quarta-feira, 4 de junho de 2025

OS FIDALGOS - JUNQUEIRA DA VILARIÇA e JUNQUEIRA DE ALGOSO

JUNQUEIRA DA VILARIÇA

1º D. MARIA DE BARROS PEREIRA DO LAGO, filha do morgado da Junqueira, concelho de Moncorvo, casou com Manuel Maria Pinto de Magalhães e residiu na Adeganha, concelho de Moncorvo.
2º D. ELISA CLARA PINTO DE MAGALHÃES, irmã da precedente, casou em Freixo de Espada à Cinta, onde reside, com um membro da família do grande poeta Guerra Junqueiro.
3º D. JOSEFA ERNESTINA PINTO DE MAGALHÃES, irmã da antecedente.
Nasceu no Porto, freguesia de Massarelos, pelos anos de 1863, mas seus pais são oriundos da Junqueira.
Casou em 1884 com Francisco António Fernandes Quintanilha, natural de Quintanilha, concelho de Bragança, onde foi funcionário do Governo Civil.
Descendência:
4º D. REGINA DA GLÓRIA PINTO DE MAGALHÃES, doutora em Direito pela Universidade de Coimbra. Exerce a advocacia em Lisboa, onde reside, casada com o doutor Vicente Ribeiro de Sousa Leite e Vasconcelos.
5º D. JÚLIA GENTIL PINTO DE MAGALHÃES, diplomada com o curso de farmácia, viúva do segundo Visconde de Nossa Senhora da Ribeira, doutor..., que faleceu na Figueira da Foz pelos anos de 1918.
6º D. MARIA ADELAIDE PINTO DE MAGALHÃES, solteira, diplomada com o curso de agronomia.
Estas três senhoras, oriundas de Quintanilha por parte de seu pai, nasceram acidentalmente em Bragança, onde ele era funcionário do Governo Civil.
Descendem, pelo lado materno, do primeiro circum-navegador Fernão de Magalhães, a quem aludiremos em Vila Flor, e singularizam-se por serem as primeiras que em Portugal obtiveram formaturas em direito e agronomia.

JUNQUEIRA DE ALGOSO

Tombo dos bens do morgadio da Junqueira, concelho do Vimioso, instituído por Bento Martins, sua mulher D. Catarina de Morais e sua irmã D. Bárbara Martins.
É um códice manuscrito, contendo 89 fólios, paginados de frente, feito por autoridade judicial em 1734, encadernado, existente na Junqueira em poder dos descendentes do morgadio. Na capa, a letras douradas, diz:
Tombo de Algoso, 1743
A demarcação dos bens foi feita pelo doutor João Gonçalves Pereira, juiz de fora da vila de Algoso.
As propriedades estavam situadas nos lugares da Junqueira, Matela, Avinhó, São Pedro da Silva e Algoso.
Os instituidores, por não terem filhos, fundaram dois morgadios por escritura de 27 de Maio de 1732: um com os bens de Algoso e quinta de Santo Adrião, na freguesia de S. Pedro da Silva, e outro com os da Junqueira, Matela e Avinhó.
Para primeiros administradores do morgadio chamaram seu sobrinho Manuel Martins e os filhos deste: Bento e D.Maria, naturais da Junqueira, ficando o Bento com os bens de Algoso e de S. Pedro da Silva e D.Maria com os outros. Caso os nomeados para suceder no morgadio falecessem sem deixar descendência, passava o morgadio para D. Catarina Martins, casada com Manuel Rodrigues, que residiam na vila de Penas Roias, e ainda para sua sobrinha D.Mariana Martins, de Morais, termo de Bragança.
Os administradores teriam obrigação de mandar dizer um certo número de missas e de alumiar uma lâmpada na igreja de Algoso.
Os bens constavam também de olivais.
A quinta de Santo Adrião, situada no termo na povoação de S. Pedro da Silva, fora comprada pelos intituidores em 1715 a Matias Morais Machado, solteiro, das Arcas, por 433.000 réis (só três partes da quinta, porque a outra parte foi vendida a D. Bárbara Martins (a tal da família?) e já fora tombada judicialmente em 1700 pelo doutor António de Paiva e Pona, juiz de fora de Algoso).
Em 1700, quando o doutor Paiva e Pona fez o Tombo, a quinta pertencia a D. Catarina de Morais, viúva de Francisco Pessanha, que residia nas Arcas.
Nesta quinta, demarcada pelo Tombo, ficava a capela de Santo Adrião pertencente aos habitantes de S. Pedro da Silva; tudo o mais era da quinta, a não ser o lameiro, pegado à capela, que pertencia à mesma.
A quinta de Santo Adrião tinha de medição, toda em volta, 3.816 varas, ou sejam 4.197 metros e 6 decímetros. Além da área da quinta, pertenciam-lhe outras propriedades fora dela.
1º JOÃO MANUEL DE SÁ MACHADO, que por carta régia de D. João VI, de 6 de Dezembro de 1811, foi nomeado, em atenção aos seus serviços e merecimentos, capitão-mor das ordenanças da vila de Algoso, cargo vago pela impossibilidade de Bento Manuel de Morais Pavão.
2º MANUEL CAETANO MARTINS, nomeado segundo ajudante das ordenanças de Penas Roias, pelo governador das armas da província de Trás-os-Montes, marechal de campo Francisco da Silveira Pinto da Fonseca em 23 de Janeiro de 1810.
3º JOÃO MANUEL DE SÁ MACHADO (1º, atrás citado), que residiu em Algoso e era natural de Vilar da Vilariça, concelho de Alfândega da Fé, de quarenta e nove anos, celebrou em 1806 escritura de casamento com D. Maria Antónia Benedita de Morais Pavão, solteira, de vinte e dois anos, filha de Bento Manuel de Morais Pavão, da Junqueira, capitão-mor de Algoso, sobrinha de António Manuel Pereira Pinto de Azevedo Lemos, de Vilarelhos, concelho de Alfândega da Fé. Alexandre José de Morais Antas e Silva, presbítero, e suas irmãs D. Angélica Maria das Neves e D. Bernardina Maria de Jesus, tios da nubente, fizeram-lhe, na mesma data, doação de bens para o casamento. Pela respectiva escritura se vê que o pai da nubente era administrador de bens de morgadio(276).
4º BENTO MANUEL DE SÁ MACHADO, o Morgadinho da Junqueira, como vulgarmente era chamado, solteiro, de vinte e seis anos, administrador do morgadio da Junqueira, foi assassinado às oito horas da noite do dia 9 de Janeiro de 1870 no sítio chamado das Favas, limite da mesma povoação, pelo Faz-Tudo (alcunha), natural de Vale de Pena, concelho do Vimioso, em razão de ter feito ir à praça e comprado um baldio da povoação da Junqueira e de matar a tiro as galinhas e porcos que entravam nele e nos mais que possuía. O Faz-Tudo, como sucede muitas vezes, concentrou em si as iras populares e... a musa popular aludindo ao caso cantava:

«Na povoação da Junqueira
Ha um brioso morgado;
De família muito nobre,
Dos seus muito estimado.

Um dia foi a Algoso,
Sua tia visitar,
E três ou quatro cobardes
Lembraram-se de o matar.

Adeus, ó minha tia D. Augusta
Que me vou p’ra Junqueira;
Buscar os fatos novos
P’ra manhã ir à feira.
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(276) Museu Regional de Bragança, Cartório Administrativo, livro 167, fol. 99, e livro 169, fol. 16, onde se encontram as respectivas escrituras. Ver o volume IV, p. 348, destas Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança.
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Onde vais, ó meu sobrinho,
Que andas tão amiaçado;
Na vila do Vimioso,
Todos sabem que és morgado.

Foi o cavalo p’ra casa
Todo insanguentado,
Foi dar a noticia,
Que mataram o morgado.

Na ribeira das Favas
Já ha giestas floridas;
Mataram o morgadinho
Capitão das raparigas.

O morgado da Junqueira
Queria ser um figurão
Comprou as eiras do povo
Foi a sua perdição.

Ó Carlos não me deixes
Não me acabem de matar;
Leva-me p’ró pé da ponte
P’ra eu ir descansar.

Ele levou-o em seus braços
Bem junto do coração
Dá-me uma pinga d’agua
P’ra passar esta aflição.

O meu amo não o deixo
Bem pode estar descansado
Nem que passe aqui a noite
Hei-de sempre acompanhalo.

Ó Faz Tudo! Ó Faz Tudo,
Ó Faz Tudo, ó ladrão(277);
Mataste o morgadinho
Foi a tua perdição.
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(277) Manuel José Gonçalves, o Faz Tudo, de alcunha, era natural de Vale de Pena, concelho de Vimioso e ainda hoje lá vivem sobrinhos dele.
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Dia 9 de Janeiro
Dia de grande aflição,
Mataram o morgadinho
Com balas no coração.

Eu se matei o morgadinho
É porque tinha razão;
Comeu-me a minha galinha
E matou-me o meu leitão.

Hei-de rodear a Junqueira
Com um fio de ouro miúdo,
P’ra ver se caço nele
Aquele ladrão do Faz Tudo.

Ó Faz Tudo! Ó Faz Tudo,
Agora já não fazes nada,
Vais preso p’ra Relação
A sentença já ‘stá dada.

Do morgado da Junqueira
Saiu uma pomba branca;
Pedindo que lhe fizessem
Uma capelinha branca.

Adeus querida mãi e manas
Em geral peço perdão
A’manhã, por estas horas
O meu corpo estará no caixão.

Dali por um bocado
Só se ouviam muitos gritos
Era a mãi e as irmãs
Que choravam em altos gritos.

Seu irmão vinha diante
C’oa cabeça perdida,
Onde estão os assassinos
Que lhe quero tirar a vida.»

Bento Manuel de Sá Machado, o assassinado, era filho de Rodrigo Manuel de Sá, de Algoso, e de D. Maria Emília, de Chacim, que residiam na Junqueira (278).
5º BENTO MANUEL DE SÁ MACHADO, um dos vários filhos ilegítimos do Morgadinho assassinado e único que se habilitou como herdeiro, morreu num hospital do Porto a 11 de Dezembro de 1906, para onde fora curar-se do ferimento de um tiro de arma de fogo que se lhe disparara. Era casado e deixou filhos.
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(278) Sobre este morgadio da Junqueira, ver o volume IV, p. 348, destas Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança.
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MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA

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