domingo, 9 de março de 2025

… quase poema… ou das longas partidas

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Os sinos tocaram a finados. Assustamo-nos sempre que se ouve o som lúgubre no campanário da pequena igreja. A aldeia fica de luto. Não é só mais um vizinho que foi descansar depois duma longa e honrada caminhada… é toda a aldeia que paulatinamente está a morrer…
… cada recanto do povoado guarda memórias… a chegada da horta… o carro carregado de feno… o balir do rebanho…  os filhos brincando nas eiras… 
…da minha varanda já não vejo os meus vizinhos…  um sol poente, lá para os lados da Senhora da Serra, anuncia a vida noutros mundos, noutras paragens...
… estou de luto… de luto pesado … pelos meus vizinhos que durante tantos anos lavraram a terra… colheram os frutos… criaram os filhos… e a aldeia animava-se…
… morrem-me os vizinhos…  guardo este silêncio que grita….
… ficam os freixos altaneiros… fica o ribeiro… ficam as hortas… ficam as memórias que carregamos ao colo… e fica esta tristeza imensa  em  forma de pranto que se ouve no descampado transmontano…
… acendo a candeia de azeite… minha Senhora da boa morte recebe amorosamente os teus filhos…
… esta é a minha prece!


Fernando Calado
nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

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