O 𝐅𝐞𝐬𝐭𝐢𝐯𝐚𝐥 𝐈𝐧𝐭𝐞𝐫𝐢𝐨𝐫 𝐜𝐨𝐦 𝐕𝐨𝐳 não é apenas uma sequência de concertos, mas um convite para experienciar a riqueza cultural da música portuguesa em todas as suas formas.
domingo, 2 de fevereiro de 2025
O Teatro Municipal de Bragança será palco de um novo festival: o 𝐅𝐞𝐬𝐭𝐢𝐯𝐚𝐥 𝐈𝐧𝐭𝐞𝐫𝐢𝐨𝐫 𝐜𝐨𝐦 𝐕𝐨𝐳 🎤🎵
O 𝐅𝐞𝐬𝐭𝐢𝐯𝐚𝐥 𝐈𝐧𝐭𝐞𝐫𝐢𝐨𝐫 𝐜𝐨𝐦 𝐕𝐨𝐳 não é apenas uma sequência de concertos, mas um convite para experienciar a riqueza cultural da música portuguesa em todas as suas formas.
O Lodo e as Estrelas
«31 de Julho. O grupo amador A Máscara estreia O Lodo e as Estrelas, que adaptei da obra homónima [1960] do padre Telmo Ferraz: as condições sub-humanas em que vivem os construtores da barragem de Picote, nos finais de 50.
Vai ser a travessia do distrito, à boleia, dormindo, comendo e representando onde bem calhar. Cai-me o cabelo de um ano pelas costas e a barba não se fica atrás.
Não há outra saída nesta cidade para um verão tórrido e cheio de maus sinais. Extremam-se os sentimentos dos portugueses, enquanto me pergunto se vou estar um segundo ano parado, à espera de entrar na Universidade.
10 de Setembro. Terminámos a digressão, sete mânfios de boa vai ela. Houve de tudo: desde problemas internos a apodos de «comunistas». Servimo-nos de atrelados de tractores, dormimos sobre fardos de palha, lavámo-nos em chafarizes.
Foram 22 sessões, com a peça e respectiva discussão pública precedidas de versos mais ou menos violentos (de poetas argelinos, por mim traduzidos, ao “Cântico Negro” regiano) que eu debitava. Tudo, bom Deus, entre o louvável e o péssimo. Agora, descansando, e cortando sempre, revejo as minhas três peças na gaveta.»
Retrato do Grupo de Teatro A Máscara, com nome impresso nas t’shirts, e uma cena com o capitalista lendo jornal, indiferente ao proletário no lodo, podem ser vistos no blogue de Henrique Martins: são imagens de um tempo em que a juventude intervinha, no ano em que esquerdas queriam alfabetizar à força o Nordeste e direitas incendiavam sedes e automóveis.
O nosso teatro de guerrilha, por terras onde nunca se vira um palco, talvez deixasse alguma impressão saudável – no título, ao menos, que certos jornais gralhavam como O Iobo e as Estrelas…
Eram textos curtos e fortes, e, como os trabalhadores que para o Douro vinham, prosas deslocadas, o que sobressaltou censores do espírito, sem a flagrante empatia dessas páginas.
A edição tornou-se raridade.
Enquanto isso, noutro palco de guerra, angolano, o padre Telmo Ferraz fazia infinitamente mais do que nós: salvava corpos e almas. Homem de barragens ao medo e à miséria, eu ia sabendo de seu cá e lá, sem a oportunidade de uma longa conversa em que agradecesse livro, entretanto reeditado (1975), convidando a olhar as estrelas. Agradecendo, também, haver uma criatura de Deus tão importante nas nossas vidas.
Os Restos Mortais de Eça, pertencem ao Estado ou à Família?
Esqueceram-se, porém, que a obra do maior estilista da língua portuguesa, pertence à nação, mas os restos mortais – já que não indicou local onde queria ser sepultado, – não são do Estado nem da Povoa do Varzim, onde nasceu, mas à família.
Criou-se, então, acesa polémica, entre os descendentes de Eça, e o grupo de admiradores, que nas melhores intenções – penso eu, – quiseram homenagear o escritor, que há quatro décadas repousa, o sono eterno, em Santa Cruz do Douro. Polémica, que a imprensa nacional parece não lhe dar o devido valor, já que raras são as referencias, ao assunto.
Não comento quem tem ou não razão, mas limito-me a levar a matéria, ao conhecimento do atento leitor:
António Eça de Queiroz foi o primeiro a opor-se à trasladação, por considerar:"Ser uma farsa politica negociada entre " amigos" pois o ridículo "“processo" de trasladação dos restos mortais de Eça para o Panteão Nacional é, além duma parolada de pretensiosos, um insulto à memória das pessoas que há mais de três décadas tudo fizeram para que Eça descanse em paz junto da sua filha mais velha no cemitério de Santa Cruz do Douro. Com o acordo das netas, ainda vivas." - Texto publicado no: Jornal de Baião", de 7/7/2021.
Mais adiante, escrito com o entusiasmo e energia, característica peculiar do antepassado, António Eça de Queiroz, continua:
" Definitivamente o termo " Descansa em Paz" parece hoje apenas um pró-forma semi-piedoso, mas sem qualquer valor real: basta o Estado querer que já não descansa. (...) A Fundação Eça de Queiroz, que não é proprietária do cadáver nem pode ser, avançou com este processo através das suas canalizações políticas, sem dar explicação a ninguém.
" A mim e aos restantes familiares, que somos contra este espectáculo macabro, só nos resta apoiar quem desde sempre foi contra a remoção dos restos mortais do escritor Eça de Queiroz. “- idem: “Jornal de Baião” 7/7/2021.
Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG” e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".
OS FIDALGOS - CARVALHAIS
2º D. VALÉRIA JOANA DE S. FRANCISCO, que nasceu em Carvalhais, concelho de Mirandela, a 16 de Dezembro de 1720 e professou no convento de Santa Clara de Vinhais em 1745.
Era filha de D. Alexandre de Macedo Soto Maior e Castro e de D. Caetana de Castro e Sousa, que residiram em Carvalhais.
Neta paterna de D. Duarte de Macedo e de D. Mariana, naturais de Vila Real.
Neta materna de Valério de Castro Delgado e de D.Mariana de Sousa, de Murça.
3º D. LOURENÇA MARIA DE MACEDO (na clausura D. Lourença Maria de Santo António), irmã da precedente, nasceu em Murça, onde os pais também residiram, a 10 de Agosto de 1715 e professou em 1744, no mesmo convento(214).
Guilhermino Augusto de Barros - Os Governadores Civis do Distrito de Bragança (1835-2011)
Alto funcionário da Administração Pública.
Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra.
Deputado (1858-1859, 1861-1864, 1865, 1868, 1885 e 1887). Governador civil de Bragança (1860-1861), Castelo Branco (1865-1868 e 1869-1870) e Lisboa (1877). Par do Reino (1.2.1886).
Natural do Peso da Régua.
Filho de Francisco Manuel de Barros e de Maria Maximina de Barros, lavradores.
Casou com Júlia Vaz Preto Giraldes, de quem teve quatro filhos: Guilhermino Augusto de Barros, bacharel em Direito e professor da Escola Normal de Coimbra; Manuel Augusto Vaz Preto Giraldes de Barros; Maria Máxima Vaz Preto Giraldes de Barros; e João José Augusto Vaz Preto Giraldes de Barros.
Comendador da Legião de Honra, de França (1878). Agraciado com a carta de Conselho (1881) e com o prémio D. Luís, da Academia Real das Ciências.
As estratégias das plantas: como conquistar novos territórios sem sair do lugar
Dente-de-leão (Taraxacum officinale). Foto: Krzysztof Ziarnek/WikiCommons |
As plantas desenvolveram estratégias engenhosas para superar a imobilidade. Uma das mais fascinantes é a dispersão de sementes, um processo indispensável para conquistar novos habitats, evitar a competição direta com a planta-mãe e aumentar as hipóteses de perpetuar a espécie.
Mas como o fazem? De que forma usam o vento, a água e os animais? Ou até estratégias autossuficientes, como a gravidade e explosões naturais?
Dispersão pelo vento: a viagem das sementes pelo ar
Uma das formas mais conhecidas de dispersão de sementes é a anemocoria, em que o vento é o principal aliado. As plantas que adotam esta estratégia produzem sementes leves, frequentemente equipadas com estruturas especializadas para maximizar a flutuação. Os exemplos mais icónicos são as sementes de dente-de-leão (Taraxacum officinale), cujas estruturas em forma de paraquedas permitem que sejam transportadas por grandes distâncias.
Quem nunca soprou, ainda criança, as sementes felpudas de um dente-de-leão maduro, fazendo a pergunta “O teu pai é careca?” enquanto via as sementes a dançarem ao vento? Esta brincadeira infantil, para além de divertida, ilustra de forma encantadora o processo natural de dispersão de sementes pelo vento, transformando este fenómeno ecológico num momento de pura magia e descoberta.
Outro exemplo impressionante é o do bordo (Acer pseudoplatanus). As suas sementes, chamadas sâmaras, têm uma forma característica de ‘hélice de avião’, o que lhes permite ser transportadas pelo vento a grandes distâncias.
Passageiros da água: as sementes que flutuam
A água, com a sua capacidade de transportar objetos por longas distâncias, é uma aliada fundamental na dispersão de sementes. Algumas plantas que habitam em áreas próximas de cursos de água, como rios, ribeiras, lagos ou oceanos, desenvolveram adaptações notáveis para aproveitar esse recurso natural a seu favor. O fenómeno, conhecido como hidrocoria, permite que as sementes viajem por longas distâncias, sendo simplesmente levadas pelas correntes de água.
As sementes destas plantas têm cascas espessas e leves, permitindo que flutuem e resistam à imersão prolongada. Um exemplo clássico é o coqueiro (Cocos nucifera), cujas sementes, envoltas numa casca fibrosa cheia de ar, podem viajar milhares de quilómetros pelo oceano até atingirem praias tropicais. Outro exemplo fascinante é a flor-de-lótus (Nelumbo nucifera), uma planta aquática originária da Ásia, que produz sementes com uma casca dura e impermeável, capazes de flutuar em lagos e pântanos e germinar mesmo após anos de dormência.
Em Portugal, destacam-se espécies ribeirinhas como o amieiro (Alnus glutinosa), os salgueiros (Salix spp.), os choupos (Populus spp.) e o lírio-amarelo (Iris pseudacorus). Estas plantas têm adaptações específicas que permitem que as suas sementes flutuem e sejam transportadas pelas correntes, colonizando eficazmente novas margens de rios e zonas húmidas.
Amieiro. Foto: Lidine Mia/WikiCommons |
A ajuda dos animais: tAmieiro. Foto: Lidine Mia/WikiCommonsransporte intencional e acidental
Os animais também têm um papel fundamental na dispersão de sementes. A zoocoria, dispersão mediada por animais, é talvez a estratégia mais diversificada e bem-sucedida. Este processo ocorre de diversas formas, dependendo da interação entre a planta e o animal, resultando em diferentes tipos de dispersão.
Há plantas que oferecem frutos saborosos e nutritivos para atrair os animais; estes consomem os frutos e espalham as sementes ao defecar em locais distantes. A esta estratégia chamamos endozoocoria. Um exemplo clássico é o medronheiro (Arbutus unedo), cujos frutos atraem aves como o tordo (Turdus philomelos) e o melro (Turdus merula) e mamíferos como a raposa-vermelha (Vulpes vulpes) e o texugo (Meles meles). O pilriteiro (Crataegus monogyna), o sabugueiro (Sambucus nigra), o azevinho (Ilex aquifolium) e a cerejeira-brava (Prunus avium) dependem de aves como os gaios (Garrulus glandarius), melros, tordos e pombos (Columba spp.) e de pequenos mamíferos, como os esquilos (Sciurus vulgaris), raposas (Vulpes vulpes) e coelhos (Oryctolagus cuniculus) para dispersar as suas sementes.
Outras desenvolveram uma estratégia diferente, a epizoocoria. Várias gramíneas – como a bole-bole-maior (Briza maxima), a erva-lanar (Holcus lanatus), a cevada-das-lebres (Hordeum murinum), o azevém-perene (Lolium perenne) e a erva-de-febra (Poa pratensis) – têm sementes com espinhos ou ganchos que aderem ao pelo, penas ou patas dos animais, permitindo que sejam transportadas involuntariamente para locais distantes. Outros exemplos são a bardana (Arctium minus) – cujas sementes, dotadas de ganchos, inspiraram a invenção do velcro – e a bardana-menor (Xanthium strumarium), cujas sementes se fixam devido aos espinhos curvos.
Esquilo-vermelho, uma das espécies conhecidas em Lisboa. Foto: Jakub Hałun/Wiki Commons |
A mirmecocoria é outra estratégia eficaz. Esta envolve a colaboração de formigas, que são atraídas por elaiossomas – estruturas ricas em nutrientes presentes nas sementes. Este mecanismo eficiente é observado em plantas como o tomilho (Thymus spp.), a violeta-brava (Viola riviniana), a erva-da-verrugas (Chelidonium majus) e o trevo (Trifolium spp.), que beneficiam do transporte fornecido por estes pequenos insetos.
E de outras vezes as sementes são deliberadamente transportadas por animais, geralmente na boca ou no bico. Contudo, nem sempre são consumidas. Em alguns casos, os animais armazenam os frutos ou sementes para alimentação e, por esquecimento ou abandono, promovem a sua germinação. Este processo é conhecido como diszoocoria. Um exemplo clássico é o carvalho (Quercus spp.), cujas bolotas são frequentemente enterradas ou escondidas por aves, como os gaios, em locais propícios para germinação. Outro exemplo deste tipo de dispersão é a estomatocoria, quando as sementes ou frutos são regurgitados pelas aves. Isto pode ocorrer, por exemplo, com os frutos do sabugueiro (Sambucus nigra), consumidos por aves como os tordos.
A dispersão acidental e o papel do ser humano
Além dos mecanismos naturais, o homem também desempenha um papel importante na propagação de sementes, seja de forma intencional ou acidental. A antropocoria ocorre através de atividades como a agricultura, a jardinagem e o transporte de mercadorias. Na agricultura, por exemplo, sementes de espécies como o milho (Zea mays), o trigo (Triticum aestivum) e a vinha (Vitis vinifera) são amplamente distribuídas por todo o mundo para satisfazer as necessidades alimentares e comerciais.
Mas o movimento de sementes também pode levar à propagação de espécies invasoras – como as acácias (Acacia spp.), a háquea-picante (Hakea decurrens), o chorão-das-praias (Carpobrotus edulis) e a erva-das-pampas (Cortaderia selloana) – que podem causar desequilíbrios ecológicos, invadindo ecossistemas naturais e alterando a biodiversidade local.
A dispersão de sementes pode ocorrer de forma involuntária, quando estas ficam presas à roupa, calçado ou a outros objetos pessoais. Este transporte acidental, associado ao movimento humano entre regiões, facilita a introdução de plantas exóticas, desafiando barreiras naturais e alterando dinâmicas ecológicas, muitas vezes com impactos negativos nos ecossistemas.
A força da autossuficiência: a energia das explosões naturais
Nem todas as plantas dependem de agentes externos. Algumas plantas desenvolveram mecanismos internos altamente especializados para lançar as suas sementes a curtas ou longas distâncias, utilizando a energia armazenada. Este processo, conhecido como autocoria, varia conforme o tipo de movimento gerado pela planta e a maneira como as sementes são projetadas.
Há plantas que usam a força da explosão para dispersar as sementes rapidamente (processo chamado balocoria). Um exemplo notável é o pepino-de-são-gregório (Ecballium elaterium), cujos frutos, quando maduros, explodem, dispersando as sementes para distâncias consideráveis. A giesta (Cytisus scoparius) e o tremoço-bravo (Lupinus albus) também utilizam esse mecanismo de dispersão.
Pepino-de-são-gregório. Foto: Krzysztof Ziarnek/WikiCommons |
Outras espécies recorrem a uma libertação mais suave e controlada das suas sementes (herpocoria). A ervilha-de-cheiro (Lathyrus spp.), a malagueta (Capsicum annuum) e a erva-de-são-joão (Hypericum perforatum) são alguns exemplos de plantas cujos frutos se abrem lentamente lançando as sementes a uma curta distância, num movimento mais delicado.
Já o amendoim (Arachis hypogaea) tem um mecanismo de dispersão único, uma vez que as suas sementes não são dispersas diretamente pela planta através de um movimento explosivo. As sementes do amendoim crescem abaixo do solo e a planta utiliza um processo de desenvolvimento subterrâneo, com os frutos sendo enterrados naturalmente.
Gravidade: O caminho simples da queda
A gravidade (barocoria) é o método mais simples de dispersão, permitindo que as sementes caiam diretamente ao solo. Os exemplos mais clássicos são os carvalhos (Quercus spp.) e o castanheiro (Castanea sativa) que produzem sementes pesadas (bolotas e castanhas) que rolam para longe da planta-mãe.
Frutos do castanheiro. Foto: Oliylkaeng/WikiCommons |
A criatividade da natureza em ação
As estratégias de dispersão de sementes são um testemunho da criatividade e adaptabilidade da natureza. Cada mecanismo – do vento à água, dos animais ao ser humano – desempenha um papel crucial na perpetuação da vida vegetal e na sustentabilidade dos ecossistemas. Estes processos garantem a diversidade e o equilíbrio das espécies, além de proporcionar recursos imprescindíveis para outros seres vivos.
Ao observarmos estas estratégias, somos convidados a refletir sobre a nossa interação com o ambiente. As sementes, tão pequenas e aparentemente simples, carregam em si o poder de transformar paisagens e criar habitats.
Cada semente é uma pequena promessa de vida. Protegê-las e compreender o seu papel no equilíbrio da natureza é fundamental para garantir um futuro sustentável.
Ameaçado: Lobo-ibérico vai ter novo programa nacional de conservação para os próximos 10 anos
Lobo-ibérico. Foto: Arturo de Frias Marques/Wiki Commons |
“A situação populacional do lobo-ibérico em Portugal tem vindo a evoluir de forma desfavorável, pelo que importa rever e atualizar as estratégias que visam a sua conservação”, segundo o Despacho n.º 1392/2025, publicado a 30 de Janeiro e assinado pela ministra do Ambiente e da Energia Maria da Graça Carvalho.
Na verdade, os resultados do Censo do Lobo-Ibérico 2019/2021, divulgados em dezembro de 2024, mostram uma tendência de contração das áreas geográficas de distribuição da espécie que, no início do século xx, estava disseminada de norte a sul do país.
Hoje existem apenas quatro grandes núcleos populacionais de lobo: Peneda/Gerês, Alvão/Padrela, Bragança e Sul do Douro. Foram detetadas 58 alcateias (56 confirmadas, 2 prováveis). No censo anterior, realizado em 2002/2003, tinham sido detetadas 63 alcateias (51 confirmadas, 12 prováveis).
O número de alcateias detetadas sofreu uma ligeira redução, mas há tendências diferentes nos quatro núcleos populacionais. O núcleo da Peneda/Gerês registou um aumento significativo do número de alcateias, o que, em termos globais, compensou a diminuição verificada nos restantes núcleos. A diminuição do número de alcateias foi sobretudo evidente na área do núcleo de Alvão/Padrela, sendo também preocupante a redução registada na zona do Planalto Mirandês e a sul do rio Douro (onde apenas existirão 5 a 6 alcateias).
Actualmente, a população portuguesa representa 15% da população ibérica de lobo. No censo nacional, 17 das alcateias detetadas (29 %) têm territórios transfronteiriços, partilhados entre Portugal e Espanha.
Estima-se que a população de lobos em Portugal ronde os 300 animais, o que corresponde ao valor médio da estimativa de 190 a 390 lobos.
“A diminuição verificada da área de presença e do número de alcateias detetadas, bem como a instabilidade apresentada por estas ao longo dos últimos anos, poderá estar relacionada com a degradação e fragmentação do habitat decorrentes de alterações da paisagem, mas também de outros fatores. Há ainda um nível relevante de mortalidade por causas humanas face a conflitos com atividades socioeconómicas”, acrescenta o texto do despacho.
“Apesar de Portugal desenvolver esforços muito relevantes como o mecanismo de indemnização de prejuízos do lobo, não está a conseguir os resultados necessários para alcançar o estado de conservação favorável do lobo, compromisso assumido no âmbito da Convenção de Berna e da Diretiva Habitats”, sublinha o despacho.
O Plano de Ação para a Conservação do Lobo em Portugal, aprovado a 8 de Novembro de 2017, “não teve o sucesso esperado, pois visava alcançar o estado de conservação favorável”.
“Passados 7 anos sobre a sua aprovação, e tendo em conta os resultados agora disponibilizados pelo Censo do Lobo, importa proceder à avaliação e revisão deste plano com vista à obtenção de melhores resultados. É preciso inverter a dinâmica populacional desfavorável e assegurar que há maior eficácia na operacionalização de medidas e projetos, o que também implica uma maior afetação de recursos, designadamente financeiros.”
O Ministério do Ambiente e Energia defende “um novo ciclo de medidas dirigidas à proteção e restauro ecológico da população de lobo-ibérico em Portugal, no horizonte temporal de 10 anos, devendo ser previsto financiamento para iniciativas e projetos neste período, no âmbito de um programa a desenvolver”.
Para isso, o ICNF deve apresentar, no prazo de três meses, uma proposta de Programa Alcateia 2025-2035 para a Conservação da população de Lobo-Ibérico em Portugal. “Este deve prever medidas adicionais e prioridades de investimento com vista a alcançar um estado de conservação favorável” desta espécie.
A proposta deste programa será sujeita a consulta pública, por um período de 30 dias. Depois será aprovado por Resolução de Conselho de Ministro e incluirá uma previsão de financiamento plurianual para a sua implementação efetiva.
Ex-Secretário de Estado Hernâni Dias ouvido no Parlamento na Terça-Feira
A informação foi divulgada pelo site da Assembleia da República (AR). A audição está agendada para o dia 4 de fevereiro, às 11 horas, na comissão parlamentar do Poder Local, depois das notícias que davam conta de que criou duas empresas que poderiam beneficiar das alterações ao Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial (RJIGT).
O requerimento para ouvir o ex-autarca brigantino foi apresentado pelo Bloco de Esquerda e aprovado ontem por unanimidade.
Recorde-se que Hernâni Dias demitiu-se na passada terça-feira mas assumido a sua disponibilidade para prestar “esclarecimento cabal de todos os assuntos, o mais rápido possível, e encerrar a desinformação que tem sido difundida”.
As alterações à “lei dos solos” servem para que terrenos rústicos possam ser convertidos em terrenos urbanos desde que a finalidade seja habitacional ou conexa à finalidade habitacional e usos complementares.