quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Os Homens devem ter Memória.

 Permiti-me repor umas linhas que escrevi há uns tempos...
Este meu amigo, amigo extremoso da minha família, a quem dediquei o texto e que não identifiquei na altura, "partiu" há quatro anos para um Reino Maravilhoso que sempre o fez ser muito feliz, também, neste Reino Maravilhoso. E o seu Santo Cristo de Outeiro lá esteve a recebê-lo com a reverência que sempre mereceu.
Hoje (há quatro anos) foi um dia muito triste para mim e para os meus...
Descanse em Paz Amigo Garrido!

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A Relatividade das Coisas

Ontem, depois de jantar, lá fui com o meu velho amigo tomar o cafezito da ordem ao único tasco da aldeia. Velho porque somos amigos há muitos anos e velho porque felizmente está na casa dos 90…
Depois de ouvir as estórias que já ouvi umas boas dezenas de vezes, mas sempre com um prazer renovado, recordações do trabalho na grande urbe, lá regressámos à terra.
Aquelas minhas oliveiras, sabe onde são… as primeiras? abri eu as covas todas. Depois apanhei aquela terra de cima à venda e comprei-a. Plantei-a também de oliveiras. Mas já não fui eu a abrir as covas. Paguei ao Jaquim…
As memórias do meu amigo, iam desfilando umas atrás das outras…com uma, indisfarçável, humidade nos olhos, cansados e brilhantes…
Porque não vem para cá?
Sabe Sr. Henrique… a família, os netos…
Tem que conversar com eles, já estão criados…
Eu, dizia-me ele, estou ali bem. Vivo no Bairro da Sé. A minha casa tem uma vista fabulosa, todos ficam deslumbrados. Entretenho-me no quintal... Eles não percebem nada daquilo e… prontos…
Com as pausas necessárias e nunca interrompidas por buzinas de carros, ou outros sons estridentes, a não serem os latidos dos cães… lá continuámos a conversa… como sempre.
Mas, perguntei-lhe eu, se o seu coração, a sua cabeça, o seu pensamento está “cá encima”, porque não regressa? Não é aqui que se sente bem.
É, claro que é…ainda nem tive tempo de ir ver a vinha… já só volto para apanhar a azeitona.
O meu amigo estava a chegar a um ponto em que não já não tinha desculpa razoável…
Diz-me ele, acho que um pouco ingenuamente e sem pensar nas repercussões.
- Ao menos aqui temos com quem falar…em Lisboa falo com quem?...
Aqui, onde estou por estes dias somos umas poucas dezenas, em Lisboa é mais de um milhão e meio de andantes…
Mas aqui, o meu amigo, tem sempre com quem falar e a quem olhar nos olhos. Lá, com tanta gente…não tem ninguém com quem falar... e se tivesse falava de quê?
Abraço apertado velho e querido amigo!

PS. Faleceu o meu querido amigo e na aldeia já não há nenhum tasco... !

HM

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