terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Visita à escola primária

 
Por volta de 1959 e antes de fazerem a escola nova a senhora Dona Helena Felgueiras, professora primária de Brunhoso, dava a escola, como nós dizíamos, na casa da paróquia, ao cimo da Rua do Balcão. Ainda existe esta casa, agora remodelada graças à intervenção da Junta de Freguesia e dos Moredos do Brasil, em especial o José Manuel Moredo.
Dava um grande volume contar a saga desta família, originária de Brunhoso e que hoje são um potentado económico no Brasil, principalmente na indústria dos mármores e granitos. Mas isso é outra história e hoje quero falar-vos do tempo em que ali funcionava a escola primária.
Andavam nessa escola os meus irmãos Francisco e João. Como se entrava para a escola aos sete anos, eu teria cinco anos e o meu irmão Zé três. Como não me lembro de o Martinho andar connosco nesse dia, é porque ainda não tinha autonomia para andar tão longe de casa, o que me leva a concluir que teríamos as idades que referi. Quando muito teríamos mais um ano cada. O Martinho teria um ano, apesar de ladino e ter começado a andar muito cedo.
Nas nossas deambulações pelo povo, resolvemos eu e o Zé, que nesse dia iríamos ver o Chico e o João à escola.
Era costume os garotos começarem muito novinhos a fazer algumas coisas da lavoura, como levar as vacas a beber, outras vezes levá-las à regada , ali na Lagariça, outras vezes irmos para Vale de Cabo a ajudar a regar e outras coisas como cavar as batatas ou o milho, andarem pelo povo nas suas brincadeira.
Esse dia, andávamos na jolda pelo povo e surgiu aquela lembrança!
E se bem o pensámos, melhor o fizemos! Aí vamos nós, pela rua do balcão acima até chegar ao cimo, onde começa a rua da Malhada. Ali à direita, aí estaca a casa da escola. Chegámos à porta e abrimos. Era ver os garotos todos da escola a olhar para nós. A professora, a senhora Dona Helena, veio à porta e perguntou-nos o que estávamos ali a fazer. Nada, lhe dissemos. Deu-nos uma desanda que corremos e só parámos em casa. A Dona Helena tinha a fama de ser uma professora muito brava.
E foi esta a primeira visão que tive do mundo dos estudos. Os garotos e as garotas sentados e a professora muito enraivada por lhe termos interrompido a lição. Todos muito caladinhos porque o respeito era muito e as reguadas para quem se portasse mal faziam doer muito as mãos. Já bondava as que levávamos por não saber as contas e a gramática! Aí é que não havia nada a fazer!

Leça do Balio, 2 de Agosto de 2009

António Magalhães

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