sexta-feira, 8 de novembro de 2024

As trufas negras do planalto mirandês

 O presidente da associação micológica “A Pantorra”, Manuel Moredo, indicou que o planalto mirandês tem apetência natural para o aparecimento da trufa negra ou trufa de inverno (‘Tuber melanosporum’), considerado um dos fungo de maior valor gastronómico.


“Na região do planalto mirandês, entre os concelhos de Vimioso e Miranda do Douro, há uma zona calcária, com apetência para o desenvolvimento das trufas de inverno, (…) dadas as características do subsolo, como é caso da zona mineira de Santo Adrião”, disse Manuel Moredo.

De acordo com o micólogo, já houve experiências de prospeção de trufas no distrito de Bragança, com recurso a um especialista espanhol, que trouxe cães treinados para farejar a zonas com potencial para a trufa negra.

“Este fungo está enterrado no subsolo a profundidades variadas até cerca de 20 centímetros e o cão detetou e foram encontradas algumas trufas em pequenas áreas. No caso dos concelho de Vimioso e Miranda do Douro, a área é muita vasta e este fungo poderá aparecer dadas as características do subsolo”, indicou.

Segundo Manuel Moredo, o período ideal para se encontrarem trufas negras é entre novembro e março, onde estes fungos poderão alcançar vários milhares de euros.

“Neste período que as trufas negras, também conhecidas como trufas de inverno, estão em condições de serem apanhadas”, disse.

Esta revelação acontece na em vésperas do 24.º Encontro Micológico de Mogadouro, que acontece entre sábado e domingo, que prevê juntar cerca de 70 participantes vindos um pouco de todo o país.

Durante a iniciativa haverá uma saída de campo com a identificação de cogumelos silvestres, já que se trata de uma comida de risco.

“Todos os anos alertamos em vários encontros espalhados pelo país e pela vizinha Espanha, para o risco de colher cogumelos silvestres, sem os conhecer. Há uma maior sensibilização por parte dos apreciadores. Mas todos os cuidados são poucos”, indicou. Manuel Moredo.

Apesar do valor económico e todo o potencial gastronómico ou medicinal dos cogumelos silvestres, em Portugal ainda não há legislação que regulamente o setor e esse “vazio legal” não permite a “certificação” das mais variadas espécies para que se tornem numa mais-valia económica.

“Há mais de 25 anos que a associação A Pantorra, com sede em Mogadouro, luta por um código de conduta para a apanha dos cogumelos silvestres. Tem de haver legislação que acabe com a anarquia que tem havido, e há, em matéria da apanha destes fungos únicos”, reiterou Manuel Moredo.

A Pantorra já identificou mais de um milhar de espécies de cogumelos silvestres no Nordeste Transmontano nos últimos 24 anos.

“É impossível identificar todas as espécies de cogumelos. A última que nós edificámos foi há três anos, na zona de Fornos de Algodres, no distrito da Guarda. Mas há milhões de espécies espalhadas por todo o mundo”, vincou este especialista em micologia silvestre.

No outono, lameiros, florestas, soutos e pinhais são batidos, palmo a palmo, pelos recoletores de cogumelos silvestres, alguns dos quais o fazem por gosto e outros porque encontraram nesta atividade uma forma de sustento.

Sanchas ou setas, boletos, repolgas, línguas de vaca, frades ou míscaros são, entre outras espécies nesta altura do ano, dos fungos mais procurados pelos apreciadores e recoletores na região do Interior Norte.

Os preços das mais variadas espécies de cogumelos silvestres em fresco podem variar entre os 12 euros por quilo no caso dos boletos e os quatro euros no caso das setas dos pinhos.

Manuel Moredo, acrescentou ainda que se está a atravessar uma boa altura para a apanha de cogumelos, porque há calor e humidade nesta época do ano, condições consideradas boas para a apanha dos fungos comestíveis.

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