Joaninha. Foto: Myriams/Pixabay |
Publicado esta semana na revista científica Science of the Total Environment, o estudo questiona a segurança deste pesticida a apela a que sejam revistos os protocolos de avaliação de risco deste género de produtos, tendo em vista a proteção da biodiversidade.
Estima-se atualmente que a diversidade de insetos está a cair a um ritmo de 2,5% por ano, o que representa uma perda de praticamente 25.000 espécies por cada 12 meses, recorda uma nota de imprensa sobre o novo estudo, realizado por uma equipa internacional de investigadores. Além das alterações climáticas e a perda de habitats, sabe-se que uma das principais causas para o declínio dos insetos é a utilização comum de pesticidas químicos na agricultura.
“Isto deve-se não só ao facto de estes produtos químicos eliminarem as espécies que danificam as culturas, mas também terem um impacto devastador sobre o resto dos insetos, incluindo os que são benéficos para processos-chave como a polinização, o controlo natural de pragas e o ciclo de nutrientes.”
O pesticida que foi analisado é utilizado habitualmente na União Europeia para combater pragas agrícolas como pulgões e escaravelhos, mas também moscas, mosquitos e pulgas que prejudicam a saúde humana. No entanto, os resultados da nova investigação revelaram que “quando aplicada a dose recomendada, afeta muito negativamente todos os insetos com que entra em contacto”, acrescenta a nota de imprensa divulgada pelo Instituto de Pesquisa da Biodiversidade, ligado à Universidade de Barcelona.
Assim, ao ser utlizado para matar uma determinada mosca ou pulga, acaba também por matar joaninhas e aranhas, que são predadores naturais dos primeiros. “Esperamos que as conclusões deste estudo provoquem uma revisão e, neste caso, uma regulação do uso de lambda-cihalotrina”, afirma Berta Cabalerro, co-autora do artigo e conservadora de artrópodes do Museo de Ciencias Naturales de Barcelona.
Para realizar esta investigação, os cientistas recolheram insetos de mais de 50 espécies em campos de cultivo, em diferentes zonas climáticas de cinco países: Portugal, Reino Unido, Alemanha, Polónia e Espanha. Os insetos capturados em culturas como o trigo e as oliveiras foram depois expostos a uma dose crescente do pesticida, com um seguimento durante 72 horas.
“Com apenas 5% da dose recomendada, observam-se efeitos em metade das espécies de insetos benéficos, uma percentagem que sobe para 98% quando aplicamos a dose completa”, explica José Manuel Blanco-Moreno, também co-autor do estudo e investigador na Universidade de Barcelona.
A nova investigação questiona também a fiabilidade dos estudos realizados quando se testam novos pesticidas, já que muitas vezes estes baseiam-se numa única espécie, a abelha-do-mel – que a equipa considera não ser representativa da biodiversidade devido às suas características genéticas e biológicas.
“Os resultados deste estudo apontam para uma necessidade urgente de se redesenharem os procedimentos de avaliação de risco, incorporando enfoques multiespécies para se proteger a biodiversidade de forma mais eficaz”, conclui Blanco-Moreno.
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