domingo, 9 de março de 2025

Aires Guedes Coutinho Garrido - Os Governadores Civis do Distrito de Bragança (1835-2011)

 26.setembro.1865 – 8.maio.1866
COIMBRA, 31.8.1805 – LISBOA, 23.11.1874

Proprietário. Magistrado administrativo.
Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra.
Vereador da Câmara Municipal de Penela (1832). Governador civil dos distritos de Beja (1860-1861), Castelo Branco (1861-1865 e 1869), Aveiro (1865), Bragança (1865-1866), Faro (1866-1868), Portalegre (1868) e Guarda (1868-1869).
Natural da freguesia de São Martinho do Bispo, concelho de Coimbra.
Filho de José Guedes Coutinho Garrido de Meireles, 4.º administrador do morgado da Bouça, fidalgo da Casa Real, e de Tomásia Adelaide da Fonseca Tudela.
Casou com Maria Augusta de Alpoim Rangel Meneses e Quadros, de quem teve três filhos, José Guedes Coutinho Garrido (n. 12.8.1828), deputado e governador civil de Bragança; Joana Alpoim Rangel Coutinho Garrido (n. 25.3.1832) e Luís Guedes Coutinho Garrido (n. 22.12.1834), sócio da Academia das Ciências de Lisboa.
Fidalgo cavaleiro da Casa Real (8.11.1835). Comendador da Ordem de Cristo (6.11.1862).
Comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. Agraciado com a carta de Conselho.

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Pertencente a uma família com raízes aristocráticas, Aires Guedes Coutinho Garrido nasceu na Quinta de Bencanta, propriedade de seus pais, em São Martinho do Bispo, nos arredores de Coimbra, a 31 de agosto de 1805. Foi o último administrador do morgado da Boiça (Penela), por sucessão do seu pai, e senhor do morgado de Troia (Miranda do Corvo).
Casou muito jovem, com apenas 21 anos, em 1826, com D. Maria Augusta de Alpoim Rangel Meneses e Quadros, uma senhora com ligações à fidalguia aveirense e coimbrã.
Foi procurador às Cortes de 1828, por Penela, designado para participar nos denominados Três Estados do Reino, pelo braço do Povo, que confirmariam D. Miguel como rei absoluto. Favorável à nova situação política, talvez pelas suas ancestrais raízes aristocráticas, concluído o curso de Direito na Universidade de Coimbra, a 8 de junho de 1831 – era então capitão-mor das milícias de Penela desde fevereiro desse ano –, alistou-se no Batalhão de Voluntários Realistas daquela localidade, organizado como os restantes para lutar pela legitimidade de D. Miguel contra as forças liberais, e chegou mesmo a comandante deste corpo durante a guerra civil (1832-1834), alcançando o posto de tenente-coronel. Neste período, em 1832, foi ainda vereador da Câmara Municipal de Penela.
Terminada a guerra civil, o resultado desfavorável desta, sob o seu ponto de vista, não lhe parece ter trazido grandes consequências negativas. Pelo contrário, foi cavaleiro da Casa Real por alvará de 9 de novembro de 1835 e mercê régia de D. Maria II, cuja legitimidade havia combatido tão pouco tempo antes.
Dedicou então os anos seguintes à administração dos seus bens, nomeadamente à sua Quinta da Boiça de Baixo, uma imensa propriedade com solar, capela, casas térreas, lagar de azeite, moinho, terras de semeadura, vinhas, pinhais e matos. Em 1838, habitavam na propriedade 17 pessoas, incluindo um padre, o feitor e nove criados.
Não admira assim que, por 1843, Aires Guedes apresentasse uma avultada renda anual de 1 824$840 réis.
Voltaria a servir o Estado na década de 1860, servindo dez anos consecutivos como governador civil, percorrendo os distritos de Portugal Continental de norte a sul. Começou em Beja (26.4.1860 a 18.7.1861), de onde passou para Castelo Branco (18.7.1861 a 15.5.1865), continuando a rumar a norte para servir em Aveiro (15.8.1865 a 26.9.1865), subindo depois a Bragança (26.9.1865 a 8.5.1866), lugar de que tomou posse apenas a 28 de outubro do mesmo ano. Coutinho Garrido foi, ao tempo em que exercia as funções de governador civil de Bragança, acusado de entregar o governo do distrito aos Pessanhas. Talvez por essa razão, por decreto de 8 de maio de 1866, publicado no Diário de Lisboa de 23 de junho seguinte, foi nomeado para Faro, por troca direta com o conselheiro Luís Teixeira de Sampaio.
Por decreto de 16 de janeiro de 1868, passou de Faro a Portalegre, onde se demorou até 31 de agosto seguinte, sendo então nomeado para o distrito da Guarda.
A sua carreira na magistratura administrativa terminaria em Castelo Branco, onde regressou em junho de 1869, sendo exonerado a 17 de dezembro desse mesmo ano.
Faleceu cinco anos depois, a 23 de novembro de 1874, em Lisboa.

Relatório apresentado por Aires Coutinho Garrido ao comandanteda 5.ª Divisão Militar (22.12.1865)

Devolvendo a V. Exa. os cinco documentos que acompanharam o seu ofício n.º 89, de 20 do corrente, e a que prestei a devida atenção, vou explicar a V. Exa. o que com verdade se passa.
O modo de relatar os factos influi muitas vezes consideravelmente na sua interpretação; vou simplesmente retificá-los para declinar a responsabilidade que não me pertence, e de modo nenhum para irrogar censuras.
A vila de Freixo de Espada à Cinta, sendo uma terra de fronteira, decrépita e sem comunicações, é evidente que não pode oferecer grandes comodidades aos adventícios, e quase só o estritamente necessário para seus habitantes, mas também é certo que estes, dotados da não vulgar afabilidade que em geral distingue os deste distrito, voluntariamente compensam aos seus hóspedes, com os maiores ou menores meios de que disponham, algumas faltas que a autoridade pública não possa prevenir de pronto, e mesmo sem o andar de muito tempo.
A vila de Freixo não tem nem pode improvisar quartéis magníficos para um destacamento e com especialidade para as praças de pret, por serem em maior número; estou todavia persuadido de que esses quartéis, se não são bons, são pelos menos sofríveis, atentas as diligências empregadas pela Câmara Municipal para lhes proporcionar os melhores que possa.
Não direi outro tanto dos alojamentos dos Srs. oficiais – eles habitam nas casas dos mais abastados cidadãos da terra, recebendo diariamente não equívocas demonstrações do melhor acolhimento, sem que, por isso, os deva muito afetar à carestia e raridade dos géneros alimentícios; dificuldades com que aliás teriam de lutar, pois com minhas atribuições não vejo meio de demovê-las.
Quanto à representação do Sr. Comandante de Caçadores sobre a incapacidade do local destinado a receber a força de polícia mensal na feira da Torre de Dona Chama, é fundada como expendi no ofício dirigido a V. Exa. em 18 do corrente, mas também é certo que por mim se haviam tomado as oportunas providências, como V. Exa. se servirá ver da inclusa cópia do meu ofício dirigido à Câmara de Mirandela no antecedente dia 14, e nem creio que outras se pudessem adotar para a obtenção de um satisfatório resultado. Garrido.

Fonte: ADB, Governo Civil de Bragança, Correspondência Expedida.

Fontes e Bibliografia
Arquivo Distrital de Bragança, documentos vários.
Arquivo da Universidade de Coimbra, Governo Civil, Cadernos eleitorais: Penela, 1843.
Arquivo da Universidade de Coimbra, processo de matrícula de Aires Guedes Coutinho Garrido.
Diccionario Aristocratico contendo os alvarás dos foros de fidalgos da Casa Real, tomo primeiro. Lisboa: Imprensa Nacional.
Gazeta de Lisboa, 29.4.1833.
ALVES, Francisco Manuel. 2000. Memórias arqueológico-históricas do distrito de Bragança, vol. VII. Bragança:
Câmara Municipal de Bragança / Instituto Português de Museus.
SOUSA, Fernando de. GONÇALVES, Silva. 2002. Os Governadores Civis de Vila Real. Vila Real: Governo Civil do Distrito de Vila Real.
FONTE, Barroso da. 1998. Dicionário dos mais ilustres Transmontanos e Alto-Durienses, vol. I. Guimarães:
Editora Cidade Berço.
Geneall – Portal de Genealogia (disponível em geneall.net).

Publicação da C.M. Bragança

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