Aquela professora costumava contar ou ler aos alunos pequenos contos, alguns dos quais eram comentados e outros dramatizados. Um dia, como não lhes apetecia brincar no recreio, os colegas Manuel e Maria conversavam animadamente sobre qual seria, para o Manuel, a escola ideal. Este hesitou um pouco, mas, por fim, decidiu contar o sonho que teve, há dias, sobre o que ele considerou ser a escola ideal.
“A escola com que há dias, sonhei, dizia o Manuel, ficava debaixo de uma árvore enorme. Debaixo dessa árvore enorme, todos nós – os alunos, os professores, os auxiliares, os pais e os nossos amigos, ali sentados à sombra, conversávamos muito. Conversávamos com calma, sem nos zangarmos. Os mais velhos contavam-nos muitas histórias e nós ouvíamos tão felizes e tão contentes que não nos lembrávamos sequer das horas de descanso e das refeições. Ali ninguém se sentia cansado nem com fome.
De vez em quando, alguém ria. E todos nos sentíamos mais felizes, ao percebermos que havia alegria, junto de nós.
Se pensávamos que ia chover ou nevar, que o sol nos ia queimar e o vento nos ia importunar, pedíamos à Natureza que parasse a chuva e a neve, que suavizasse o calor do sol e fizesse abrandar o vento. E a Natureza nunca deixava de atender os nossos pedidos.
Com uma pedra que apanhávamos ao acaso, fazíamos contas no chão.
Mas que contas?
Com um pequeno pau que a árvore nos oferecia escrevíamos frases no chão.
Mas que frases?
À beirinha da sombra, íamos apanhar com a mão em concha, as cores do sol e, com elas, é que pintávamos os nossos desenhos.
Mas que desenhos?
Pedíamos notas ao cantar dos pássaros e, com elas, fazíamos as nossas canções.
Mas que canções?
Se o vento fazia baloiçar alguns ramos da árvore, logo aproveitávamos para lhes imitarmos passos das nossas danças.
Mas que danças?
Ao longe, víamos os montes, outras árvores, um rio – muito mais longe, o mar; e sobre o mar, algumas nuvens. Aproveitávamos logo para fixar duas ou três impressões.
Mas que impressões?
Pois bem, Maria: as impressões, as danças, as canções, os desenhos, as frases
e as contas da nossa felicidade!
Esta foi a história que mais nos deu que fazer. De facto, muitos de nós ficámos de boca aberta com a escola do Manuel; e, logo, todos à uma, quisemos fazer-lhe uma data de perguntas.
A pergunta que mais se fez ouvir foi a de como conseguiam estar sempre com atenção, se nem sequer havia tempo para dormir!
Outra que também sobressaiu, foi como é que a Natureza fazia tudo o que se lhe pedia; e, também, como é que apanhavam as cores do sol para os trabalhos. Acabou por ser a professora a esclarecer-nos sobre esta escola: tudo fora um sonho do Manuel!
E parece que todos pensámos que, realmente… fomos mesmo parvos!
Mas, quando acabada a aula, nos juntámos no campo de futebol, não deixámos de comentar e chegar à conclusão de que, com o andar dos tempos, não seria de admirar que viesse uma grande revolução no ensino – o que, afinal, era isto que prenunciava o sonho do Manuel sobre a escola ideal.
No dia seguinte, falámos com a senhora professora sobre a nossa conclusão. Ela, depois de refletir uns segundos, acabou por dizer que a nossa conclusão fazia todo o sentido.
Assim, ficámos muito contentes por termos apanhado a mensagem daquele sonho tão surreal do Manuel!”.
Extrato adaptado do conto: “A Senhora Professora”, in: Gouveia, M. A., A Fonte da Parada, Memórias de uma Família e Outros Contos, Edição de Autor, (2021), pp. 112 – 114, Casa de Trabalho – Bragança.
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