quarta-feira, 21 de maio de 2025

SOBRE GAZA

Por: Ernesto Rodrigues
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


 Almocei há pouco. 
Dedico a tarde ao 
New York Times, que reporta
cerco, destruição de Gaza 
 – continuada –,
pela tropa 
do lobo mau.
.
Sinto-me angustiado. 
Respiro mal. 
É fácil matar à fome, à sede,
criança desesperada
– sem água potável, 
nem direito à escolha.
Estamos de que lado?
.
Sofre a culpa que lhe não cabe;
sem freio, um exército bestial
bombardeia,
com a graça do Altíssimo, indiferente,
deslocados, doentes, aos milhares,
como se justiça fosse crueldade,
que não, meus senhores, não se apaga.
.
É domingo.
Dia da Mãe, neste Ocidente. 
Pobre Ocidente!
Miserável Ocidente! 
Chamem-me, de bom grado, 
anti-semita.
Estou-me nas tintas.
.
Seja anti-semita quem
deseja contribuir, levar
apoio médico, 
que sujeitos de merda
não deixam entregar. 
(– Que desperdício, hem?!,
se já os vamos massacrar.) 
.
A consciência de poucos
não é suficiente para
dar a volta ao genocida. 
Um dia,
faremos o paralelo entre
Hitler
e sacanas que não o sofreram,
.
mas vão matando,
com tempo e conivência,
até aos seis milhões
de judeus assassinados, 
mais um, menos um
(embora um faça a diferença,
naturalmente).
.
Que grandeza de nação
assente na força,
que tão 
cobardemente chacina
criança indefesa!
Não há nada que fazer se possa? 
Que tristeza!
.
Horas em fila para
a única refeição do dia,
braços em desespero com 
que aliviar a dor de estômago.  
Um lençol contra 
peito de mãe
vestida de negro, 
.
ou só um corpo 
dela nascido, 
morto, nu, 
sem história para mim, 
que de longe observo,
e lhe dedico, enfim, 
lágrimas a sério.
.
Engulo mal, também,
este desconcerto
de governos em união
não dizerem basta,
serem serventuários
de interesses obscuros.
Tristes governos.
.
Aqui estou,
suspenso de um voto,
que não move montanhas, nem
em dia do Senhor.
Tem cada um o seu,
julga-se Israel
o povo eleito.
.
A eleição, sem ser de agora,
é a de Estado que mata por i fora,
no pretexto de visar
quem esta acção justificaria. 
Se assim é, que culpa tem
menina brandindo panela vazia, 
que nada sabe de geopolítica?
.
É guerra de ódio, e não 
há ódio que valha no juízo final.
Nada tem de glorioso
aniquilar inocentes. 
Há líderes tão abjectos,
que envergonham a abjecção.
Crescem na indignidade.
.
Vou ler outras notícias, 
sem me distrair
do essencial: 
Israel é um perigo
para si mesmo, para nós. 
Entrou no clube triste
dos impérios do mal.

4 de Maio de 2025


Ernesto Rodrigues
(Torre de Dona Chama, 1956) é escritor e professor universitário.

Sem comentários:

Enviar um comentário