terça-feira, 14 de janeiro de 2025

ROSAS DE VILA FLOR

Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)


No passado dia sete de janeiro, cumpridos que foram setecentos anos sobre a sua morte, evocou-se D. Dinis, o rei-poeta. Em Odivelas, onde está sepultado, passando por Santarém onde foi relevado, entre outros, o papel do monarca no desenvolvimento agrícola, Leiria, louvando a iniciativa de plantação do célebre pinhal, berço de caravelas, tema de cantigas de amigo e gérmen da ecologia, foi, em Vila Flor, celebrado o seu génio poético, o seu lado romântico e, sobretudo, prestada a devida homenagem ao soberano que, por ocasião da concessão do seu primeiro foral rebatizou a antiga Póvoa D’Além Sabor por lhe reconhecer a beleza suficiente (e evidente) para a qualificar como sendo a Flor das Vilas do seu reino. A propósito desta merecida comemoração o município vilaflorense entendeu por bem homenagear um apoiante desta celebração, de primeira hora, o padre Joaquim da Assunção Leite, falecido recentemente.
No Centro Cultural Adelina Campos, perante uma plateia de amigos, o bispo auxiliar da arquidiocese de Braga e bispo titular de Dume, D. Delfim Gomes fez o elogio do homenageado, de quem foi muito próximo não só nas suas funções paroquiais, como na vida do dia a dia naquela vila, num registo informal, mas muito emotivo. Lembrou o percurso comum desde a colaboração na gestão do Seminário Maior de Bragança até à partilha de responsabilidades na paróquia de Vila Flor.
O Presidente da Câmara, eng.º Pedro Lima, abriu a sessão, salientou a importância da atividade cívica, cultural e religiosa do sacerdote e depois de enaltecer as características ambientais e arquitetónicas do concelho que lidera, justificou o apoio do município à edição e apresentação de um livro, focado nesta comemoração e escrito a partir de uma ideia do padre Leite. A apresentação da obra foi adequadamente ilustrada com a representação de um quadro aí descrito, levada a cabo pela Filandorra. O grupo de teatro recriou a chegada dos reis de Portugal à Praça da República, acompanhando a performance cénica com um cuidado e adequado momento de música medieval. Após as apresentações foi servido um Porto de Honra onde, entre os acepipes se destacaram, mesmo que nem todos os presentes se apercebessem, algumas dezenas de doces concebidos e confecionados, de propósito para aquela ocasião. Das experientes e criativas mãos de Cármen Ochoa Pimentel, saíram deliciosos bolos de amêndoa e creme de ovos, em forma de rosa, como resposta ao desafio do já citado padre Joaquim Leite. A caixa onde vieram para o Centro Cultural estava, muito apropriadamente, ilustrada com a imagem da capa do livro “O Terceiro Milagre das Rosas”, ali apresentado.
Não sei se a iguaria já foi batizada, porém, sem me querer arrogar do génio dionisíaco que tão brilhantemente renomeou a Póvoa D’Além Sabor, atrevo-me a sugerir que a iguaria se passe a chamar “Rosas de Vila Flor”. Estou certo que, uma vez conhecida e divulgada, passará a ser mais um motivo para visitar a vila nordestina e, nesta, rumar até à Casa das Tias, nas imediações da Praça da República, na vizinhança da Rainha Santa, quem, primeiramente, atribuiu a estas flores, características alimentícias. Ou vice-versa…


José Mário Leite
, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia), A Morte de Germano Trancoso (Romance) e Canto d'Encantos (Contos), tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

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