sexta-feira, 18 de outubro de 2024

essência

Por: Paula Freire
(colaboradora do Memórias...e outras coisas...)


Aí, onde o tempo se tece em ouros e se desfaz em silêncios, encontro-te, como quem descobre o segredo de tantas memórias. A promessa de plenitude que revela o essencial. 
Os olhos livres de quem se antecipa às noites frias e ilumina a alma de uma outra luz que não fenece. E a pele lânguida de um sabor ainda quente que acaricia o horizonte. 
Nesse canto do sorrir, desmaiado por vozes mudas, encontro-te tessitura de um poema perene que as árvores murmuram no abraço caído do sol, cúmplices de todos os versos sussurrados pelo leito do nosso chão. 
Habita ali um lume brando, um ancestral solene de existências onde tudo é lembrança do repousar antigo que em nós permanece. A metáfora exata dos espaços que só o coração escuta, sobre a textura oculta do corpo, e que as mãos adivinham sem precisarem de tocar.
Ah... E também o misterioso silenciar do vento, essa fala dos invisíveis que, como nós, dançam a música celeste das ramas secas! O universo inteiro desprendido de todas as palavras que nos disseram adeus, na celebração de uma plenitude alcançada a vestir-se desse abraço de nos sermos. 
A permanência é um equívoco, um erro de cálculo que só o outono corrige e a verdade desnuda. E, no entanto, nele se inaugura a eternidade! Porque é ele, meu amor, o ocaso em ascensão da pureza singela despida de artifícios. 
Quem nos vê, não entende que o despojamento é a forma mais grandiosa de conseguir amar.

@Lázaro Rios
(heterónimo de Paula Freire)
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criação IA . design #paula_freire_fotografia

Paula Freire
- Natural de Lourenço Marques, Moçambique, reside atualmente em Vila Nova de Gaia, Portugal.
Com formação académica em Psicologia e especialização em Psicoterapia, dedicou vários anos do seu percurso profissional à formação de adultos, nas áreas do Desenvolvimento Pessoal e do Autoconhecimento, bem como à prática de clínica privada.
Filha de gentes e terras alentejanas por parte materna e com o coração em Trás-os-Montes pelo elo matrimonial, desde muito cedo desenvolveu o gosto pela leitura e pela escrita, onde se descobre nas vivências sugeridas pelos olhares daqueles com quem se cruza nos caminhos da vida, e onde se arrisca a descobrir mistérios escondidos e silenciosas confissões. Um manancial de emoções e sentimentos tão humanos, que lhe foram permitindo colaborar em meios de comunicação da imprensa local com publicações de textos, crónicas e poesias.
O desenho foi sempre outra das suas paixões, sendo autora das imagens de capa de duas obras lançadas pela Editora Imagem e Publicações em 2021, “Cultura Sem Fronteiras” (coletânea de literatura e artes) e “Nunca é Tarde” (poesia), e da obra solidária “Anima Verbi” (coletânea de prosa e poesia) editada pela Comendadoria Templária D. João IV de Vila Viçosa, em 2023. Prefaciadora dos romances “Amor Pecador”, de Tchiza (Mar Morto Editora, Angola, 2021), “As Lágrimas da Poesia”, de Tchiza (Katongonoxi HQ, Angola, 2023), “Amar Perdidamente”, de Mary Foles (Punto Rojo Libros, 2023) e das obras poéticas “Pedaços de Mim”, de Reis Silva (Editora Imagem e Publicações, 2021) e “Grito de Mulher”, de Maria Fernanda Moreira (Editora Imagem e Publicações, 2023). .Autora do livro de poesia Lírio: Flor-de-Lis (Editora Imagem e Publicações, 2022).
Em setembro de 2022, a convite da Casa da Beira Alta, realizou, na cidade do Porto, uma exposição de fotografia sob o título: "Um Outono no Feminino: de Amor e de Ser Mulher".
Atualmente, é colaboradora regular do blogue "Memórias... e outras coisas..."- Bragança e da Revista Vicejar (Brasil).
Há alguns anos, descobriu-se no seu amor pela arte da fotografia onde, de forma autodidata, aprecia retratar, em particular, a beleza feminina e a dimensão artística dos elementos da natureza.

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