal principal com iconografia de “cristo em majestade” constitui o mais completo exemplar do românico português. A curta distância encontra o Centro Interpretativo do Castelo de Ansiães, um espaço dedicado ao Castelo de Ansiães e à história do concelho erguido das ruínas de uma casa tradicional (Tel. 278618253). Na vila, percorra o Museu Internacional de Arte Contemporânea ao Ar Livre, constituído por dez núcleos de esculturas em granito, que refletem visões de dez escultores de renome internacional. Dê um salto ao Núcleo Museológico do Azeite que integra o Museu da Memória Rural (Tel. 278638081) e contacte com os protagonistas de velhos ofícios como o tanoeiro, o canastreiro, o pastor. A cultura rural, as tradições, o património imaterial da região duriense e transmontana mostram-se aqui em imagens, ferramentas, textos e livros para aprender sobre o ciclo da lã, o azeite, o vinho e o pão.

Percurso Pedestre Senhor da Boa Morte

Caminhar junto ao Tua e desfrutar de águas medicinais

Em Carrazeda de Ansiães, as caminhadas pela natureza permitem conhecer paisagens dos vales dos rios Douro e Tua, património histórico e cultural, museus, gastronomia e vinhos. O Parque Natural Regional do Vale do Tua, área com mais de 1100 espécies de animais, tem vindo a inaugurar mais trilhos, alguns com vista para o rio Douro, nas áreas de Vilarinho da Castanheira, Pinhal do Douro, Ribalonga e Linhares. Percurso circular com cerca de 12 km, a Pequena Rota “Trilho de São Lourenço”, tem início e fim no painel informativo localizado na aldeia de Pombal, próximo da Igreja de S. Lourenço de Pombal. Segue em direção ao Miradouro da Calçada de S. Lourenço e percorre toda a Calçada até à aldeia de São Lourenço. Atente que é um trilho algo exigente. Nesta aldeia, conhecida pelas Termas de águas quentes medicinais (Tel. 278669041), existe uma derivação até à antiga estação de São Lourenço, atualmente cais utilizado por barcos que efetuam a ligação entre a barragem de Foz Tua e a aldeia da Brunheda. Saindo de São Lourenço, o trilho segue em direção ao miradouro de Barrabás. Ao longo deste troço existe a possibilidade de optar por uma derivação até muito próximo do rio Tua, onde outrora existia a estação de Santa Luzia. Esta Pequena Rota percorre a micro reserva de São Lourenço, onde florestas e afloramentos rochosos são o habitat de uma enorme variedade de espécies de plantas e de animais.

Anta de Zedes - Foto: Leonel de Castro

Viajar entre épocas pelo castelo, antas e pinturas rupestres

Para além do Castelo de Ansiões, monumento com mais de cinco mil anos de história, imperdível para os interessados em pinturas rupestres pré-históricas é o Cachão da Rapa, um dos mais importantes sítios da pintura rupestre pré-histórica portuguesa. As pinturas organizam-se na planura lisa e vertical de um painel granítico com mais de quatro metros de altura. Acredita-se que estas pinturas tenham sido feitas entre a idade do cobre (3.300 – 1.200 a.C.) e a idade do bronze (3.300 – 700 a. C). Existem duas antas que merecem visita em Ansiães. A Anta de Zedes, uma estrutura com oito esteios imbricados, incluindo a pedra de cabeceira e a respetiva tampa do monumento funerário, que é um dos monumentos mais divulgados e estudados da região transmontana, e a Anta de Vilarinho da Castanheira, ou Pala da Moura como também é conhecida, localizada junto ao complexo de moinhos do Ribeiro do Coito, sendo este visitável mediante marcação.

Casa dos Cantoneiros – Foz Tua Wine House

Vinho, pão e petiscos

O vinho é um dos motores económicos locais e há vários produtores na região como Grambeira, Bulfata, Pala da Lebre, Trovisco ou Douro Ansiães, citando apenas alguns nomes de produtores. Localizada às portas da história Estação Ferroviária do Tua, a adega Foz Tua (Tel. 919995548) proporciona provas de vinho e visitas à vinha, localizada a cinco minutos de carro da adega. Na localidade de Foz-Tua, onde muitos chegam de comboio, encontra o Centro Interpretativo do Vale do Tua (Tel. 278098884). Desde a estação ferroviária há um percurso pedestre com 3,5 quilómetros de extensão que leva o visitante até um miradouro onde é possível ver de perto do paredão da barragem de Foz-Tua, bem como a central hidroelétrica desenhada por Eduardo Souto de Moura. Junto à EN212 e à ponte sobre o rio Tua encontra a Casa dos Cantoneiros – Foz Tua Wine House, ponto turístico gastronómico com vinhos, azeites, mel, frutos secos, compotas caseiras de maçã, abóbora, cereja, amora silvestre, onde o vinho é vendido à garrafa ou ao copo, há tábuas de enchidos e queijos e azeite para molhar o pão (Tel. 278098479). Em Ansiães conheça ainda as vinhas com vista para o Douro, na Quinta da Senhora da Ribeira, da casa Symington, onde nasceu o Dow’s Vintage Porto, o melhor vinho do mundo de 2011, segundo a Wine Spectator.

Cortejo etnográfico da Feira da Maçã, do Vinho e do Azeite

Feira da Maçã, do Vinho e do Azeite

Com quase três décadas de existência, a Feira da Maçã, Vinho e Azeite completa a 27ª edição. Até dia 1 de setembro é possível visitar o mais importante certame de Carrazeda de Ansiães que tem como objetivo a promoção e venda de produtos regionais, com particular destaque para o vinho, a maçã e o azeite. Estes três produtos ocupam mais de 1100 metros quadrados, mas não deixe igualmente de provar o mel, doces regionais, folares, bolas de carne, queijos, fumeiro e enchidos e de conhecer e adquirir diverso artesanato local. No total participam 125 expositores, 25 dos quais dos produtos âncora do concelho. Viaje pela cultura rural da região e desfrute da animação musical, onde sobressai o cortejo etnográfico que envolve mais de 20 associações locais e a atuação de grupos da região, quer em palco quer nas arruadas, que espalham música pelas principais ruas da vila. No domingo decorre a procissão de órgãos concelhios que percorre as principais artérias de Carrazeda.

Calça Curta

Comer à beira do Tua

A gastronomia transmontana é suculenta e Carrazeda junta à mesa o melhor de dois mundos: carnes e peixes do rio. Um desses exemplos é o restaurante Calça Curta (tel. 278685255), selecionado para integrar o Guia Boa Cama Boa Mesa de 2024 e com a distinção Selo de Qualidade Recheio. Situado entre água e terra, de um lado encontra o rio Tua e do outro lado a Estação Ferroviária. Local de peregrinação gastronómica, visite este estabelecimento e experimente os “Peixes de rio”, o “Cordeiro mirandês” que é apenas servido ao sábado, e, ao domingo, saboreie o “Cabrito transmontano”. Nos pratos especiais destacam-se o “Javali estufado”, os “Secretos de porco preto” e o “Arroz de lebre”, este feito por encomenda. Outra sugestão do Guia, em pleno centro da vila, é a Taberna da Helena (Tel. 278615083) especializada em cozinha regional. Montra de diversos produtos locais, que também se vendem à entrada do espaço, oferece diversos petiscos para acalentar a tarde, com destaque para a “Merenda transmontana, a que não falta pão, queijos e enchidos e, nos principais, a “Espetada de polvo” e a “Costeleta de vitela” como emblemas da ementa.

Grapple Hotel & SpaLeandro Miguel Ramos

Alojamentos que são hinos ao vinho, ao azeite e à maçã

São dois os alojamentos aconselhados pelo Guia Boa Cama Boa Mesa 2024 e distinguidos com Selo de Qualidade Recheio. O Casal de Tralhariz (Tel. 932909622) está integrado numa quinta produtora de vinho e azeite, o “ouro líquido” homenageado nos nomes das acomodações que fazem referência às variedades de azeitona. A casa é a Cobrançosa e os estúdios são Madural, Verdeal e Cordovil. Desfrute da piscina no sossego da paisagem da quinta repleta das vinhas e pinhais. O Grapple Hotel & Spa (Tel. 278616055) é um alojamento inspirado na uva e na maçã, produtos da terra. O hotel organiza provas de vinho e oferece a possibilidade de usufruir da piscina, Spa com jacuzzi, sauna, banho turco e um imponente lago.

Maçã de Carrazeda de AnsiãesFoto: Leonel de Castro

Roteiro de fim de semana é uma iniciativa Boa Cama Boa Mesa, com o apoio do Recheio, que semanalmente, ao longo do ano de 2024 vai dar a conhecer os principais eventos gastronómicos, entre festivais, feiras e mostras, que promovem regiões, restaurantes e produtos locais.

Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver código de conduta), sem interferência externa.

Ver AQUI a publicação original.

BCBM

"Introdução à Medicina de Asininos - as diferenças entre o burro e o cavalo"

 A AEPGA - Associação para o Estudo e Protecçao do Gado Asinino e o EQUIRA (núcleo de equinos da Associação de Estudantes de Medicina Veterinária da Universidade Lusófona), vão realizar no dia 28 de Setembro de 2024, a formação: "Introdução à Medicina de Asininos - as diferenças entre o burro e o cavalo", na Quinta Pedagógica dos Olivais, em Lisboa.
Por ser uma espécie diferente do cavalo, com necessidades específicas em termos de comportamento, alimentação e cuidados veterinários, a abordagem clínica a um asinino pode muitas vezes ser um desafio. Projetada para estudantes, médicos e enfermeiros veterinários, esta formação centrar-se-á nas diferenças encontradas na prática clínica. Teremos uma pequena componente prática com exemplares de raças asininas autóctones residentes na Quinta Pedagógica dos Olivais.

Esperamos contar com a tua presença neste evento! Sabe mais informações, consulta o programa, e faz a tua inscrição AQUI.

RAID IBÉRICO celebra 20 anos e Bragança é o Ponto de Partida

 Mais um ano, e mais uma vez, o Raid Ibérico ficou lotado com 55 elementos divididos por 32 aeronaves. O ponto de partida será em Bragança no dia 1 de setembro.


Já são duas décadas a explorar Portugal e Espanha de avião. A vontade de voar, de descobrir cantos e recantos de Portugal e Espanha e a ânsia de participar nos convívios aeronáuticos esgota todos os anos o número máximo de lugares admitido pela organização.

Segundo a organização, a procura pelo evento é notória e por esse motivo teve de rejeitar inscrições já que, por questões e segurança e de logística, tem o limite de 55 participantes.

O Raid é organizado em conjunto pelo Aeroclube Bragança (ACB) e a Fundacion Cielos de Léon, de Espanha, acontece de 31 de agosto a 7 de setembro, com a chegada dos participantes novamente a Bragança.

“Em Bragança vamos fazer um almoço convívio, não apenas com os participantes no Raid Ibérico, mas também com os sócios e amigos do ACB, para assinalar este 20º aniversário”, explica Nuno Fernandes, presidente do ACB.

No dia 1 de setembro acontece a primeira etapa, com partida de Bragança em direção a Alverca, seguindo depois para Beja e depois para várias cidades do sul de Espanha. “O Raid Ibérico é sempre uma iniciativa de promoção dos dois países, com especial incidência na província de Leon e no distrito de Bragança, porque desses dois territórios são oriundos os aeroclubes responsáveis pela organização”, refere.

“Em todas as cidades que visitamos há sempre programas culturais que nos permitem conhecer alguns pontos, outras cidades e vilas próximas”, acrescenta.

Em cada local de paragem o grupo de 55 elementos tem programas sociais, que incluem visitas a locais de interesse cultural, paisagístico ou patrimonial, bem como experimentação da gastronomia característica do território visitado.

Este ano Raid Ibérico conta com o apoio da Força Aérea Portuguesa, nas Bases Aéreas de Alverca e de Beja, e também dos municípios de Bragança e Beja.

Jornalista: Rita Teixeira
Foto: ACB

Música tradicional misturada com roupagens contemporâneas invade Praça das Eiras, em Macedo de Cavaleiros

 A Praça das Eiras, em Macedo de Cavaleiros, recebe hoje e amanhã, a XX edição do Festival Internacional de Música Tradicional, que este ano aposta num cartaz com dois nomes provenientes de Macedo de Cavaleiros, o grupo Batucada e Ambria Ardena, mas não só. A animação de rua está garantida pelas ruas do centro da cidade de Macedo de Cavaleiros, com tantos outros nomes, que fazem parte do espetro musical tradicional, como conta Benjamim Rodrigues, o presidente da câmara municipal:


Além das Ambria Ardena e dos Batucada, jovens talentos da nossa terra, estão envolvidos também outros grupos locais, como o Rancho do Grupo Cultural e Recreativo da Casa do Povo de Macedo de Cavaleiros, Pauliteiros de Salselas, Bombos de Ala e Abelhudos. Portanto, são todos grupos de percussão muito bons, e não só e que têm um cariz popular muito incrementado, com muito atratividade para a população em geral.

As expetativas são as melhores:

É sempre muito difícil avaliar o número de pessoas que vêm para assistir, habitualmente, o anfiteatro da Praça das Eiras fica bem preenchido. A expetativa é a melhor, é sempre de muita gente.

Hoje, sobem ao palco, Balklavalhau e Batucada. Amanhã é a vez de Crua e Ambria Ardena.

O grupo Balklavalhau nasceu 2021 no Porto, e é constituído por 5 elementos e promete fazer uma viagem sonora pelas tradições da Europa de Leste, com mistura de música latina, árabe e eslava.

Batucada é composto por dois macedenses, Bruno e António, misturam a música tradicional da gaita de foles, com a eletrónica.

O grupo surgiu agora para preservar as tradições mas com inovação. O publica vai ficar a conhecer o single “Filho do Vinho”.

Crua é um grupo do Porto, é a banda de Ana Costa, Ana Trabulo, Diana Ferreira Martins, Isabel Martinez, Liliana Abreu e Rita Só, que juntaram depois da pandemia. Este grupo explora a música tradicional, através de uma “viagem pessoal pela raiz ibérica, oferecida a quem vê e ouve como uma conversa de amigas em horas soltas”. “Canção da vindima”, “Mãe dos trabalhos” e “barciademera” são três dos temas que cantam.

Ambria Ardena é um grupo de Macedo de Cavaleiros, de 5 mulheres, Carla Germano Lopes, Julieta Carneiro, Lisa Eugénio, Marta Serapicos e Sofia Alves de Sousa. O grupo teve início em finais de 2022. A génese das Ambria Ardena tem como objetivo preservar o dialeto transmontano, com referências claras, à cultura dos Caretos, ao fantasmagórico dos antepassados transmontanos com a ligação às bruxas, e a evocação das músicas da avó Engrácia, com temas como “O tu que tens ó D. Fernando”, “Prima” e a famosa “Rosinha” que costuma ser o ponto máximo de cada concerto.

A animação de rua está a cargo do Grupo Cultural e Recreativo da Casa do Povo de Macedo de Cavaleiros, Pauliteiros de Salselas, Bombos de Ala e Abelhudos. A organização do festival está a cargo do Município de Macedo de Cavaleiros. Os espetáculos têm às 21h00 com a animação de rua até à Praça das Eiras.

Escrito por Rádio ONDA LIVRE

Junta de Freguesia de Macedo de Cavaleiros já ofereceu mais de cinquenta Kit’s Pro Bebé desde que implementou a medida

 A Junta de Freguesia de Macedo de Cavaleiros está a oferecer Kit´s ao bebés recém nascidos na cidade. A este conjunto de prendas de boas vindas, junta-se um cartão Pró Bebé, que dá desconto de 10 % nos produtos comprados nas quatro farmácias de Macedo de Cavaleiros, para os bebés até aos 3 anos.Para além disso, também é oferecido um babygrow realizado por artesãs locais, de forma a promover os produtos endógenos e artesanais.


Sérgio Borges, presidente da Junta de Freguesia de Macedo de Cavaleiros, destaca que esta é uma medida de apoio à natalidade para colmatar a desertificação:

Estamos numa região no interior em que cada temos menos população, e mais envelhecida. E porque não dar um apoio, aos jovens pais que querem constituir família e queremos que eles fiquem cá, na nossa terra. Então lembramos deste pequeno apoio à natalidade que seria uma maneira de colmatar essa falta de apoios para os jovens pais, na nossa terra.

Em 2022 quando a iniciativa teve início foram entregues 22 kit’s, no ano seguinte 20 kit’s. E este ano já foram entregues 11 conjunto de prendas aos pais.

A reação dos pais é sempre muito positiva, sendo este um apoio singelo, acrescenta o presidente da junta:

Os pais costumam reagir bem, é um pequeno apoio, podiamos ajudar um pouco mais. Gostaríamos que fosse um pouco mais, mas é dentro daquilo que conseguimos dar. As pessoas gostam, não só pelo babygrow e pelo kit em si, mas também pelo apoio que têm na farmácia. Porque não é um apoio financeiro, mas é um apoio que depois, os pais vão sentir na “pele entre aspas” quando vão comprar o que é preciso para os bebés. Nós sabemos que as coisas até estão bastante caras e nessa parte da compra, já reduz a factura.

Explica como funciona:

Aqueles números que foram adiantados, podiam ser muito mais, porque existem muitos pais que não procuram esta nossa ajuda. Eu sei que há muitos pais, que não querem usufruir, ou não têm conhecimento, ou até que não precisam.

Funciona de uma forma muito fácil, basta um dos pais ser residente da Freguesia de Macedo de Cavaleiros, dirigir-se à nossa sede, e inscrever-se. Não existe uma escolha. E preencher esses requisitos, que basicamente, é um dos pais ser residente da fregeusia de Macedo de Cavaleiros.

Na totalidade já foram entregues 53 kit’s Pro Bebé pela Junta de Freguesia de Macedo de Cavaleiros.

Escrito por Rádio ONDA LIVRE
Fotografia: Junta de Freguesia de Macedo de Cavaleiros

27º Feira da Maçã, do Vinho e do Azeite já começou em Carrazeda de Ansiães

 Começou ontem a vigésima sétima Feira da Maçã, do Vinho e do Azeite que está a decorrer, na vila de Carrazeda de Ansiães


Os produtores estão com boas expectativas para o certame, que conta com vários produtos regionais, como o vinho e o azeite, mas a maçã é a rainha.

“Tenho cerca de 45 hectares, que pode perfazer 1200 toneladas de maçã. Este ano a maçã está boa, é um ano excelente”, disse um dos produtores presentes no certame.

Na cerimónia de abertura, João Gonçalves, presidente de Carrazeda de Ansiães, destacou o impacto económico que os produtos endógenos têm para o concelho. “Podemos apontar que no caso da produção de maçã significa uma receita na ordem dos 10 milhões de euros, na produção de uva à volta de 18 milhões de euros, continua a ser a principal actividade económica do concelho, e no caso do azeite cerca de 3 milhões de euros”, avançou.

Na abertura do certame esteve também o Ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, que adiantou que o Governo juntamente com o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto está a estudar a uma medida relativa à venda de vinho do Porto. “O vinho do Porto só pode ser produzido com água ardente vínica feita com uvas da região demarcada do Douro, portanto isto tem consequências que têm de ser analisadas do ponto de vista legal, consequências em termos da quantidade de vinho do Porto que pode ser produzida. É uma medida que tem de ser analisada, estou disponível para analisar todas as medidas que ajudem os produtores. Temos de valorizar o produtor, é inaceitável que os produtores continuem a receber um montante por pipa como recebiam há 20 anos, quando sabemos que os custos de produção aumentaram muito”, disse.

O certame tem expostos diversos produtos regionais, com destaque para a maçã, o vinho e o azeite que dão nome à feira, que se realiza até domingo, em Carrazeda de Ansiães.

A nível musical, os Wet Bed Gang abriram, ontem, as hostilidades. Hoje, é a vez de Insert Coin e DJ Kura subirem ao palco. No sábado, está Miguel Araújo. E no domingo, Nininho Vaz Maia encerra as festividades.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Vitor Fernandes Pereira

Incêndios: Apoio de 500 mil euros para recuperar área ardida em Bragança e Vimioso

 O Governo anunciou hoje um pacote de meio milhão de euros para o início, a curto prazo, da recuperação e consolidação da área ardida nos incêndios florestais que afetaram os concelhos de Bragança, Miranda do Douro e Vimioso.

Foto: CM Miranda do Douro

“Nos próximos dias pretendemos concluir os trabalhos de levantamento dos prejuízos e danos provocados pelos incêndios e colocá-los na respetiva Unidade de Gestão, para abrir avisos concretos, para que os municípios possam candidatar-se com 100% de financiamento para implementar a estratégia técnica apurada pelas nossas equipas, com uma dotação inicial de 500 mil euros para os três concelhos afetados”, explicou o secretário de Estada da Florestas, Rui Ladeira.

Este anúncio, feito após uma reunião em Miranda do Douro, no distrito de Bragança, que juntou autarcas, Autoridades Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), bombeiros, GNR, juntas de freguesia, associações florestais entre outras entidades, para fazer um ponto de situação ao incêndio deflagrou no passado dia 10, na União de Freguesias de Caçarelhos e Angueira, em Vimioso, e que depois se alastrou as freguesias vizinhas de São Martinho, Angueira e Cicouro, em Miranda do Douro.

“Estamos a falar de uma área ardida próxima dos 2.000 hectares, que trouxe impactos muito relevantes e que nós identificámos e ouvimos, para dar resposta para se fazer um trabalho conjunto, não só curto prazo como a médio e longo prazo, porque o impacto de um incêndio não se pode medir só no momento”, vincou o secretário de Estado das Florestas.

O Governante demonstrou ainda preocupação no restauro da biodiversidade e das captações de água nestes territórios afetados pelo fogo.

“É necessário fazer uma estabilização de emergência daquilo que são as cinzas que podem contaminar os recursos hídricos e captações de água como é o caso do concelho de Vimioso”, frisou Rui Ladeira.

No terreno estão já em curso trabalhos de recuperação de caminhos agrícolas, consolidação do terreno, limpeza de pontos de água os quais estão a ser levados a cabo por elementos do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF).

O montante de 500 mil euros anunciados pelo Governo para esta primeira fase vai até novembro, sendo distribuídos 300 mil euros para os concelho de Miranda do Douro e Vimioso e 200 mil euros para o incêndio que deflagrou na mesma altura no Parque Natural de Montesinho (PNM), no concelho de Bragança.

“Este montante poderá ter alguma oscilação, visto que ainda não temos os resultados finais de todo o levantamento”, explicou o governante.

No que diz respeito ao incêndio no PNM, o relatório foi definido na mesma dimensão do que aconteceu nos concelhos de Miranda do Douro e Vimioso.

“Tivemos o mesmo foco na minimização dos impactos quer ambientais e do todo o ecossistema que tem de ser acautelado. Estamos a falar de uma área ardida de cerca de 500 hectares”, disse.

Só nestes dois incêndios foram consumidos cerca de 2.500 hectares de floresta, soutos, mato e áreas agrícolas.

No combate ao fogo que deflagrou na União de Freguesias de Caçarelhos e Angueira, em Vimioso, estiveram envolvidos ao longo de três dias cerca de 625 operacionais que foram apoiados por 207 veículos, 11 máquinas de rasto e 17 meios aéreos portugueses e espanhóis.

Apesar do “ataque musculado”, o fogo acabou por alastrar a São Martinho de Angueira e Cicouro, já em Miranda do Douro, causando sobressalto nestas aldeias raianas, dada a intensidade das chamas e as mudanças repentinas do vento.

A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) classificou na quarta o incêndio que deflagrou no dia 10 de agosto no concelho de Vimioso, como o maior registado desde janeiro.

No incêndio do PNM estiveram, durante três dias, envolvidos 621 operacionais, 217 veículos, quatro máquinas de rastos e 12 meios aéreos.

FYP//LIL
Lusa/fim

A imprensa periódica de Moncorvo no século XIX

Por: César Urbino Rodrigues
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

INTRODUÇÃO

 Não podemos analisar a imprensa do século XIX, como qualquer outro fenómeno da História, com os critérios epistemológicos dos dias de hoje. Pelo contrário, devemos situá-los no seu contexto histórico e percebê-los à luz dessa época.
 No século XIX, os índices de analfabetismo ainda eram muito elevados e os instrumentos ou meios tecnológicos de comunicação de massas resumiam-se ao jornal escrito. A rádio, a televisão, o telemóvel e a internet ainda nem utopias eram, visto que ainda não tinham sequer desabrochado no campo da imaginação. 
Os jornais poderiam ser lidos por um número reduzido de pessoas, as poucas letradas que haveria em cada aldeia e até nas sedes de concelho. Mas faziam  opinião porque amplificavam o boato, espalhavam a notícia, lançavam a suspeita, denegriam o inimigo, bajulavam o amigo. Não havendo telefone, a notícia da aldeia chegava à redação, e quando chegava, acontecia com um significativo atraso. 
No plano político, dera-se já a Revolução Francesa, as invasões francesas também tinham sido ultrapassadas, as lutas entre liberais e absolutistas tinham acontecido algumas décadas atrás, e os Partidos Regenerador e Progressista iam--se revezando nos corredores, tanto do poder central como do local. É neste contexto que temos de ler e interpretar a imprensa periódica de Moncorvo ou de qualquer outro concelho na época que agora vamos analisar.

OS TÍTULOS

 Embora no distrito de Bragança, o primeiro jornal – por sinal, manuscrito tenha aparecido na década de trinta do século XIX, em Moncorvo o primeiro surge apenas na década de noventa do mesmo século, ou seja, em 1891.
 Curiosamente, em Carrazeda de Ansiães, um concelho mais pequeno e de menor importância estratégica que o de Moncorvo, o primeiro jornal – O Século – apareceu em 1876, tendo sido o terceiro do distrito, assim como foi em Carrazeda de Ansiães que surgiu, em 1880, o quarto jornal do distrito – Correio do Norte.
 O primeiro jornal de Moncorvo tinha como título O Moncorvense, aparecendo o nome de António J. Vieira Barros como responsável pela sua administração. Dizia-se «político, literário e noticioso». Tratou-se de um jornal que teve uma vida relativamente prolongada, como se pode ver no fac-símile da primeira página do n.º 157, de 1894, que publicamos.
 Um ano fértil para a imprensa de Moncorvo foi o de 1897, já que, em março e abril desse ano, viram a luz do dia dois semanários, ambos com clara conotação político-partidária, ainda que de sinal contrário: um designado Moncorvo, afeto ao Partido Progressista; e outro, Jornal de Moncorvo, ligado ao Partido Regenerador, dando-se o caso curioso de o primeiro ter como diretor o Padre Adriano Augusto Guerra, um antigo regenerador que se passou para o campo contrário por se sentir enganado durante muitos anos, como ele argumenta no seu primeiro editorial.
 O Padre Adriano Guerra, que também era o proprietário do Colégio de Santo António, em Moncorvo, sediou o jornal no próprio Colégio. Por baixo do título, no Moncorvo dizia simplesmente um «jornal semanal».
 António J. Vieira Barros, que já fora o administrador do primeiro título do concelho, volta a ser administrativamente responsável pelo Jornal de Moncorvo, que também diz ser, como o primeiro, «semanário político, literário e noticioso».
 O quarto jornal do concelho, no século XIX, surgiu já quase na transição do século, mais precisamente em 1898, e tinha como título O Independente do Norte. Não se pode deixar de registar o facto curioso de a sede do mesmo estar instalada em Coimbra, onde residiam os seus responsáveis, com vontade certamente de regressarem à sua terra de origem.

 MOTIVAÇÕES POLÍTICAS

 Somos dos que acreditam que todo o comportamento humano tem por detrás de si uma motivação qualquer, um fim a atingir, à semelhança do que dizia Aristóteles, imortalizado no latim dos escolásticos: omnis agens, agit propter finem (todo o agente, age por um fim).
 
Efetivamente, todos os títulos da imprensa periódica que surgiram no século XIX, em Moncorvo, tinham, além de outras, motivações de natureza política, já que todos eles aparecem a defender as posições do Partido Regenerador ou do Partido Progressista. Curiosamente, três deles – O Moncorvense, Jornal de Moncorvo e O Independente do Norte–eram afetos ao Partido Regenerador, enquanto apenas Moncorvo era afeto ao Partido Progressista, embora logo no primeiro número o seu diretor, o Padre Adriano Guerra, sentisse a necessidade de justificar porque é que tinha mudado de posicionamento na arena da luta partidária, ou seja, do Partido Regenerador para o Partido Progressista.
 Estas motivações político-partidárias apareciam expressas de uma forma explícita e sem rodeios, ou eram camufladas em posições de independência e isenção político-partidária que, no entanto, eram contrariadas pelo conteúdo informativo e combativo do jornal a favor de um dos partidos mais fortes a nível nacional. 
Assim, O Jornal de Moncorvo, em cuja primeira página consta apenas o nome do seu administrador, António J. Vieira Barros, o mesmo aliás de O Moncorvense, dirige-se assim aos eleitores:

À urna pelo candidato a deputado pelo partido regenerador! Todos os que não o fizerem são traidores, e prejudicam os seus interesses e direitos e os dos seus conterrâneos, são ladrões de si próprios! (…) À urna, pois, pelo candidato apresentado pelo partido regenerador que criou em Vila Flor uma comarca e aumentou a ária do nosso concelho pela anexação de algumas freguesias do extinto de Alfandega da Fé e que dest’arte mostrou que é nosso amigo!
 Devemos-lhe a nossa gratidão; não queiramos ser ingratos!

 Este artigo é assinado por «um vilaflorense», mas tinha certamente o apoio dos responsáveis do jornal, porquanto na mesma página é assinado outro artigo sobre o mesmo tema da restauração do concelho de Alfândega da Fé, e a imputação das responsabilidades dos prejuízos que daí advinham para o concelho de Moncorvo é mais uma vez feita aos progressistas: 
Vai ser restaurado o concelho dissolvido de Alfândega da Fé. É positivo. Moncorvo, como bom vizinho que é, e amigo que tem sido, congratula-se com isso.
 Mas não pode conformar-se, tendo até de reagir tenaz e persistentemente, se tal vier a acontecer, com que seja aumentado à nossa custa, para poder ser elevado a comarca. Isso é que não, e teremos de protestar mesmo ruidosamente contra isso, sendo necessário.
 Rumoreja-se apenas o boato da criação da comarca há poucos meses. Agora não se escondem já de o proclamar bem alto os seus protectores.


Em seguida à restauração do concelho, dizem os mesmos, naturais inimigos do nosso e da nossa comarca que pretendem reduzir a microscópicas proporções, tem de ser criada a comarca, dissolvendo-se a de Vila Flor, de que algumas freguesias, e as de Cardanha, Adeganha, Junqueira e Estevais, do nosso concelho, serão incorporadas ao restaurado de Alfândega, juntando-se-lhe mais Castro Vicente, que é de Mogadouro e que será indemnizado com Lagoaça. 
(…)
 Os cidadãos deste concelho que se unirem aos seus inimigos que pretendem roubar-nos algumas freguesias, para com elas beneficiarem a outros concelhos, devem ser considerados como traidores, dando-se-lhes o correctivo que merecem. Politicamente, estamos vendo que o administrador do concelho e seus poucos adeptos estão mancomunados com os nossos inimigos, protegendo-os nas eleições. (…)
 É necessário que este povo fique sabendo que, se tão grande escândalo se consumar, se tão manifesta injustiça nos vier a ferir na grandeza das nossas aspirações cívicas, na devotação pelo engrandecimento ou, pelo menos, conservação da integridade do nosso concelho, que é o partido progressista o causador do nosso esfacelamento, e mais particularmente o snr. Camilo Mendonça, do concelho de Alfândega, que estão sendo protegido no de Moncorvo pelo seu administrador, snr. Cândido Bernardino Gomes, que torna réu de alta traição o partido progressista deste concelho.

 Por sua vez, o Moncorvo empunha a espada da indignação a favor do Partido Progressista e contra aqueles que antes o seu diretor defendia, dizendo-se enganado e ludibriado durante vários anos: 
O Moncorvo é o primeiro grito que se ouve de desespero, chamando ás armas um concelho, que abdicou a sua dignidade, mercadejando-a a troco do suborno e do medo-suborno da consciência e das convicções: medo dos ditadores e das suas iras. 
Parecerá sem dúvida estranho que assim falem aqueles que, há pouco ainda, rendiam culto ao deus que hoje se abomina; mas a esses, que podem arguir-nos de traidores, dir-lhes-emos que não cabe em nós aparar as afrontas, e beijar a mão que no--las arremessar. Que ninguém, com mais dedicação serviu um partido – uma família –, um homem – do que os que hoje saem á liça para combatê-lo. 
Acostumados a encarar os indivíduos, não pelo que deles diz o vulgo, nas suas inconstantes apreciações, mas pelo maior ou menor grau de simpatia e afeição que a eles nos prendem, fechamos sempre os olhos a todas as insinuações, e, cegos, caminhamos sempre avante, aumentando até de entusiasmo e ele admiração, à medida que os ataques contra o nosso ídolo se tornavam mais encarniçados e sangrentos. Por esse ídolo tínhamos nós culto, que é mais do que admiração. Quem nele tocasse, feria-nos no mais fundo da alma, nas nossas susceptibilidades ele amigo, tão ciosos por elas, como a leoa pelos filhos, a quem defende com risco da própria vida. 
E assim, de olhos fechados: caminhamos sempre, e a intriga, e a infâmia, que esvurmeavam dos lábios dos malsins, eram apupadas e, encolhendo as garras, retraiam-se e alapardavam-se até voltarmos as costas: continuando então no seu caminho ele difamação, Difamação!
 

Nós assim o acreditamos sempre, porque a amizade verdadeira não deixa ver o lado vulnerável daquele que se estima, mas só aquele que nos atrai. 
Um dia, porém, esse ídolo – que tanto tempo fora por nós acalentado –, colocou--se de cima de um monturo e, bradando às turbas, disse: 
«Deixem-me! Quem me defende é um canalha, é um infame, é um miserável!» 
Perante essa declaração, tão formal, tão positiva, tão terminante, dissiparam-se todas as suas ilusões. Abrimos então pela primeira vez os olhos.

 Já O Independente do Norte se diz independente dos partidos políticos, embora se mostre empenhado nas lutas políticas ao serviço do povo: 
Eis o titulo que tomamos para o nosso jornal.
É sobre ele que jurámos aqui defender os interesses malbaratados desta vila e os direitos do nosso distrito, contribuindo com o pouco que valemos para o progresso das nossas terras e obstando, o que nos for possível, ao descalabro da nossa pátria! 
Liberdade, Independência e Verdade, eis a nossa divisa. 
Com ela saltaremos por cima de todos os obstáculos, romperemos todas as barreiras, ligar-nos-emos a ela por o mais indissolúvel elo da nossa dignidade, conservando--nos sempre à altura suficiente para que nos não possam atacar os nossos inimigos. 
Não tomamos por Iábaro qualquer facção política que um dia, mais tarde, nos possa obrigar a um desmentido, porque jamais admitiremos neste jornal qualquer retractação.
 (…)
 Queremos independência porque, novos como somos, não desejaríamos, ver-nos já sujeitos a mandatos imperiosos, obrigados a militar em campos de tal ordem que mais nos conviria ser-lhes inimigos, que transigentes adeptos.

 No entanto, analisando com mais pormenor o seu conteúdo noticioso, verificamos que a capa da independência é posta em causa, como acontece no seguinte texto: 

Realizou-se, há dias, um comício patriótico, presidido pelos srs. Bernardino Machado, Fuschini e Gomes da Silva. 
O Defensor do Povo e vários jornais perguntam: o que querem os senhores? 
É exactamente o que nós lhe perguntamos, o que lhe deve perguntar o povo. E sabem porque? 
Porque os dois primeiros senhores foram já ministros de Estado e o segundo Cú-ligado aos progressistas nesse belo tempo das gravatas vermelhas… Devem recordar-se…


 Alem disso esses homens que ousaram nesse comício pedir a liberdade foram os primeiros a cortá-la, assinando em tempos uma reforma de polícia que privou o povo da capital de todos os seus direitos e que mandaram dissolver as associações comerciais e industriais de Lisboa unicamente porque protestaram contra a coacção dos seus direitos. 
Eis ai o que neste momento se passa na capital e que para a semana, talvez dê assunto para mais largas considerações.

 Todavia, os assuntos políticos ou da res publica não diziam respeito apenas às lutas político partidárias. Na época, como agora, havia problemas que eram do interesse de toda a população e com os quais todas as forças partidárias naturalmente se preocupavam. A construção da ponte no Pocinho, que permitisse a travessia do Douro sem ser através das ancestrais barcas, era um desses problemas.
 Por isso, O Moncorvense, por diversas vezes, se debruça sobre esse assunto, chegando a dedicar-lhe praticamente uma página inteira, reivindicando não só a sua construção, mas sugerindo também soluções financeiras concretas:

Já aborrecemos; estamos disto certos, mas talvez não voltemos ao assunto.
 Temos excogitado todos os meios e este, que vamos expor, é o último reduto, porque está tudo explorado e sem resultado, infelizmente.
 Não há dinheiro – é a resposta.
 Estamos de acordo que não há dinheiro.
 Quem conhece o estado caótico da nossa pública administração, quem compreende o abismo em que estamos prestes a cair, não encontrará banal a resposta do governo, porque ela encerra uma triste verdade.
 Ponhamos de parte os comentários e apreciações desta verdade, tão repetidos pelos órgãos mais importantes da nossa imprensa, encaremos de frente a nossa situação, confrontando-a com a situação económica do país, e cotizando a resposta do governo com as exigências das nossas necessidades, vejamos se a ponte, fazendo-se, pode depauperar o tesouro, como muitas outras empresas e melhoramentos equívocos que a cada passo se realizam sem utilidade prática e fim útil para o povo.
 Já demonstrámos, fundados nos rendimentos das barcas, que a construção da ponte dava ao governo, ou à empresa construtora, rendimentos reais e positivos.
 Esta demonstração, de que os nossos leitores se recordam, era baseada na arrematação das barcas que, rendendo actualmente um conto e setecentos mil reis, garantem o triplo do rendimento à ponte, se esta for construída, porque o movimento actual dos transportes é reduzidíssimo, o que não sucederia estando a ponte feita.
 Estando, pois, a ponte orçada em sessenta a setenta contos, os direitos da portagem dariam à larga o juro do capital empregado, não prejudicando aqueles que quisessem encarregar-se da sua construção.
O governo, tendo já por mais de uma vez sido informado pelos dirigentes da nossa política das bases acima expostas, faz ouvidos de mercador e continua dizendo que não há dinheiro.
 Do governo nada temos a esperar; e isto, ainda que custe aos nossos políticos, é uma verdade e verdade por eles reconhecida e até confessada.
 A construção da ponte não tem sido posta de parte pelos nossos amigos políticos,como  muitos julgam.
 Têm-se empenhado todos os esforços, feito todas as tentativas, envidado todos os meios e, se para os nossos amigos é desairoso o não conseguimento do que se pretende, não o é menos para a política do distrito da guarda, que tem acompanhado a política daqui, fazendo coro com ela nas reclamações apresentadas por várias vezes aos nossos governos.
 E que mais obrigação têm eles de conseguir melhoramentos para o distrito do que os seus antecessores ou os seus adversários?
 Que fizeram uns e outros?
 Nada.
 Censuram-se por que se não impõem?
 Estão resolvidos a isso. E valerá a imposição? Duvidamos, porque as imposições para surtirem efeito é indispensável que não partam de um ou dois, isoladamente, mas que todos as secundem e aqui não se dá isto: o povo fica indiferente, os municípios, que lucram com os melhoramentos, não reclamam, os políticos, que se acham disseminados pelo distrito, não se importam.
 No Pinhão, onde está estudada também uma ponte, já por mais de uma vez se reuniram no local os povos dos concelhos limítrofes e, em massa, protestaram conta a indiferença dos governos, e os governos da primeira vez mandaram estudar o projecto, e se os protestos continuarem, mandarão pô-lo em execução.
 Aqui … nada!
 Só se ouve carpir e lamentar, nada mais; de que serve isso?
 Mostrem que querem, que empregam os meios, que é verdade o que se diz, que a ponte não dá prejuízo, antes lucro, que tudo o que se assevera não é fantasia, mas a pura verdade.
 E para isto podem os municípios concorrer.
 Sabem como? Da maneira seguinte: 
O projecto está orçado em setenta contos, insignificante quantia para o orçamento de um país e até para os municípios limítrofes que mais directamente aproveitam com o melhoramento. 
(…)
 O governo não pode ou não quer dar os setenta contos, pois bem: peça-se-lhe metade daquela quantia e o município daqui e o de Foz Côa ponham a outra parte, o que não lhes é difícil nem oneroso, tomando para base os seguintes dados.
 Suponhamos que são trinta e seis contos, dezoito para cada município. Dezoito contos, a seis por cento, levantando um empréstimo no Banco Hipotecário por noventa e nove anos, dá o juro de um conto e oitenta mil reis.
 Partindo da hipótese de que a ponte dá de direitos de portagem três contos de reis, dividindo esta quantia pelos dois municípios, pertence a cada um a quantia de um conto e quinhentos, que deduzidos dos juros pagos pelo capital, ainda dão um saldo a favor de quatrocentos mil reis.
 Quatrocentos mil reis em 99 anos dão um capital acumulado de trinta e nove contos e seiscentos mil reis, o que dá em resultado que, em acabando o contrato com o Banco, tem o município os juros pagos e duplicado o capital só com a receita da ponte!
 (…)
 E se o governo não cedesse a metade da quantia orçada?
 Nesse caso havia um único recurso – mostrar aos governos que se não brinca impunemente com a boa fé popular, e que as necessidades dos povos, as mais urgentes, estão superiores aos esbanjamentos injustificáveis de toda a ordem, que a cada passo se fazem e para que sempre sobeja dinheiro, quando eles aparecem.

 LINGUAGEM ACUTILANTE E BREJEIRA

 Como se pode constatar em algumas das citações que fizemos e noutros textos dos diversos títulos sem exceção, a linguagem utilizada pelos articulistas, quando se reporta a temas da política, não é nada meiga para com a classe política em geral e para com os adversários políticos em particular. Vejamos, por exemplo, o seguinte extrato do Jornal de Moncorvo:

Movendo-lhe uma guerra acintosa em que por armas tinha a intriga e a mentira; numa campanha de descrédito imoralíssima e prejudicial manejada torpemente no estrangeiro; numa batalha em que a sua bandeira era a falsidade; traindo a sua pátria, a oposição progressista que não pudera derrubar o ministério Hintz-Franco quando se bandeou para os republicanos atraiçoando El-Rei, provocou agora uma crise financeira que criou dificuldades ao governo e galgou afinal as cadeiras do poder. Os conselheiros do Rei republicanizados por coligação venceram afinal neste assalto quando um povo inteiro vivia sossegado e tranquilo com inteira confiança no seu governo, 
Triste e vergonhosa vitória! Pobre e infeliz Pátria! 
Senhores da governação pública, os progressistas começaram desde logo a sentir os males que desastradamente tinham causado: para conseguirem um suprimento de 500: 000 libras precisaram de empenhar 72: 000 obrigações da companhia dos tabacos; e agora para contraírem novo empréstimo vão também empenhar as linhas férreas do pais; e quem lhes arranja todo este dinheiro é o conde de Burnay que tanto difamaram. 
Para iludirem o povo continuaram no governo como se estivessem ainda na oposição a desprestigiar e desautorizar os seus antecessores, inventando os orçamentos suplementares e arguindo de ilegais em relatórios dirigidos a El-Rei muitas das suas medidas.
 (…)
 «Aprés moi le deluge»; neste estado de coisas o governo nefasto que nos rege lançou mão da violência que campeia infrene por todo o país: estamos em plena época de Terror sob o consulado deste MINISTÉRIO NEGRO. 
Neste regime imperando o ministério de Sedltz, é de recear «one dungs evacuationt». 
Alerta, pois, pela nossa parte! Ânimo! Coragem! 
É do domínio de todos que o governo tenciona reintegrar o concelho de Alfândega da Fé a despeito de não ter meios de vida ainda mesmo que a sua câmara lançasse a máxima percentagem legal. 
Anunciam e defendem esta medida os progressistas deste distrito, à frente dos quais está Eduardo José Coelho e muitos do nosso círculo, entre os quais se contam Camilo e Álvaro de Mendonça; e até alguns filhos de Vila Flor, que não têm rebuço de propor o bacharel Barbosa, que em um jantar político em Mirandela brindou à reconstituição do concelho de Alfandega da Fé! 
(…)
 Votar no candidato progressista na presente ocasião é, não só indecoroso, mas praticar uma traição que não se justifica em verdadeiros patriotas, porque o simples retraimento é uma cobardia: é indispensável guerreá-lo com todas as forças. 
(…)
 Os nossos patrícios que no momento presente não forem pelo concelho de Vila Flor, são traidores, ou vendidos na esperança de receberem algum osso do governo. 
Lutar contra os progressistas é para nós a vida: assistir passivamente ao triunfo do candidato governamental é uma cobardia; votar com o governo é uma traição indigna e infame, imprópria de gente que se presa. 
(…)
 É urgentíssimo escorraçar essa corja que paira em volta do nosso concelho, como o abutre em roda da presa. Querem armar-nos a cilada infame de nos deixarem sem um representante nosso em cortes, que advogue com energia e entusiasmo os nossos direitos, para assim melhormente porem em execução o seu plano infernal e maldito. 
(…)
 É um traidor todo o cidadão que não votar no candidato regenerador. É um traidor todo o que votar no snr, Barbosa.

CONTEÚDO INFORMATIVO

 Numa rápida análise dos conteúdos informativos dos diferentes títulos que temos vindo a citar, verificamos o seguinte: 

 • o conteúdo informativo é muito escasso, sobretudo se comparado com os textos de intervenção política;
 • as poucas informações reproduzidas são quase sempre de natureza particular e relativas a figuras da alta burguesia local;
 • num ou noutro caso, aparecem algumas – escassas – notícias que fogem ao espartilho destes critérios e que se reportam a melhoramentos públicos há muito desejados ou a pequenos escândalos locais.

 O que atrás dizemos quanto ao conteúdo noticioso relacionado com algumas das figuras da alta burguesia local pode comprovar-se através de várias citações, de que respigamos as seguintes:

Com demora de dois ou três dias foi a Santa Comba da Vilariça, de visita ao seu amigo Lopes Antunes, o sr. Governador Civil Dr. Ferreira Margarido.
 Na semana passada foi ao Pocinho o sr. Dr. Ferreira Margarido de visita a seu primo o conselheiro José Cavalheiro, digno Governador Civil da Guarda, passando dois dias com ele na sua quinta, onde largamente conferenciaram também sobre o modo mais fácil de levar a cabo a construção da ponte naquele sítio, melhoramento este de tanta necessidade como talvez não haja outro igual entre os dois distritos da Guarda e Bragança que ela liga, e diremos até as duas províncias de Trás-os-Montes e Beira Alta.
 Já regressou da sua importante quinta da Silveira a esta vila e partiu ontem para o Porto com demora de dois ou três dias o nosso amigo António Caetano de Oliveira, antigo par do Reino. 
(…)
 De visita a Moncorvo esteve algumas horas aqui o grande proprietário António Bernardo Ferreira, que levou boas impressões do panorama geral desta pitoresca vila e seus arredores.
 Tinha vindo com veneranda mãe, a ex.ma snrª D. Antónia Adelaide Ferreira, assistir à importante vindima das suas lindas e numerosas plantações de vinha no Monte Meão, e de lá veio só ele aqui, onde sua octogenária, respeitável e filantrópica mãe possui também uma casa importante. Parece que levou boas impressões de nós e da nossa terra. 
(…)
 De visita à sua quinta da Silveira e ao nosso ilustre amigo António Caetano de Oliveira, estiveram ali uns ingleses com suas filhas, passeando por Moncorvo e Vila flor gostando muito de ver estas duas vilas e o lindo e atraente panorama da Vilariça.
 O nosso amigo Padre Guerra, que esteve uns dias, poucos, ausente, já regressou para abrir o Colégio de Santo Antonio, continuando à testa de tão útil estabelecimento e que de tantos benefícios tem sido para os chefes de família que dele se vão aproveitado e que nós continuaremos a recomendar, porque o achamos digno disso. 

 Este nosso amigo, desejando retirar-se já neste ano, porque tem outras aspirações e um futuro mais largo, fez o sacrifício de ficar ainda arais algum tempo, até que seu pai, actualmente sub-inspector adido ao Liceu de Vila Real, e que está prestes a reformar-se, e que deseja vir para aqui viver, possa assumir a direcção do estabelecimento, porque o nosso amigo Padre Guerra está cansado, e só a dedicação pela família o obrigou a modificar as suas resoluções, violentando-se a perder aqui mais algum tempo, porque outros interesses o chamam e convidam para outra localidade, onde tinha já casa arrendada para viver. 
Folgamos em que isto assim suceda, porque o Colégio não acabará como aí se insinua, o que, dando-se, seria de grande prejuízo para a terra, como todos calculam. 
E convença-se a terra de que o Colégio é de mais utilidade para Moncorvo do que para quem o explora, porque os interesses que tem dado são nulos, e tem-se susten tado mais por capricho do que pelos lucros.

 Do jornal O Moncorvense

 Teve uma feliz délivrance a Ex.ma Sr.ª Dª Adelina Silva, virtuosa esposa do Sr. Alberto Guerra e irmã do nosso amigo Constâncio de Carvalho. 
Este osso colega há já uns dias que se acha bastante adoentado, o que deveras sentimos. 
Desejamos-lhe seja breve o seu restabelecimento. 
Entre a nova vereação, ultimamente eleita, deparámos os nomes dos Srs., Dr. José Dias Gallas e Dinis Pontes. À Câmara, pois, os nossos parabéns por contar entre os seus membros estes dois espíritos de reconhecida lucidez e carácter justiceiro, de quem este concelho tudo tem a esperar.
 Felicitamos também o nosso amigo, o Sr. Abel Adriano de Almeida Gomes, pela talentosa gerência que vem de cumprir desde a ocasião que tão merecidamente lhe foi confiada. 
Regressou do Porto, onde estava tratando os seus padecimentos a Sr.ª Dª Augusta Campos, carinhosa esposa do Sr. Abílio de Campos.

 Do jornal O Independente do Norte

 Para lá da ponte do Pocinho, que já referimos atrás, também o Hospital local e as minas do Reboredo eram objeto das preocupações dos jornalistas locais de então:

Três engenheiros, emissários do sr. barão de Saint Clair, começaram no dia 8 os estudos da linha de feno que virá do Pocinho às minas do Reboredo. 
Parece-nos que sempre teremos a tão almejada ponte sobre o rio Douro, devido aos esforços da Companhia exploradora que ultimamente se organizou no Porto, segundo informações de pessoas fidedignas. 
A abertura deste caminho-de-ferro é o início do próximo engrandecimento de Moncorvo, pois que, alem dos pobres encontrarem trabalho com que possam valer às suas necessidades, o comércio e a indústria, ainda que em pequena escala, vão-se pouco a pouco levantando desta apatia monótona e esterilizadora. É um bem que todos reconhecem e que todos desejamos. Oxalá que esse empreendimento se realize, ao menos para que o povo necessitado, trabalhando, se alivie de tanta miséria, miséria a que se poderia valer se os políticos da nossa terra olhassem, como deviam e devem, para este estado de coisas; mas hoje não há politica, a não ser a politica de compadres, que é como dizem a politica dos edazes e dos intrujões.

 Do jornal O Independente do Norte

 Dir-se-ia que Moncorvo tem um hospital. Engano. Moncorvo até hoje não tem tido um hospital, mas sim um antro, uma pocilga, onde os desgraçados que se vêem na necessidade de recorrer à caridade, longe de encontrarem conforto, agasalho e carinho, encontram miséria, abandono, desprezo e, por vezes, maus tratos. Parece isto impossível, mas é um facto, facto que todos reconhecem e apontam, facto que a todos revolta, mas que ninguém teve ainda até agora o desassombro e coragem de tornar público, para que aqueles que, pelo seu desleixo e incúria, deram causa a semelhante estado de degradação e abandono, fossem apontados, fossem estigmatizados por um tal procedimento. Para este não há qualificativo apropriado, porque têm sido defraudados os interesses dos desgraçados e infelizes, que tanto careciam de amparo e protecção. É um facto verdadeiramente assombroso, mas que, não obstante, persiste há quase 16 anos.

 Do jornal Moncorvo

 Quanto aos escândalos, não deviam haver muitos porque são poucos os casos reportados. Citamos apenas um texto desses:

Na semana finda houve nesta vila uma tentativa de estupro na pessoa duma menor de 12 anos.
 Chame-se a fera Antonio da Costa, natural de Outeiro, comarca de Mangualde e achava-se aqui em companhia duns cegos que são tocadores ambulantes. 
Felizmente que não chegou a consumar-se esta infâmia, por isso que aos gritos da menor acudiu bastante gente, incluindo o administrador do concelho, que prendeu semelhante infame. 
Acha-se preso nas cadeias desta vila e consta-nos que é mui brevemente julgado.

 Do Jornal de Moncorvo

CONTEÚDO LITERÁRIO

 Finalmente, relativamente ao conteúdo literário, esboçam-se algumas tentativas tanto ao nível do folhetim, como ao nível da poesia. Por uma questão de curiosidade, reproduzimos uma das poesias de O Independente do Norte, da autoria de Gonçalves Cerejeira, não o Cardeal, mas eventualmente um seu antepassado: 

Nos braços de Sílvia

 Nos braços de Sílvia
 Dorme, hetaira desgrenhada,
 Rosa pálida a sonhar!
 Já vem rindo a madrugada,
 E em teu rosto ainda há luar…

 Dormes agora cansada
 De abraços e beijos dar,
 Como estrela desmaiada,
 Duma luz crepuscular…

 És tão bela assim deitada
 Num leito de lupanar,
 Loira Flor da Vid’airada!…

 Ah! Não te poder beijar
 Essa face desbotada
 Como quem beija um altar!…

 CONCLUSÃO

 Como facilmente se pode constatar, os jornais que apareceram em Moncorvo no século XIX tiveram na sua génese objetivos de interesse público, filtrados e purgados, no entanto, pelos pontos de vista e pelos interesses dos seus responsáveis. E mais do que informativos, os jornais daquele período foram sobretudo armas ao serviço do combate político-partidário, na arena política da refrega entre regeneradores e progressistas, os dois maiores partidos de então.

 César Urbino Rodrigues*
* Doutor em Teoria e História da Educação pela Universidade de Valladolid. Professor Universitário.

- Nascido na aldeia de Peredo dos Castelhanos, concelho de Moncorvo, no ano de 1946, fiz o ensino secundário no Seminário de Macau, no período de 1958-1967. 
- Depois do serviço militar obrigatório, de 1969 a 1972, fui professor de 1972 a 2012, desde a Escola Preparatória Eng. Moura Pegado, em Macedo de Cavaleiros, até ao ensino secundário no ex-Liceu Nacional de Bragança e na Escola Secundária Abade de Baçal. Fui ainda professor na Escola do Magistério Primário de Bragança, durante 6 anos, e professor do ensino superior, no ISLA de Bragança e no I.Piaget de Mirandela, durante 7 anos.
Fiz a licenciatura em Filosofia, na Universidade do Porto, o Mestrado em Filosofia da Educação, na Universidade do Minho, com uma tese sobre “As coordenadas fundamentais da Educação no Estado Novo” e o doutoramento em Teoria e História da Educação, na Universidade de Valhadolide, com uma tese sobre “A representação do Outro no Estado Novo – o Outro cidadão nacional e o Outro país vizinho”.
Co-fundador do jornal “A Voz do Nordeste”, fui seu director entre 1985 e 2007. Fui o segundo jornalista português a ganhar uma acção no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos contra o Estado Português.