sábado, 13 de setembro de 2025

"NÃO DISCUTAS COM BURROS"

Por: Paula Freire
(colaboradora do Memórias...e outras coisas...)


O burro disse ao tigre:

- A relva é azul.

O tigre contrapôs com o que claramente era um facto: 

- Não, a relva é verde.

A discussão aqueceu e subiu de tom pelo que, na tentativa de acalmar os ânimos, ambos decidiram procurar pelo parecer do leão, juiz da floresta.

Antes mesmo de chegarem junto do leão, começou o burro a zurrar de tal modo que acabou por despertar o interesse de alguns outros animais que, por ali perdidos e insatisfeitos, comiam a relva verde, enquanto assistiam à cena patética:

- Sua excelência, não é verdade que a relva é azul? - Insistia o burro.

Ao que o leão respondeu:

- Certamente que sim. A relva é azul.

Desta feita, mas ainda não contente, o burro continuou com os seus parcos argumentos, porque afinal de contas era burro e tanto o seu discernir, como o seu vocabulário, não deviam propriamente muito à inteligência:

- O tigre discorda de mim. Contradiz-me. Incomoda-me! Quero que ele se cale e seja castigado.

Até que o leão declarou:

- O tigre será punido com 5 anos de silêncio.

O burro deu um salto de alegria e dali se afastou seguido por uns quantos outros animais eufóricos, gritando em uníssono:

- A relva é azul, a relva é azul!...

O tigre, por seu lado, aceitou a punição, mas questionou o leão:

- Excelência, por que fui castigado se é um facto que a relva é verde?

O leão respondeu-lhe:

- Tens toda a razão, a relva é verde. Mas o teu castigo nada tem a ver com o facto da relva ser azul ou verde. A sentença proclamada foi porque me parece impossível que uma criatura inteligente como tu, perca tempo a discutir com um burro e, junto com ele, tenham decidido vir incomodar-me com uma questão tão absurda.

Moral da história:

Jamais percas o teu precioso tempo em discussões que não fazem sentido, principalmente com tolos que pouco se importam com a evidência das verdades, mas apenas com a vitória das suas crenças e ilusões.

São assim muitas gentes... Pessoas sem capacidade nem interesse para compreenderem a realidade, ainda que muitas provas lhes sejam apresentadas. Cegas pela altivez, pela vaidade, pelo ciúme e pela inveja, a única coisa que lhes alimenta o pequeno e fraco ego, é acreditarem ter razão acima de tudo e de todos, mesmo que nada mais façam do que nadar no seu mar de insanidades.

Quando e onde a ignorância faz arraial, a inteligência cala-se.

Nota: Adaptação do provérbio bíblico:
"Não respondas ao tolo segundo a sua estultícia; para que também te não faças semelhante a ele."


Paula Freire
- Natural de Lourenço Marques, Moçambique, reside atualmente em Vila Nova de Gaia, Portugal.
Com formação académica em Psicologia e especialização em Psicoterapia, dedicou vários anos do seu percurso profissional à formação de adultos, nas áreas do Desenvolvimento Pessoal e do Autoconhecimento, bem como à prática de clínica privada.
Filha de gentes e terras alentejanas por parte materna e com o coração em Trás-os-Montes pelo elo matrimonial, desde muito cedo desenvolveu o gosto pela leitura e pela escrita, onde se descobre nas vivências sugeridas pelos olhares daqueles com quem se cruza nos caminhos da vida, e onde se arrisca a descobrir mistérios escondidos e silenciosas confissões. Um manancial de emoções e sentimentos tão humanos, que lhe foram permitindo colaborar em meios de comunicação da imprensa local com publicações de textos, crónicas e poesias.
O desenho foi sempre outra das suas paixões, sendo autora das imagens de capa de duas obras lançadas pela Editora Imagem e Publicações em 2021, “Cultura Sem Fronteiras” (coletânea de literatura e artes) e “Nunca é Tarde” (poesia), e da obra solidária “Anima Verbi” (coletânea de prosa e poesia) editada pela Comendadoria Templária D. João IV de Vila Viçosa, em 2023. Prefaciadora dos romances “Amor Pecador”, de Tchiza (Mar Morto Editora, Angola, 2021), “As Lágrimas da Poesia”, de Tchiza (Katongonoxi HQ, Angola, 2023), “Amar Perdidamente”, de Mary Foles (Punto Rojo Libros, 2023) e das obras poéticas “Pedaços de Mim”, de Reis Silva (Editora Imagem e Publicações, 2021) e “Grito de Mulher”, de Maria Fernanda Moreira (Editora Imagem e Publicações, 2023). Autora dos livros de poesia: Lírio: Flor-de-Lis (Editora Imagem e Publicações, 2022) e As Dúvidas da Existência - na heteronímia de nós (Farol Lusitano Editora, 2024, em coautoria com Rui Fonseca).
Em setembro de 2022, a convite da Casa da Beira Alta, realizou, na cidade do Porto, uma exposição de fotografia sob o título: "Um Outono no Feminino: de Amor e de Ser Mulher".
Atualmente, é colaboradora regular do blogue "Memórias... e outras coisas..."- Bragança e da Revista Vicejar (Brasil).
Há alguns anos, descobriu-se no seu amor pela arte da fotografia onde, de forma autodidata, aprecia retratar, em particular, a beleza feminina e a dimensão artística dos elementos da natureza.

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