quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Maldito álcool, que tantas vidas prematuras interrompe

Por: António Pires 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...") 


Teria eu os meus 15/16 anos, quando, não sei em que contexto, dei por mim a reflectir sobre esta pérola do pensamento filosófico existencialista, de que não me recordo o seu autor, mas que foi capaz de nortear a minha vida e muitas das minhas escolhas e decisões: "O Homem é responsável pelo seu próprio destino; eleva-se e cai, segundo os seus actos".
Apesar da minha ainda tosca maturidade intelectual, interpretei este pedaço de reflexão da seguinte forma: se eu conduzir o meu veículo a uma velocidade de 200 km/h, e se um pneu rebentar, a probabilidade de ter um acidente fatal é incomparavelmente maior do que, nas mesmas circunstâncias, se eu for a 90 km/h.
A cidade de Bragança acordou, na passada sexta - feira, com a trágica notícia da morte duma miúda de 19 anos, aluna do IPB, na sequência dum acidente de viação, que não deveria ter acontecido, caso não se tivesse "forçado" o Destino.
É por demais sabido que as novas gerações bebem álcool compulsivamente, numa espécie de afirmação social, como se pretendessem condensar toda uma vida em apenas uma noite. Um fenómeno que a reflexão de José Saramago, segundo a qual " O heróico no Homem é não pertencer a um rebanho", nos remete para as suas verdadeiras causas. Pois que a entrega desregrada às charabanadas, aos shots, às incontáveis cervejas e afins - sem que seja necessário um motivo ou propósito para o fazerem (se é que é preciso) - !, levam esta miudagem ao estado de coma alcoólico, perdendo aquilo que supostamente lhes é mais caro, a dignidade, é, antes de mais, motivada pela imperiosa ânsia de ser aceite pelo “rebanho”, pela seita que os despersonaliza e lhes retira o seu “eu”. Ou seja, bebo, porque os outros também bebem.
Perante situações que fogem ao controlo dos progenitores, numa fase em que parece já não haver nada a fazer, estes, sentindo-se culpados e  resignados, fazem aquela clássica pergunta retórica: “afinal, onde é que eu falhei?!
A minha visão sobre o assunto, não mais do que empírica, de alguém que, profissional e academicamente, não está habilitado para dar uma resposta suficientemente satisfatória e consensual, leva-me às seguintes perguntas: 
Será que os pais de hoje estarão a ser verdadeiros pais, no que diz respeito à responsabilidade que o dever da paternidade lhes exige?! 
Será que hoje os pais da geração dos “oitentas”/ “noventas”, embriagados por esse Mundo Novo do exibicionismo, das aparências e futilidades, estarão a dar aos seus filhos aquelas coisas mágicas, que não têm preço, a que chamamos Valores Morais?!
Será que estes pais não estarão a dar mais atenção aos ses “pets” do que aos próprios filhos?!
Será que os país que permitem que os seus filhos, de 13/14 anos,  frequentem, com regularidade,   espaços noturnos até às 5/6 horas da manhã,  não se estarão a demitir da autoridade que lhes foi conferida, enquanto tal? 
Será que estes pais, tão permissivos e tolerantes, que não sabem dizer um “não” aos petizes, têm noção de que há miúdas de tenra idade,  que, na frenética e agitada noite bragançana, completamente etilizadas, e sem a consciência de si mesmas, são “arrastadas”, do interior das discotecas, para apartamentos e aí violadas?
Será que estes pais modernos alguma vez disseram aos seus filhos que é possível a diversão, viver momentos intensos, gozar a juventude, fazer disparates, cometer imbecilidades (tudo isto natural e saudável, nesta etapa da vida), sem que para tal seja preciso beber alarvemente, perder as faculdades de discernimento, sem se anularem como pessoas?
Será que estes pais de mentes abertas algum dia tiveram uma conversa com aqueles que são o o seu bem mais precioso, para lhes dizer que mais importante do que serem aceites no grupo, quer da escola, do futebol ou do balet, é terem a certeza de que são admitidos sem exigências, sem chantagens, sem perderem a sua essência?!Sim, porque a auto – estima, o amor – próprio não são sinónimos de arrogância, de narcisismo, mas de que temos noção do quanto valemos e somos capazes. 
Naqueles 2/3 dias, quando o mundo parece desabar sobre as nossas cabeças, fica-se em choque, porque, incrédulos, se admite que ninguém devia partir tão cedo desta vida. Fica-se em choque, porque partilhamos a imensa dor daqueles pais. Mas, infelizmente, estes casos não servem de “exemplo”, para que outros não se repitam, pois “estas coisas só acontecem aos outros”.
Por favor, convençam aos vossos filhos que a vida é uma bênção. Façam-lhes ver que “o melhor presente é estarem presentes”.

António Pires


António Pires, natural de Vale de Frades/S. Joanico, Vimioso. 
Residente em Bragança.
Liceu Nacional de Bragança, FLUP, DRAPN.

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