sexta-feira, 7 de março de 2025

Sobre o ''DIABO'' e a ''MORTE'' de Vinhais e de Bragança

 
A  referência mais antiga acerca dos mascarados que, na quarta-feira de Cinzas, e que ainda hoje percorrem as ruas de Vinhais e  Bragança, uns representando o Diabo, outros a Morte, é feita por Adolfo Coelho (pseudónimo Miguel Torga) em 1877, na revista "A Renascença".
Sabemos que em Bragança o vestuário era cedido ou alugado, pela Ordem III. Em Vinhais esta situação não está confirmada. Na década de 40/50/60, a “Morte” envergava um fato de macaco, ou mesmo uma “velha farda de cotim, tintos de preto e com os principais ossos do esqueleto” pintados de branco, empunha uma "gadanha, ou foice roçadoira", com a qual ameaçava toda a gente e  obrigava a beijá-la. Em Vinhais a indumentaria era muito semelhante.
Quanto ao "Diabo'', este vestia um casaco e calças, de flanela ou qualquer outro pano vermelho, pequeno gorro da mesma cor, na cabeça, e “brandia um pau, ou um látego”.
Entre as figuras que compunham a procissão das Cinzas, tinha lugar a figura  da “Morte”, mas não a do “Diabo”, a “Morte” simbolizava o salutar aviso “ memento homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris” (lembra-te, homem, de que és pó e em pó te hás de tornar [palavras que Deus dirigiu a Adão após o pecado original, e que o sacerdote pronuncia no momento da imposição das cinzas].
De salientar que a presença da “ Morte”, pretende lembrar que a quadra da Quaresma, que começa na quarta-feira de Cinzas, deve ser consagrada a cuidar da vida futura, e que a morte é certa para todos.
No artigo trigésimo sexto dos referidos estatutos da Ordem III, no parágrafo quarto o mesmo refere que : “É expressamente proibida a divagação pelas ruas da figura que as procissões de cinza costuma representar a morte devendo sair e recolher com a procissão."
Contudo não deixa de ser  curioso  que nestes estatutos,  não exista a menor referência ao "Diabo", não já como figurando na procissão das Cinzas, mas como mascarado irreverente e carnavalesco, impróprio para se exibir em plena Quaresma.
 Em Vinhais, várias pessoas vestiam de morte, ou de diabo e  percorriam as ruas da vila na quarta-feira de Cinzas, tudo levando a crer que estes mascarados e os de Bragança tenham origem comum.
Em nenhum dos documentos (Estatutos da Ordem III de Vinhais e Bragança) o "Diabo” se encontra "entre as figuras" que se  incorporava na procissão das Cinzas, sempre com o  intuito aceitável de recordar aos mais pecadores as penas do Inferno. Mas se nas fontes não se encontra esta referência,  como é que  se explica, então, a sua exibição simultânea com a "Morte"?

Fica a questão, para um salutar diálogo.
Texto : Doutora Helena Barros Pires

Fonte: Estatutos da Ordem III de Vinhais e Bragança; Benjamim Pereira (in "Máscaras Portuguesas"); "Estrelóquios"  publicados pelo padre Firmino Martins; Adolfo Coelho, 1877. Revista "A Renascença".

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