segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

… “’por quem os sinos dobram”

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

A minha mãe morreu… era dezembro… ano triste de 1983. Fazia frio… as árvores do hospital choravam lágrimas brancas… gelo de cristal… eram três horas da tarde… Jesus Cristo morria na cruz depois duma longa caminhada… Eugénia… minha menina… esperaste-me no teu calvário do hospital de Bragança… eram três horas da tarde em ponto… ainda tiveste tempo de me apertar a mão… depois serenamente… foste embora… sem uma lágrima… sem um suspiro… como quem vai à nossa horta dos Linhares… e regressa antes do toque das Trindades… chorei… chorei copiosamente… tu branca de neve… fria… finalmente… como quem se cumpriu… descansaste...
... entardecia… cobri o teu rosto de beijos… e serenei sentindo o abraço apertado dos amigos.
… Hoje murmura-se… quase a medo que muitos idosos morrem penosamente… solitários… institucionalizados… longe dos filhos… do aperto da mão… do beijo quente que amacie o frio da partida…
… morrer assim é doloroso
... mas se é verdade... deixar morrer assim é para toda a humanidade vergonhoso.
.... e quase todos se calam....mas a revolta já se passeia assustadora pelas ruas... pelas casas e pelos casebres da cidade.
... felizmente ainda chamam os filhos para o funeral.


Fernando Calado
nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

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