domingo, 24 de agosto de 2025

“Bragança e a Riqueza da Simplicidade”


 Em Bragança, onde o tempo corre com outro compasso e o silêncio tem o som dos rios limpos e do vento entre os castanheiros, vive-se com uma qualidade que o mundo urbano há muito esqueceu. Aqui, o horizonte ainda não é cortado por betão, mas aberto por vales profundos, serras cobertas de verde e aldeias onde o ser humano ainda anda ao ritmo da terra.
É verdade que a industrialização nos passou ao lado. As grandes fábricas nunca chegaram em força, e muitos partiram em busca de oportunidades que aqui escasseavam. Mas o que à época foi visto como perda, hoje revela-se como podendo ser um trunfo. A ausência de poluição, a preservação da paisagem natural e a manutenção de tradições comunitárias fizeram do Nordeste Transmontano um dos últimos redutos de natureza quase intacta da Europa Ocidental.
Bragança, com o seu castelo milenar e ruas de pedra viva, é hoje mais do que uma cidade histórica, é um símbolo de resistência e de reinvenção. Os rios correm límpidos, exceção feita ao rio Fervença, os peixes saltam em liberdade, e as aldeias vizinhas guardam a autenticidade nos rostos e nos gestos de quem ali nasceu e de quem ali escolheu viver. A comida é requintada, o ar é puro e as noites ainda se iluminam com estrelas.
O desafio que se impõe às entidades locais, regionais e nacionais é evidente. Como transformar esta riqueza em atrativo para novos habitantes? Como fazer da paz, da natureza e da autenticidade um projeto de vida para jovens casais, nómadas digitais, artistas, empreendedores agrícolas ou famílias cansadas da pressão urbana?
A resposta talvez não esteja apenas em subsídios ou campanhas turísticas. Talvez esteja em criar condições para viver bem com pouco. Internet fiável, saúde de proximidade, educação de qualidade, apoios à habitação e incentivo à economia local. Cabe aos decisores ver no interior não um problema a resolver, mas uma oportunidade a valorizar.
Viver em Bragança ou numa aldeia próxima é uma escolha de futuro, um regresso à essência, à vida com tempo, com espaço e com sentido. O interior tem muito por onde renascer.

HM

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