segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Abril de 2010


Lembro-me como se tivesse sido ontem. Abril de 2010, quando comecei a construir o meu, que passou a ser de todos, Blogue. Eu, sem formação na matéria mas com o espírito criativo que sempre me norteou e por impulso (podia nunca ter acontecido), diante do ecrã, a explorar os detalhes, as cores, a letra, o formato… como quem ergue lentamente uma casa onde pretende guardar aquilo que é verdadeiramente seu. E, ao meu lado, passados uns dias e mesmo à distância, apareceu a Nêspera, a amiga que passou horas comigo e que chegou ao Blogue através do Cântico Negro do José Régio, olhando, comentando, afinando o que eu ia criando.

Eu ajustava o layout, experimentava um fundo novo, mudava a fonte, reposicionava um título. E ela, paciente e divertida, dizia: - “assim não… assim está quase… agora sim, está a ficar com a tua cara!” Havia ali uma dança silenciosa entre tentativa e erro, entre criação e revisão, entre o que eu queria dizer e a forma como queria que fosse visto.

Passámos horas nisto. Eu enviava a nova versão. Ela olhava. Comentava. Eu mudava outra vez. Ríamos. E, sem perceber, estávamos a construir muito mais do que um Blogue, estávamos a construir um pedaço de memória, um pedaço de vida.

Já passaram mais de quinze anos. O tempo levou muita coisa, mudou outras tantas, mas a verdade é que a minha luta continua. A luta por dizer o que sinto. Por escrever o que me atravessa. Por deixar um rasto fiel ao que sou. O Blogue foi apenas o início visível dessa caminhada, uma janela que abri para o mundo, com a ajuda generosa de uma amiga que acreditou, que ficou ali comigo, que me emprestou olhos quando os meus já estavam cansados.

Hoje, quando penso naqueles dias, percebo que foi ali que fortaleci duas coisas que já sabia e ficarão para sempre, que nada se constrói sozinho, e que tudo o que se constrói com verdade permanece.

E é por isso que sigo. Com o mesmo espírito. Com a mesma persistência. Com a mesma vontade de continuar a escrever a minha própria história, mesmo que, às vezes, tenha de voltar a ajustar o layout da vida.

HM

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