terça-feira, 11 de novembro de 2025

O magnífico Castelo de Algoso – Ou uma história reescrita, com Bragançãos pelo meio (Parte I)

Por: Rui Rendeiro Sousa
(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

(Após uma breve pausa, de regresso estão as incursões a «outras realidades». Para os interessados...)

O castelo «roqueiro» de Algoso é um dos locais mais fascinantes, misteriosos até, que ocorrem por «Terras de Bragança». Situa-se num sítio que assoberba os sentidos. Porém, não vim aqui para «vender» o magnífico Castelo de Algoso. Outros o fazem melhor do que eu. Aqui vim porque guarda muito da nossa essência… 

Quem fizer uma simples pesquisa sobre a referida fortificação, encontrará explicações baseadas na «cartilha dos reis», tão bem vendida pela equivalente «cartilha do Estado Novo». Um dia, nesta ânsia por entender o meu concelho, que sempre me foi vendido, por «cartilhas outras», como um «concelho sem história», apercebi-me, afinal, que os limites territoriais desse tal de meu concelho «sem história», eram constituídos, paradoxalmente, pelas «sobras» de mais de uma dezena de concelhos medievais. Um deles, o de Algoso! Apenas porque teve um enclave excêntrico no tal de meu concelho… 

E, se já sentia um estranho fascínio pelo Castelo de Algoso, o mesmo incrementou exponencialmente com essa constatação. Documento puxa documento, investigação puxa investigação, lá fui parar aos tais desprezados… Bragançãos! Tudo porque aquele que dizem como construtor do dito Castelo de Algoso era, afinal, sobrinho, ainda que por afinidade, de um… Braganção! De outra forma dito, era primo do famosíssimo Fernão Mendes de Bragança, «o Bravo». 

Entretanto, razões outras, aquele que na documentação vem sendo identificado como filho do pretenso construtor, por estas bandas assentou arraiais, transformando-se numa figura de relevo, de uma família de «bragançanos» que deixaria vasta e importantíssima prole. Todavia, cronologicamente, «não batia a bota com a perdigota»! Isto é, para esse tal pretenso filho o ser do construtor, este último teria de ter sido pai com 95 anos! Para lá disso, “dize que” o dito Castelo de Algoso foi construído quando o futuro D. Sancho I co-reinava com o seu pai, D. Afonso Henriques, após este ter sido ferido com gravidade no Cerco de Badajoz, em 1169. Ora, aqui surge a primeira «aldrabice»: o tal pretenso construtor parece ter morrido seis anos antes do dito Cerco de Badajoz... 

Ainda assim, contas feitas, o tal de pretenso construtor, teria morrido com cerca de 80 a 85 anos, o que, à época, não era a «terceira idade», mas sim a «sexta idade»… Conquanto terá nascido entre a conhecida data aproximada de casamento dos seus pais e a também conhecida data das respectivas mortes. Ou seja, o original Mendo, assim se chamava o pretenso construtor, não poderia ter construído um castelo após a sua morte… Como tal, terá sido outro Mendo a fazê-lo…

“Im antes’e” de prosseguir para o próximo capítulo, que tanta história temos, que não é possível escrevê-la "d'ua beze só", sinto-me no dever de partilhar com os interessados um aspecto importante para compreender certas realidades medievais. Particularmente uma que diz respeito aos nomes. Na actualidade, e tomando como exemplo o meu próprio, os apelidos que são dados aos “indêzes’e” correspondem, por sequência, aos respectivos materno e paterno. Ou seja, sou «Rendeiro» por parte da mãe, «Sousa» pelo pai. Mas na Idade Média não era assim…

Por norma, e apenas no que respeitava às famílias nobres ou com algum destaque, os “criançus’e” tomavam como primeiro nome o de um dos avós, seguido do patronímico e, por fim, do toponímico. E o que era o patronímico? Nada mais do que o nome próprio do pai que sofria uma transformação no plural. Tomando como exemplo D. Afonso Henriques… O nome próprio era o do avô Afonso VI. O apelido era a forma plural do pai, Henrique. Por isso se repetiam tanto os nomes na Idade Média. Como, num outro familiar exemplo, o do mais conhecido Braganção, Fernão Mendes «o Bravo», nome igual ao do seu avô, Fernão Mendes «o Velho». Mendes porque ambos foram filhos de um Mendo, ou Mem, como também surge grafado. Assim como um Rodrigues era filho de um Rodrigo, um Gonçalves de um Gonçalo, ou um Sanches de um Sancho…

Tudo isto para explicar que a homonímia era comum na Idade Média. Daí a confusão de nomes entre aquele que terá sido o efectivo construtor do Castelo de Algoso, que neto seria, afinal, da personagem à qual é, erradamente, atribuída a construção. Para isto não ficar muito longo, a restante história, com Bragançãos e figuras de destaque na História de Portugal pelo meio, já prosseguirá amanhã, para os que interesse tiverem na grandiosidade que guardam estas terras. “Num se fintum? Sperim p’ra bere! Inté ficum spritadus’e, pur’i”… 

(Foto: Montanhas do Norte)


Rui Rendeiro Sousa
– Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer. 
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas. 
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana. 
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros. 
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

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