Se não formos capazes de nos unirmos, arriscamo-nos a perder aquilo que ainda nos mantém de pé
Nas nossas aldeias, tão cheias de história e tão pobres em gente, vive ainda um dos maiores desafios do interior. A divisão silenciosa que se instala entre vizinhos, famílias, grupos e gerações. É um fenómeno antigo, quase enraizado no próprio ritmo comunitário, mas que hoje pesa mais do que nunca. Porque já não somos muitos. Porque cada pessoa que parte é uma ausência que marca. Porque cada conflito pequeno tem, hoje, um impacto grande. Sei que não é fácil suportar o "entendido" que no alto da sua "sabedoria" ou ignorância, ganha e construída numa das circulares, ou nos arrabaldes, sabe-se lá, e na continuada insistência em mostrar a sua pseudo superioridade intelectual, de revista na mão, (é mesmo ironia) , tenta diminuir quem por cá esteve, está e irá permanecer. Mesmo assim, até com estes, se não formos capazes de construir união, arriscamo-nos a perder aquilo que ainda nos mantém de pé A COMUNIDADE.
É aqui que entra a importância vital das Juntas de Freguesia e das associações locais. Estas entidades, que por vezes alguns olham como meramente formais ou decorativas, são, na verdade, o coração organizador das nossas aldeias. São os pontos de encontro, as vozes que podem juntar o que tantas vezes a rotina, a inveja, o orgulho ou antigas desavenças teimam em separar. São as estruturas que podem transformar a diferença em diálogo, e o silêncio em cooperação.
Porque será que os que nunca "pegam" nas festas são os que mais criticam?
A Junta de Freguesia, quando funciona com proximidade, escuta e respeito, tem um papel essencial enquanto mediadora. Não deve ser apenas a casa dos papéis, das certidões ou das burocracias. Deve ser a casa de todos, o espaço onde se resolve, se conversa, se planeia e se sonha. Uma Junta ativa é aquela que chama as pessoas, que promove encontros, que cria pontes entre quem já não se fala ou entre quem nunca encontrou uma razão para colaborar. E, mais do que tudo, uma Junta com responsabilidade social e comunitária entende que o seu maior património não são os muros, nem o orçamento, nem as rotinas administrativas… SÃO AS PESSOAS. Cada uma delas. Até aquelas que se afastaram. Sobretudo essas.
As associações, por outro lado, têm a força que nasce do voluntariado e da paixão. São clubes, grupos culturais, coletividades, comissões de festas, associações de caçadores, de pais, de jovens, de idosos. São os espaços onde se constrói identidade e sentido de pertença. Onde cada um pode encontrar um papel, uma função, um motivo para estar presente. E, ao contrário do que por vezes se pensa, não existem para competir entre si ou para alimentar divisões velhas. Existem para celebrar o que ainda temos de melhor, a capacidade de nos juntarmos e fazermos acontecer.
Mas nenhuma Junta e nenhuma associação conseguirá cumprir este papel enquanto as aldeias continuarem a viver presas a pequenas invejas, rivalidades de décadas ou ressentimentos que, muitas vezes, já ninguém sabe explicar. Estas feridas invisíveis impedem o progresso, minam a confiança e impedem a comunidade de avançar. E avançar é urgente. Porque as aldeias estão a mudar, e se não mudarmos com elas, perdemo-las. Precisamos de vida, de projetos, de festas, de cultura, de diálogo e, sobretudo, de gente. E nada afasta mais rapidamente a pouca gente que ainda temos do que um ambiente tenso, dividido ou hostil.
Não somos tantos que nos possamos dar ao luxo de estar separados. Não somos muitos para desperdiçar energias em disputas que não constroem nada. Precisamos de todos. Precisamos de cada pessoa que ainda acredita na sua terra, que ainda cuida da sua rua, do seu quintal, da sua capela, das suas tradições. Precisamos do conhecimento dos mais velhos e da criatividade dos mais novos. Precisamos de quem organizou festas durante 40, ou 50 anos e de quem está disposto a aprender agora como se organiza uma. Precisamos de quem já fez muito e de quem ainda quer fazer. Porque a aldeia é de todos, e o futuro também.
... e os mais novos têm que saber que a experiência dos menos novos é um valor acrescentado a ter em atenção.
Este é um apelo. Que a Junta de Freguesia seja ponte, que as associações sejam braços, e que cada um de nós seja parte do caminho. Que possamos, finalmente, perceber que ninguém ganha quando o vizinho perde, que ninguém cresce quando a aldeia minga, e que nenhum orgulho é mais importante do que a sobrevivência da comunidade.
Numa aldeia onde não se pode comprar um litro de leite ou uma caixa de fósforos... e alguém investe e abre uma porta e ocoração... Não é admissivel que se prefira continuar a fazer compras na cidade e deixar definhar a porta aberta e desanimar quem acreditou e investiu. TENHAM VERGONHA!
Se trabalharmos juntos, se falarmos mais e desconfiarmos menos, se acolhermos em vez de afastar, se valorizarmos em vez de competir, podemos transformar as nossas aldeias em lugares de paz, de cooperação e de futuro. Porque ainda é possível. Ainda temos memória, ainda temos vontade, ainda temos raízes, e onde há raízes, pode sempre florescer um novo começo.
Unamos o que foi dividido. Curemos o que está magoado. Construamos, juntos, o que ainda pode ser grande.
É este o meu humílimo contributo para apelar ao Associativismo nas nossas Aldeias, tão necessário e urgente. Mas tem que ser AGORA, amanhã já vai ser TARDE!

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