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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

A escola ideal

 Aquela professora costumava contar ou ler aos alunos pequenos contos, alguns dos quais eram comentados e outros dramatizados. Um dia, como não lhes apetecia brincar no recreio, os colegas Manuel e Maria conversavam animadamente sobre qual seria, para o Manuel, a escola ideal. Este hesitou um pouco, mas, por fim, decidiu contar o sonho que teve, há dias, sobre o que ele considerou ser a escola ideal.

“A escola com que há dias, sonhei, dizia o Manuel, ficava debaixo de uma árvore enorme. Debaixo dessa árvore enorme, todos nós – os alunos, os professores, os auxiliares, os pais e os nossos amigos, ali sentados à sombra, conversávamos muito. Conversávamos com calma, sem nos zangarmos. Os mais velhos contavam-nos muitas histórias e nós ouvíamos tão felizes e tão contentes que não nos lembrávamos sequer das horas de descanso e das refeições. Ali ninguém se sentia cansado nem com fome.
De vez em quando, alguém ria. E todos nos sentíamos mais felizes, ao percebermos que havia alegria, junto de nós.
Se pensávamos que ia chover ou nevar, que o sol nos ia queimar e o vento nos ia importunar, pedíamos à Natureza que parasse a chuva e a neve, que suavizasse o calor do sol e fizesse abrandar o vento. E a Natureza nunca deixava de atender os nossos pedidos.
Com uma pedra que apanhávamos ao acaso, fazíamos contas no chão.
Mas que contas?
Com um pequeno pau que a árvore nos oferecia escrevíamos frases no chão.
Mas que frases?
À beirinha da sombra, íamos apanhar com a mão em concha, as cores do sol e, com elas, é que pintávamos os nossos desenhos.
Mas que desenhos?
Pedíamos notas ao cantar dos pássaros e, com elas, fazíamos as nossas canções.
Mas que canções?
Se o vento fazia baloiçar alguns ramos da árvore, logo aproveitávamos para lhes imitarmos passos das nossas danças.
Mas que danças?
Ao longe, víamos os montes, outras árvores, um rio – muito mais longe, o mar; e sobre o mar, algumas nuvens. Aproveitávamos logo para fixar duas ou três impressões.
Mas que impressões?
Pois bem, Maria: as impressões, as danças, as canções, os desenhos, as frases
e as contas da nossa felicidade!
Esta foi a história que mais nos deu que fazer. De facto, muitos de nós ficámos de boca aberta com a escola do Manuel; e, logo, todos à uma, quisemos fazer-lhe uma data de perguntas.
A pergunta que mais se fez ouvir foi a de como conseguiam estar sempre com atenção, se nem sequer havia tempo para dormir!
Outra que também sobressaiu, foi como é que a Natureza fazia tudo o que se lhe pedia; e, também, como é que apanhavam as cores do sol para os trabalhos. Acabou por ser a professora a esclarecer-nos sobre esta escola: tudo fora um sonho do Manuel!
E parece que todos pensámos que, realmente… fomos mesmo parvos!
Mas, quando acabada a aula, nos juntámos no campo de futebol, não deixámos de comentar e chegar à conclusão de que, com o andar dos tempos, não seria de admirar que viesse uma grande revolução no ensino – o que, afinal, era isto que prenunciava o sonho do Manuel sobre a escola ideal.
No dia seguinte, falámos com a senhora professora sobre a nossa conclusão. Ela, depois de refletir uns segundos, acabou por dizer que a nossa conclusão fazia todo o sentido.
Assim, ficámos muito contentes por termos apanhado a mensagem daquele sonho tão surreal do Manuel!”.

Extrato adaptado do conto: “A Senhora Professora”, in: Gouveia, M. A., A Fonte da Parada, Memórias de uma Família e Outros Contos, Edição de Autor, (2021), pp. 112 – 114, Casa de Trabalho – Bragança.

Manuel António Gouveia

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