sexta-feira, 29 de novembro de 2024

GUERRAS QUE (QUASE) NINGUÉM QUER

 Artigo de opinião escrito por Lídia Praça | Presidente da MEL – Mulheres Empreendedoras da Lusofonia


A guerra é, sem dúvida, um dos maiores horrores que a humanidade pode experimentar, mas quando falamos de conflitos que têm o poder de se expandir e atingir diversas nações, como é o caso da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, as consequências tornam-se ainda mais devastadoras. Porém, um aspeto que muitas vezes é subestimado nas discussões sobre a guerra é a voz das mães.

A nossa voz, uma voz, por vezes, silenciosa e, muitas vezes, silenciada diante da perspetiva de um conflito que ninguém deseja, mas que as circunstâncias podem forçar a alargar-se.
Com efeito, no conflito que opõe a Rússia à Ucrânia, ou em qualquer outro conflito, são as mães quem mais sofre, as mães, essas mulheres que têm a responsabilidade primeira de cuidar e de proteger as novas gerações são, exatamente, elas que enfrentam a dor indescritível de verem os filhos serem recrutados e enviados para a frente. São elas, as pietàs, que enfrentam o medo constante de os perderem por uma causa que, independentemente da razão, não compreendem nem aceitam.
Ao observarmos a possibilidade de um alargamento do conflito, com o envolvimento mais direto de outros países, constatamos que o que pode começar como uma guerra regional, em concreto com a disputa pelo controle da Ucrânia pela Rússia e as tensões envolvendo as potências ocidentais, pode expandir-se rapidamente para um cenário global, com recurso ao uso de tecnologias militares avançadas, como armamentos nucleares. Aqui chegados, direi o que já todos sabem, que numa guerra dessa magnitude, os custos humanos serão incalculáveis e as mães, que estão no epicentro do sofrimento, terão de lidar com a morte, o desaparecimento e o sofrimento dos seus filhos.
Dos filhos que criaram e educaram para serem felizes e viverem. Além de que, o alargamento do conflito trará consigo muitas outras implicações: mudanças geopolíticas que afetarão não apenas os países diretamente envolvidos, mas também todas as outras nações do planeta; a diplomacia e as alianças entre potências, que hoje são frágeis, poderão desfazer-se completamente; e, até no campo económico, uma guerra dessa escala causará colapsos da economia, com aumentos nos preços dos alimentos, escassez de recursos e uma recessão global que prejudicará ainda mais a vida das famílias.
Mas a consequência mais devastadora de um conflito alargado será a destruição do próprio tecido social e humano. As mães, que representam a continuidade das gerações, serão as maiores vítimas deste processo. O alastramento do conflito resultará em milhões de mortes, com um impacto direto na educação, saúde, bem-estar e segurança das crianças e jovens. Serão eles quem mais perderá, designadamente, com a destruição de infraestruturas, a escassez de alimentos e os ataques indiscriminados a cidades. O sofrimento das mães nas zonas de conflito demonstra bem que, embora a guerra seja travada entre nações e exércitos, são os civis, em especial as mulheres, as crianças e os jovens, quem paga o preço mais elevado. E, por isso, hoje são as nossas vozes que se levantam em protesto contra a escalada da violência e que clamam por uma solução diplomática e pacífica. Na história, sempre foi possível ver a resistência das mulheres contra a guerra. Também, neste contexto atual de guerras, muitas mulheres, sejam elas mães ucranianas, ou russas, ou israelitas
ou palestinianas, têm-se levantado contra a violência, exigindo um cessar-fogo e a negociação de um acordo de paz. Para elas, para nós, a guerra não é uma solução, mas, antes, uma tragédia irreversível.
Ouçam! Ouçam o grito silencioso das mães da Europa e de outras partes do mundo, reclamando pela paz e exigindo um futuro sem mais mortes ditadas por guerras.
Ponha-se termo ao sofrimento de ver mães a enterrar os seus filhos. É pedir muito? … Porque o grito das mães, o nosso grito, é, em última instância, o protesto da humanidade contra a barbárie da guerra. Um grito contra a selvajaria e a incivilidade!

Lídia Praça

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