A Imaculada Conceição consagrada como Padroeira de Portugal por um… «Braganção»!

Por: Rui Rendeiro Sousa
(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


 Incursões para os mais crentes, para os menos crentes ou para os que não crêem em coisa nenhuma… 

Há quase quatro séculos, a Imaculada Conceição foi consagrada como Padroeira e Rainha de Portugal. Aqui trazendo este dogma da Igreja, não apenas pelo dia feriado, mas porque essa consagração foi feita por uma figura que carregava «sangue Braganção». Tal como já por aqui o trouxe, há uma semana, D. João IV, tal como toda a posterior Dinastia de Bragança, carregava, por via inicialmente feminina, genes bragançanos. Vale o que vale, todavia tenho imenso orgulho nisso! Porque não serão todas as terras a poderem afirmar o mesmo…

Naturalmente, arriscar-me-ei a mais umas incursões de gente que confunde «Bragançãos» com «Bragançanos», que confunde «Bragançãos» com «Casa de Bragança», ou «Ducado de Bragança», ou «Dinastia de Bragança». Também correrei o risco de ver D. João IV tratado por «caçadorzinho», ou outras coisas provindas do destilar de sabe-se lá o quê… Porém, conscientemente corro o risco, isso não me inibindo de continuar a partilhar umas «coisecas» com os meus conterrâneos (e com não conterrâneos, pelos vistos). 

O distrito de Bragança possui uma longa história ligada ao culto da Imaculada Conceição. Embora, em termos da lista de «títulos de Nossa Senhora» por aqui invocados, apenas ocupe o quarto lugar. Contudo, não deixa, sob o título de Nossa Senhora da Conceição, de ser a padroeira de, pelo menos, duas paróquias no distrito, havendo o registo da existência de mais de duas dezenas de capelas a si dedicadas. Havendo, igualmente, o registo histórico de meia dezena de confrarias ou irmandades com a sua designação. 

Curiosamente, são muitas as igrejas que, não tendo a Imaculada Conceição como padroeira, por lá contêm uma invocação a Nossa Senhora da Conceição. Estranho sendo que, até não há muito tempo, os concelhos mais a sul, Carrazeda de Ansiães, Freixo de Espada à Cinta e Torre de Moncorvo, não obstante haver o registo de algumas capelas, não tinham, nas suas dezenas de igrejas, qualquer invocação à Imaculada Conceição. Curiosidades, apenas…

Não irei contar aqui a história do culto à Imaculada Conceição em Portugal. Já vem de muito longe… Nem que, há quase 550 anos, a sua celebração foi inscrita no calendário litúrgico. Nem que, há quase 380 anos, o monarca com sangue Braganção lhe consagrou Portugal. Nem que, há pouco mais de 170 anos a Imaculada Conceição foi definida como dogma, pela Igreja. 

Num distrito, tal como num país, de marcada devoção mariana, independentemente dos cultos religiosos que cada um terá o direito de advogar, é inevitável não trazer aqui um facto que (talvez) muitos não terão ainda pensado. Recentemente, trazia aqui um texto intitulado «A sublime «pobreza» do distrito de Bragança». Dentro dessa «sublime pobreza» inclui-se o facto de a sede dos Marianos da Imaculada Conceição, em Portugal, se situar… no distrito de Bragança! Num local paradisíaco, mágico, soberbo… 

Era só isto… 

Um excelente feriado para todos!


Rui Rendeiro Sousa
– Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer. 
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas. 
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana. 
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros. 
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

CAMINHADA INTERPRETADA REVELA RIQUEZA HISTÓRICA DAS MINAS DE MURÇÓS

 O Geopark Terras de Cavaleiros, em colaboração com a Associação Viver Mais Murçós, promoveu ontem, 7 de dezembro, uma caminhada interpretada pelas históricas Minas de Murçós. A iniciativa levou dezenas de participantes a explorar o legado mineiro da aldeia, num percurso que uniu natureza, conhecimento e memória coletiva.


Ao longo da tarde, os participantes tiveram oportunidade de conhecer de perto a relevância histórica da exploração mineira na região, assim como o seu impacto cultural e patrimonial. Guiados por técnicos do Geopark, o grupo percorreu trilhos que revelam vestígios de um passado marcado pela atividade extrativa, ainda hoje presente na identidade local.

A organização expressou agradecimento a todos os que se associaram à iniciativa, destacando a importância de promover atividades que valorizem e preservem o património natural e histórico do território. A caminhada encerrou com a promessa de novas ações que continuem a aproximar a comunidade da sua história e dos recursos únicos que caracterizam Murçós.

Jornalista: Vitória Botelho
Foto: DR

António Joaquim Ferreira Margarido - Os Governadores Civis do Distrito de Bragança (1835-2011)

 14.dezembro.1893 – 13.dezembro.1894
TORRE DE MONCORVO, 27.2.1842 – TORRE DE MONCORVO, 26.6.1922

A amizade entre Ferreira Margarido e Lopes Navarro (1901)

O Dr. Ferreira Margarido é este ano o candidato por Moncorvo.
Político de grande valor, já por três vezes governador civil do distrito, alia à sua enorme influência um caráter diamantino.
Amicíssimo do Dr. Lopes Navarro, outro trasmontano autêntico, outro caráter da mais pura água, outro político prestigiosíssimo, é devido à influência dos dois que o Partido Regenerador de Moncorvo está unido e forte, disciplinado e firme, uma barreira inexpugnável, até mesmo para a metralha do dinheiro progressista.
É de acordo com este último que o Dr. Margarido é eleito, porque o Dr. Lopes Navarro, num impulso de abnegação que o define, não teve dúvida, para que o seu colaborador e amigo não falte no Parlamento, não teve dúvida, dizíamos, em propor-se por outro distrito, pelo de Castelo Branco, cedendo-lhe com absoluto desprendimento um círculo que tantas vezes o tem elegido e ao qual sabemos que tem entranhado amor.
É que Lopes Navarro bem sabe que Moncorvo só se não ressentirá da sua falta, indo, como vai, a substituí-lo o Dr. Ferreira Margarido, o outro grande amigo da sua terra, o outro grande homem de bem.

Fonte: Gazeta de Bragança, Ano X (490), 1901, p. 1.

Um perfil de Ferreira Margarido (1902)

A propósito do perfil deste nosso querido e venerando amigo, traçado no último número do nosso estimável camarada O Transmontano, que, em grande parte, abaixo segue, ocorre-nos reproduzir alguns períodos de um artigo escrito pelo nosso prezado colega, Abílio Soeiro, e publicado na Gazeta de 9 de julho de 1895.
São passados sete anos e todos os nossos correligionários sabem o que eles representam na vida política, repleta de lutas terríveis, sempre gloriosas, daquele respeitável e respeitado chefe político, dos mais justamente queridos e venerados no distrito de Bragança.
Tem oportunidade a transcrição; é oportuníssimo reproduzir o que há sete anos dissemos.
Tem, pelo menos, a significação da nossa homenagem ao grande e prestigioso vulto do Partido Regenerador, que lhe deve incomparáveis serviços.
Do Transmontano:
“Não é uma biografia que pretendemos fazer do homem que, de há mais de vinte anos a esta parte, tem ganho para a sua pessoa particular e para o seu vulto político, honras ambicionadas por muitos, mas usufruídas tão-somente por homens de verdadeiro mérito, do maior prestígio, de inconcussa honradez, de ilimitada liberalidade, como é o atual deputado, o antigo governador civil, o distinto médico e… pai dos pobres, Dr. António Joaquim Ferreira Margarido.
Perdoe-nos Sua Exa. tão rude ataque à sua modéstia, mas, e apesar de não devermos a Sua Exa. senão muitíssima amizade, ficar-nos-ia um grande pesar de alma, não emitindo a expressão do nosso verdadeiro sentir, do sentir de todos os que têm a honra de o conhecer.
O nosso semanário enaltece-se publicando hoje o retrato de tão preclaro como prestante cidadão, para quem os turbilhões da política têm atrativos mágicos ainda que seus revérberos, bem das vezes, lhe têm posto à prova o seu caráter honradíssimo e de rija têmpera.
Lutador infatigável, venceu sempre, sabendo perdoar aos vencidos, fazendo, por esta sublime qualidade e por todas as virtudes que lhe exortam o coração, dos inimigos mais irreconciliáveis devotados amigos.
Desde 1880, época em que António Caetano de Oliveira abandonou a vida ativa da política regeneradora em Moncorvo, que o Dr. Ferreira Margarido se colocou à frente do partido, não tendo abandonado esse posto nem um momento, sempre vitorioso, sempre glorioso!
Logo que foi empossado na chefia, deu uma luta de eleição camarária, levando de vencido o adversário que nesses tempos possuía aqui redutos aliás respeitáveis.
Passado o triénio, já o Partido Progressista estava tão enfraquecido que não quis lutar, pedindo minoria que nesse tempo havia para composição das câmaras. Finalmente, o tino político do Dr. Margarido, a sua imensa popularidade, os benefícios que às mãos cheias prodigalizava a todos, criaram-lhe uma tão grande influência que ficou este concelho, e propriamente o antigo círculo eleitoral, inteiramente regenerador. É tal a sua força, que bem o provou nas últimas lutas. Em [18]99, estando o Partido Progressista no poder, porfiou-se essa gigantesca luta de sete meses, de todos bem conhecida. Essa luta para eleição de deputados foi uma das maiores glórias que o Partido Regenerador tem alcançado, merecendo os encómios e louvores não só dos chefes supremos do grande partido, que dia a dia manifestavam a sua admiração por tanto denodo, como também por todo o País, que tinha os olhos fitos na gigante luta então travada!
O candidato governamental, Dr. Júlio Araújo, depois de gastar rios de dinheiro, fazendo anular a eleição três vezes, foi, apesar de tudo, vencido, triunfando o candidato da oposição regeneradora, Dr. Lopes Navarro, indicado e apoiado por Dr. António Joaquim Ferreira Margarido.
Por essa ocasião soubemos de enternecedoras dedicações:
O Dr. Margarido, numa das aldeias do concelho, dirigiu-se a um eleitor pobre que à porta da sua humilde habitação o recebeu afavelmente, recusando-lhe todavia o voto pelo motivo de lho terem comprado por vinte mil réis. ‘Não te levo isso a mal’, disse Dr. Margarido; ‘és pobre e isso te desculpa. Não deixarei de ser teu amigo com dantes, adeus’. No dia imediato pela manhã, a primeira pessoa que em Moncorvo batia à sua porta era o eleitor a que nos vimos referindo: ‘Sr. Dr.: aqueles vinte mil réis faziam-me cá um remédio, faziam… mas não dormi bem. Já os fui entregar e conte comigo e com o meu filho. Adeus, Sr. Dr.’
Este simples caso, na sua singeleza, diz bem mais do que quantas folhas de papel nós pudéssemos encher como admiração pelo Dr. António Joaquim Ferreira Margarido.
Quando governador civil do distrito, encontrou o Partido Regenerador de Bragança esfacelado e houve-se por tal forma, que não só o reorganizou, como também o fortaleceu, agregando-lhe valiosos elementos. A sua acertada administração granjeou-lhe toda a confiança e prestígio do Governo, sendo-lhe oferecida a carta de Conselho, que não aceitou por não se coadunar o seu nobre caráter com honrarias que devam envaidecer.
Patriota como ninguém, tem sacrificado a sua vida e a sua fortuna pela sua terra e por todos os que o ocupam, preterindo os seus aos interesses alheios. Médico de partido desde que se formou, exercendo ativamente a clínica, nunca ninguém lhe perguntou o preço dos seus serviços, antes pelo contrário, é ele que, sem reclamos e antes com maior recato, deixa como que esquecido, na mansarda onde visita o pobre enfermo, o seu óbolo de caridade. É por isso que o Dr. Margarido se chama o pai dos pobres!
Por nós e pela terra transmontana nos orgulhamos de possuir uma individualidade tão insigne como é o Dr. Ferreira Margarido, a quem saudamos cordial e entusiasticamente!”

Fonte: Distrito de Bragança – Semanário político, literário e noticioso, n.º 35, 1.º ano, 7.11.1902.

Publicação da C.M. Bragança

Sobre as povoações documentalmente mais antigas do distrito de Bragança

Por: Rui Rendeiro Sousa
(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


 Há algumas povoações do distrito mencionadas, especificamente como tal, desde o século XI, as mais antigas das quais com cerca de 970 anos. O século seguinte, porém, traria um incremento na documentação relativa a povoações do actual distrito, muito à custa da passagem da região, após quase dois séculos dependente da Diocese de Astorga, para a Diocese de Braga. 

Duas delas cumpriram, hoje, a bonita idade de 870 anos, o que as transforma numas das dez mais antigas povoações documentadas, enquanto tal, no actual distrito de Bragança. Por acaso, situam-se no meu concelho, aqui as trazendo porque, apesar de anexas, uma da freguesia de Macedo, a outra da freguesia da Amendoeira, ambas têm uma História fascinante. História essa que, naturalmente, não irei aqui trazer. 

Mas aqui fica, publicamente, um «Feliz Aniversário» (documental) para as dignas e nobres TRAVANCA e PINHOVELO, pelos seus magníficos 870 anos (de que ninguém, infelizmente, quis saber). “Rais’parta” a nossa «coltura»...


Rui Rendeiro Sousa
– Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer. 
Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas. 
Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana. 
É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros. 
E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

domingo, 7 de dezembro de 2025

A tinta VERMELHA...


 Sou aposentado, mas nunca deixei de ser um trabalhador. Vivi toda uma vida profissional marcada pelo rigor, pela honestidade e por uma ética de dedicação que sempre foi reconhecida pela hierarquia. As classificações de serviço ao longo das décadas e, mais recentemente, o próprio SIADAP, são testemunhos objetivos desse percurso. Nunca pedi favores, nunca procurei atalhos, trabalhei, cumpri, servi. E é precisamente por isso que me sinto profundamente indignado quando vejo um primeiro-ministro surgir na televisão a tentar demover os trabalhadores de defenderem com unhas e dentes aquilo que lhes pertence por direito.

Afinal, de onde vem essa autoridade moral para pedir resignação, silêncio e passividade? Se é preciso cortar, que se comece onde o desperdício e a má gestão proliferam, não nos trabalhadores, e muito menos nos reformados que já deram tudo o que tinham para dar ao país. Que se olhe para os verdadeiros responsáveis pelos desvios, pelos desperdícios, pelos privilégios obscuros que todos conhecemos mas que raramente alguém tem coragem de enfrentar. E quando um governante fala em “esforços necessários”, muitos de nós não podem deixar de pensar, e é apenas uma opinião, que talvez deveria começar por olhar ao espelho antes de apontar o dedo aos que nada têm para além do fruto do seu próprio trabalho. 

E nós, os pensionistas? Aqueles que descontaram uma vida inteira, que sustentaram a máquina do Estado durante décadas, que passaram por crises, por mudanças políticas, por planos de austeridade, sempre acreditando que no fim haveria pelo menos dignidade? Temos agora de ouvir discursos que tentam fazer-nos acreditar que devemos aceitar o empobrecimento como inevitável? Como se o sacrifício fosse sempre para os mesmos, como se a austeridade tivesse endereço fixo e recaísse eternamente sobre quem já carregou o país às costas?

A minha história de luta não começou ontem. Aderi à primeira greve geral depois de abril, fui o único no meu local de trabalho, o “tio” Manel não se esqueceu de marcar a minha falta a tinta VERMELHA, e nunca falhei a nenhuma desde então. Não por rebeldia gratuita, mas por consciência. Porque sempre acreditei que a reivindicação de quem trabalha é justa por natureza. Quem produz, quem gera riqueza, quem sustenta os serviços, quem mantém o país de pé, tem o direito e o dever de defender aquilo que lhe pertence. Nenhum governo, por mais autoridade que ostente, tem o direito de pedir que um trabalhador abdique da sua própria dignidade.

E não venham dizer que pedir direitos é “exagero” ou “intransigência”. Exagero é trabalhar uma vida inteira e ouvir, no fim, que ainda não chega. Intransigência é exigir sacrifícios sempre aos mesmos, enquanto outros permanecem intocados. O que eu defendo é simples. Justiça, respeito e coerência. Quem trabalhou merece viver com dignidade. Quem governou mal deve ser responsabilizado. Quem tenta calar os trabalhadores deve ser confrontado.

Não admito ser tratado como peso morto por quem nunca carregou o que eu carreguei. Não admito que tentem silenciar a luta de quem faz, e fez, o país funcionar. E, acima de tudo, não admito que me digam para baixar a cabeça quando tudo aquilo que tenho foi conquistado com trabalho honesto. Reivindicar é um direito. Lutar é uma necessidade. E desistir nunca foi opção.

Também me indigna que os que nunca lutaram, para obedecerem ao "chefe" ou para não perderem uns tostões, venham a usufruir, se for o caso, das conquistas dos que nunca desistiram de lutar!

Se estivesse no ativo aderia à GREVE GERAL!

A LUTA CONTINUA!

Ontem como hoje, e por mim, até à morte!

HM

Hoje relembro José Carlos Pereira Ary dos Santos.

 Nascido em Lisboa, a 7 de dezembro de 1937, com apenas 14 anos, a família publicou-lhe um primeiro livro, “Asas”, à sua revelia. Saiu de casa logo aos 16, sobrevivendo como vendedor de máquinas de pastilhas elásticas, paquete na Sociedade Nacional de Fósforos e escriturário no Casino Estoril. Em 1958, iniciou uma carreira de êxito nessa área, graças à criatividade que aplicava aos slogans.


Em 1954, alguns dos seus poemas foram selecionados para a Antologia do Prémio Almeida Garrett, ladeando com nomes consagrados da poesia portuguesa. Em 1963, publicou “A liturgia do sangue” e, no ano seguinte, “Tempo da lenda das amendoeiras”. Desde então, sempre publicando livros de poesia, entre os quais “As Portas que Abril Abriu”, de 1975. Em 1994, a sua “Obra Poética “foi editada, postumamente.

Enquanto declamador, gravou vários discos, tendo participado, com Natália Correia e Amália Rodrigues, no LP “Cantigas de Amigos” (1971).

Ativista e militante político, em 1969, integrou a campanha da Comissão Democrática Eleitoral e filiou-se no PCP. Nesse ano, concorreu, sob pseudónimo ao Festival da Canção, com o poema “Desfolhada”. Com música de Nuno Nazareth Fernandes e interpretação de Simone de Oliveira, a canção venceu. Voltaria a ganhar em 1971, com “Menina”, interpretado por Tonicha; em 1973, com “Tourada” e, em 1977, com “Portugal no Coração”, ambos interpretados por Fernando Tordo. Autor de mais de 600 poemas para canções, colaborou ainda com Alain Oulman, José Mário Branco, Paulo de Carvalho ou António Victorino de Almeida.

A sua ligação ao fado começa em 1967, com a interpretação de José Manuel Osório do poema “Desespero”. Viria a escrever especificamente para fadistas como Amália Rodrigues e Carlos do Carmo.

Os poemas do álbum “Um Homem na Cidade”, de 1977, são todos da sua autoria e consistem num marco da história do fado.

Viveu praticamente toda a sua vida no n.º 23 da Rua da Saudade, onde existe uma lápide evocativa do poeta, e deu nome a um largo no bairro de Alfama.

Texto: © Museu do Fado, DR

O que as gavetas guardam…

Por: Carlos Pires
(Colaborador do Memórias...e outras coisas...) 


Mário Soares faria hoje 101 anos. Ao seu lado estava uma mulher admirável, que tive o imenso prazer de entrevistar em 1986, memória profissional que neste momento de evocação de Mário Soares tenho o respeito de partilhar com os amigos. 

Foi a primeira entrevista concedida por Maria Barroso, Primeira Dama, na sua residência do Campo Grande, em Lisboa, publicada no semanário "Tempo", que então eu integrava. O que as gavetas guardam…


Carlos Pires
é natural de Macedo de Cavaleiros, tendo adoptado a pequena aldeia de Meles, onde crestou à  solta nas férias grandes, como o seu verdadeiro berço. Como jornalista, fez parte das Redações do "Tempo", "Portugal Hoje", " Primeira Página", "Liberal", "Semanário" e da revista de economia "Exame" (de que foi editor). Em Bragança, colaborou no semanário "Mensageiro de Bragança" (1970-72), tendo sido co-fundador do semanário "ÈNÍÉ - uma voz do Nordeste Português" (1975) e da publicação  "Domus", da Casa de Cultura da Juventude de Bragança (1977-78).
Foi assessor de imprensa de Maldonado Gonelha, ministro da Saúde (1983-85).
Entrou para o Infarmed em fins de 2000, depois de ter sido assessor de imprensa da ministra Elisa Ferreira, nos dois governos de António Guterres, primeiro no Ministério do Ambiente, depois no Planeamento (1995-2000).
No Infarmed criou o Gabinete de Imprensa, tendo sido porta-voz da instituição durante mais de uma dúzia de anos.
Alguns aspetos marcantes: a iniciativa da realização de um curso para jornalistas (2001), ministrado por peritos do Infarmed, em que os principais órgãos de informação estiveram representados, sobre o ciclo de vida do medicamento; a elaboração do jornal da instituição, "Infarmed Notícias", trimestral (de que é coordenador/editor/redator). A edição especial de Janeiro de 2018, com 120 testemunhos sobre o INFARMED na altura conturbada da ideia controversa da sua deslocalização para o Porto (depois editada em livro); e ainda a publicação de um livro, editado pela Âncora, "Redondilhando", que nasce no seio da instituição e cujo prefácio foi assinado por Ernesto José Rodrigues.

Sindicato dos Jornalistas diz que vão aumentar os desertos de notícias se a interrupção da distribuição de jornais em oito distritos for em frente

 A Direção do Sindicato dos Jornalistas (SJ) manifestou este sábado a sua “mais profunda preocupação” face à decisão da VASP de interromper a distribuição de jornais em diversos distritos de Portugal, nomeadamente no de Bragança. “A medida anunciada, que entrará em vigor já no início de 2026, terá um impacto imediato no acesso à informação de várias regiões, especificamente no interior raiano”, refere aquele sindicato num comunicado.


Esta decisão não afeta apenas o acesso à informação por parte da população, mas também compromete gravemente a estabilidade e os direitos dos jornalistas que trabalham no setor.

“A suspensão da distribuição afetará principalmente distritos do interior e zonas rurais do país, onde o acesso à imprensa escrita já é limitado. Entre as regiões mencionadas estão os distritos de Bragança, Beja, Castelo Branco, Évora, Guarda, Portalegre, Vila Real e Viseu. A decisão de interromper a distribuição nestas áreas criará uma situação em que muitos leitores ficarão sem acesso regular a jornais e outras publicações jornalísticas, agravando uma situação que já é desigual e deficitária quanto ao acesso à informação”, acrescenta o SJ.

O impacto da medida para muitas publicações “vai além da perda de uma importante fonte de receitas”, salientam, uma vez que interrupção da distribuição pode resultar “numa diminuição significativa do volume de trabalho disponível para os jornalistas destas áreas, o que diminuirá o interesse por estas zonas e promoverá o aumento das áreas afetadas pelos “desertos de notícias”.

Muitos jornalistas, em particular os que cobrem assuntos locais e regionais, dependem da circulação de jornais impressos para sustentar a sua atividade e garantir a continuidade das suas funções de forma independente.

A falta de distribuição afetará diretamente a qualidade do jornalismo realizado, uma vez que muitas redações em regiões mais afastadas já operam em condições de grande precariedade. Para os jornalistas, esta alteração representa um aumento da insegurança laboral, com a ameaça de despedimentos e a instabilidade de contratos, já que a diminuição de circulação afeta as receitas das empresas de media, prejudicando diretamente os salários e as condições de trabalho.

Além disso, a medida pode agravar a já frágil situação dos jornalistas freelancers, que dependem da distribuição regular para garantir contratos e trabalho contínuo. A precariedade do setor, já fortemente marcada pela falta de regulação e de condições mínimas de segurança e estabilidade, leva o SJ a ver neste corte mais uma ameaça à sobrevivência das carreiras de muitos profissionais.

O direito à informação como direito constitucional

O SJ reforça que o direito à informação está garantido pela Constituição da República Portuguesa, nomeadamente no seu Artigo 37.º, que assegura o direito à liberdade de expressão e informação. A interrupção da distribuição em várias regiões do país não só compromete este direito fundamental dos cidadãos como também afeta as condições de vida e de trabalho dos jornalistas, tornando-se um obstáculo à própria democracia.

GL

“É triste, todos os portugueses têm direito à informação” dois concelhos do distrito podem deixar de receber jornais

 Vimioso e Freixo de Espada à Cinta são dois dos concelhos que poderão ser afetados pela decisão da VASP. O Autarca de Vimioso considera “grave” algumas localidades ficarem sem o acesso à informação escrita e espera que Governo continue a assumir despesas de distribuição


Após o anúncio da VASP de uma possível interrupção na distribuição diária de jornais a oito distritos, a partir de dia 2 de janeiro de 2026, muitos autarcas se têm manifestado.  Foi o caso do autarca de Vimioso, António Santos, que considera “triste” e “grave” a situação.

“Todos os portugueses têm constitucionalmente direito à informação, porque todos nós temos direito a saber o que se passa no país, e se não nos chegar a informação escrita, às regiões onde ainda as redes sociais não estão bem exploradas, naturalmente que as pessoas passarão a viver no obscurantismo, que conduzirá ao não saber escolher. E é grave, nomeadamente agora nas eleições presidenciais e noutras eleições que se vão seguir. É grave não sabermos, não podermos nós, as nossas gentes, não poderem escolher conscientemente porque a informação que lhes chega”, frisou.

Ainda assim, o autarca admite que apesar de sentirem o interior cada vez mais esquecido, quer acreditar que o Governo vai assumir as despesas com a VASP e que os jornais chegarão na mesma à região. “Quero acreditar que possa haver alguma vontade política em solucionar o problema. Neste momento o AVA estava a trazer os jornais a Vimoso e a Freixo de forma gratuita. Quero acreditar que esse trabalho vai ser garantido e que o Governo vai continuar a assumir as despesas. Se assim não for, sinceramente reivindicaremos, não nos cansaremos de protestar por forma a que os territórios do interior, de baixa densidade e de alta discriminação negativa, não sejam discriminados”, rematou.

A notícia foi avançada pelo Correio da Manhã, quinta-feira, após alegadamente ter recebido um comunicado da VASP onde comunicava uma possível interrupção na distribuição diária de jornais nos distritos de Beja, Évora, Portalegre, Castelo Branco, Guarda, Viseu, Vila Real e Bragança a partir de dia 2 de janeiro. Segundo o mesmo jornal “Em causa está uma "situação financeira particularmente exigente, resultante da continuada quebra das vendas de imprensa e do aumento significativo dos custos operacionais”.

Escrito por Rádio Brigantia.
Foto: API
Jornalista: Cindy Tomé

BOAS FESTAS!

 
Caros visitantes, seguidores, colaboradores, amigos e amigas do Blogue Memórias… e outras coisas – BRAGANÇA,

Nesta quadra tão especial, quero agradecer a cada um de vós pela dedicação, pelo companheirismo e pelo espírito de partilha que tornaram o nosso grupo ainda mais forte ao longo deste ano.

Que o Natal traga momentos de paz, alegria e ternura às vossas casas, iluminando os vossos dias com esperança renovada. Que possamos continuar unidos, inspirados pela vontade de preservar as memórias da Nossa Terra, criar novas histórias e fortalecer os laços que nos aproximam.

Que o Novo Ano nos encontre juntos, determinados e confiantes, prontos para abraçar novos desafios e celebrar novas conquistas, sempre com amizade, respeito e união.

Desejo a todos um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo, repleto de saúde, harmonia e momentos inesquecíveis.

Com carinho e espírito de união,

Blogue Memórias… e outras coisas – BRAGANÇA

HM

𝗕𝗿𝗮𝗴𝗮𝗻𝗰̧𝗮 – 𝗧𝗲𝗿𝗿𝗮 𝗡𝗮𝘁𝗮𝗹 𝗲 𝗱𝗲 𝗦𝗼𝗻𝗵𝗼𝘀 𝗰𝗼𝗻𝘁𝗶𝗻𝘂𝗮 𝗮 𝗲𝘀𝗽𝗮𝗹𝗵𝗮𝗿 𝗺𝗮𝗴𝗶𝗮!

 A segunda semana chega com dança, música, ciência, doces de Natal e muita solidariedade. Não faltes!


𝟴 𝗱𝗲𝘇𝗲𝗺𝗯𝗿𝗼
19h00 – BragDance | Praça Camões

𝟭𝟭 𝗱𝗲𝘇𝗲𝗺𝗯𝗿𝗼
19h00 – Orquestra Suzuki e Famílias em Coro | Praça Camões

𝟭𝟯 𝗱𝗲𝘇𝗲𝗺𝗯𝗿𝗼
10h00 – Banca de Natal | Praça da Sé
10h00–12h00 – A Ciência vai à Festa | Praça Camões
🔗 https://shre.ink/qKua
11h00 – Miniconcertos de Natal | Centro Histórico
15h00 – Workshop de Doces de Natal | Mercado Municipal
17h30 – VII Trail Urbano Noturno Solidário – Bragança Natal | Praça Professor Cavaleiro de Ferreira
🔗 https://shre.ink/qKKO

𝟭𝟰 𝗱𝗲𝘇𝗲𝗺𝗯𝗿𝗼
10h00–12h00 – A Ciência vai à Festa | Praça Camões
🔗 https://shre.ink/qKua
10h30 – CãoMinhada Solidária (Inscrição: 5€/pessoa) | Praça da Sé
15h30 – MoviCantaBebé – Concerto Especial Natal | Biblioteca Municipal

Vive a magia do Natal na nossa cidade!

As «Tétés» e os «Pépes»… E reminiscências do «Antigo Regime»…

Por: Rui Rendeiro Sousa
(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


 Por vezes, apetece-me ser sarcástico. Tive a felicidade (ou a infelicidade) de estudar em Lisboa. Numa época na qual já existia uma certa sobranceria intelectual (que parece manter-se) em relação a Trás-os-Montes e aos Trasmontanos. Aliás, quando «aterrei» em Lisboa, senti-me um alienígena, porque tinha uma comissão de recepção na instituição para a qual fui, porque «vinha um trasmontano». Foi mesmo um episódio raro de se ver. Considerei mesmo anómalo, saloio até, ter essa comissão à espera de uma pessoa vulgar, como tantas outras. Estranhamente, não cheguei de burro, não tinha uma «bigodaça farfalhuda», nem levava comigo nenhum garrafão de vinho ao ombro. Para lá disso, mesmo com algum natural sotaque, conseguia falar Português! Coisa assombrosa!…

Uma das coisas que mais me surpreendeu, nos anos que passei em Lisboa, não foram, propriamente, os Lisboetas. Mas os «adaptados». Aqueles que tudo faziam para esconder as suas origens. Esses, eram os piores! Desconheço se essa característica se mantém… Mas sobre a sobranceria intelectual, dúvidas não me restam. Julgo já o ter partilhado por aqui, um dia, uma professora bem conhecida, mandou-me uma «boca indelicada», dizendo: «Cale-se lá, ó Trasmontano, não sabe que Lisboa é Portugal, e o resto é paisagem?»… Respondi-lhe, com toda a calma do mundo: «Está equivocada. O Norte é que é Portugal, o resto são conquistas. Se não fossem os meus antepassados, ao invés de ser uma professora indelicada, estaria a servir num harém»… Uma outra figura muito conhecida, numa discussão na cantina da instituição onde ambos estudávamos, atreveu-se a dizer, perante uma opinião contrária: «Quem pensa assim, só pode ser burro. Não se pode esperar outra coisa de um Trasmontano». Acto contínuo, perguntei-lhe se teria coragem para me dizer isso sem a presença dos seus «correligionários»… Haveria de surgir a oportunidade, nuns «copos» no Bairro Alto, para ser brindado com um pedido de desculpas. À custa dessa postura, acabaria por ganhar, como alcunha, o nome de um revolucionário com o qual, coincidentemente, nem tenho grandes afinidades…
Mais tarde, já noutros âmbitos, ganharia uma outra alcunha, provinda de «nuestros hermanos». Porque não admitia a ninguém que falasse mal ou troçasse do meu país. E fiquei conhecido através da versão «espanholada» do que dizem ter sido o nosso primeiro rei. Um dia, numa convenção em Itália, um desprevenido italiano lembrou-se de, na mesa onde estávamos, zombar de Portugal e dos Portugueses, desconhecendo que estava o «Don Alfonso Henriquéz» na mesa. Alguém ainda o tentou avisar, mas já não foi a tempo. Naturalmente, a coisa «azedou» e surgiria o «mi scuso per l'inconveniente». E porque trago aqui estas histórias?
Por causa das «Tétés» e dos «Pépes», que ainda crêem viver no «Antigo Regime», ou no tempo da «Velha Senhora»... «Tão a vêre, tão queriduchos?»… Continuo a não andar de burro, mas imenso orgulho tenho em tê-lo feito inúmeras vezes. Assim como orgulho imenso tenho no «Burro Mirandês». Continuo a não ter «bigodaça farfalhuda», nem a andar de garrafão ao ombro. Mas gosto de uma boa “pinga”… Porém, acima de tudo, tenho um apreço especial por dizer aos sobranceiros intelectuais, às «Tétés» e aos «Pépes», que se baseiam na Wikipédia ou num qualquer excerto providenciado por IA, aqui de forma eufemista, um “inde-bus todus p’ró carbalhu que bus racontracosa”… Com especiais saudações a partir deste conto Nordeste...
Com todo o respeito para as «não-Tétés» e para os «não-Pépes»…


Rui Rendeiro Sousa
– Doutorado «em amor à terra», com mestrado «em essência», pós-graduações «em tcharro falar», e licenciatura «em genuinidade». É professor de «inusitada paixão» ao bragançano distrito, em particular, a Macedo de Cavaleiros, terra que o viu nascer e crescer. Investigador das nossas terras, das suas história, linguística, etnografia, etnologia, genética, e de tudo mais o que houver, há mais de três décadas. Colabora, há bastantes anos, com jornais e revistas, bem como com canais televisivos, nos quais já participou em diversos programas, sendo autor de alguns, sempre tendo como mote a região bragançana. É autor de mais de quatro dezenas de livros sobre a história das freguesias do concelho de Macedo de Cavaleiros. E mais “alguas cousas que num são pr’áqui tchamadas”.

sábado, 6 de dezembro de 2025

1974 - O ano em que a liberdade se fez canção


 O ano de 1974 nasceu sob o signo da mudança. Durante meses, o país viveu entre a dúvida e a esperança, sem imaginar que, em abril, a liberdade desceria finalmente às ruas, carregada no som de uma canção. A música de intervenção, essa arma feita de palavras e melodias, explodiu nas rádios, nas praças, nas vozes de um povo que começava a acordar.

Canções do Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira e tantos outros poetas da resistência ouviam-se por todo o lado, depois de anos silenciadas pela censura. De repente, “Grândola, Vila Morena” tornou-se símbolo da liberdade, senha de um novo tempo. A música deixou de ser refúgio e passou a ser bandeira, uma bandeira sem cor única, mas feita de vozes, sonhos e coragem.

As praças encheram-se de guitarras e de esperança. Os primeiros festivais e concertos ao ar livre surgiram espontaneamente, sem medo nem repressão. Onde antes se calava, agora cantava-se. Onde antes se marchava em silêncio, agora dançava-se ao som da revolução. As palavras “povo”, “igualdade” e “mudança” deixaram de ser perigosas e transformaram-se em versos, refrões e aplausos.

Era a juventude quem mais sentia o pulsar deste novo país. Os jovens organizaram-se em debates, assembleias populares, associações de bairro e os estudantes em RGA´s, discutiam o futuro, a política, o trabalho, a educação. Falava-se de democracia com entusiasmo e ingenuidade, mas também com uma profunda sede de justiça. As ruas eram escolas improvisadas, os cafés, parlamentos informais. A juventude acreditava, pela primeira vez, que a sua voz tinha peso, e que todas as palavras podiam ajudar a construir uma nação diferente.

Até o corpo e a roupa passaram a ser formas de expressão. O “look” informal invadiu as cidades. Calças de ganga gastas, camisolas com mensagens políticas, cabelos compridos e barbas que desafiavam os velhos padrões de ordem e moralidade. A liberdade não se vestia de uniforme, mas de autenticidade. O espelho de cada jovem refletia uma revolução íntima, a rutura com a rigidez do passado e a celebração de uma identidade livre, crítica e sonhadora.

Nas ruas, o país redescobria-se. As pessoas falavam umas com as outras, sorriam sem medo, partilhavam o pão e a palavra. A esperança corria solta como um vento morno de primavera, e tudo parecia possível. O que antes era proibido agora florescia. Jornais independentes, murais pintados, canções em cada esquina, poesia escrita à pressa nos muros e nos cadernos.

Em 1974,  a música deu voz à revolução, os jovens deram-lhe rosto, e o povo deu-lhe alma. Foi o início de uma nova forma de viver, feita de sonhos, liberdade e dignidade.

Entre guitarras e cravos, entre canções e abraços, Portugal reencontrou o som da sua própria humanidade.

É urgente levar ao dia-a-dia das pessoas o que falta cumprir de Abril. Até relembrar-lhes que “é preciso acreditar”, que é possível um País mais solidário e humano e um mundo melhor para todos… SEM GUERRAS e com "pão" nas mesas de todos!

"Paz, pão, educação, saúde, habitação"...

Obs: A minha solidariedade para todos aqueles que sofreram, e muito, com esta "mudança" inevitável num país que se tinha isolado de todo o mundo civilizado.

HM

👹 𝗕𝗿𝗮𝗴𝗮𝗻𝗰̧𝗮 𝗮𝗰𝗼𝗹𝗵𝗲 𝗮 𝗶𝗻𝗮𝘂𝗴𝘂𝗿𝗮𝗰̧𝗮̃𝗼 𝗱𝗮 𝗲𝘅𝗽𝗼𝘀𝗶𝗰̧𝗮̃𝗼 “𝗠𝗮́𝘀𝗰𝗮𝗿𝗮𝘀: 𝗦𝗶́𝗺𝗯𝗼𝗹𝗼𝘀 𝗱𝗲 𝗜𝗱𝗲𝗻𝘁𝗶𝗱𝗮𝗱𝗲"

 A Câmara Municipal de Bragança inaugurou, ontem, 5 de dezembro, no Centro Cultural Municipal Adriano Moreira, a exposição “Máscaras: Símbolos de Identidade”, uma mostra internacional dedicada ao significado cultural e simbólico das máscaras rituais em diversas comunidades do mundo.
Reunindo mais de 80 peças provenientes de vários continentes, a exposição apresentou as máscaras como elementos materiais do património imaterial, revelando a sua ligação a rituais ancestrais, às forças da natureza e às crenças no invisível. Entre os destaques estiveram as Máscaras de Inverno Ibéricas, bem como expressões rituais do México, dos Makah (Washington, EUA) e dos “Danzantes Enmascarados” do Peru.

O projeto procurou identificar pontos comuns entre tradições que remontam às mais antigas culturas tribais, valorizando manifestações transformadas ao longo da história e pelos contextos locais. A mostra propôs uma experiência simbólica e emocional, explorando máscaras antropomorfas, zoomorfas, híbridas, representações do caos e figuras femininas, homenageando também o trabalho de artesãos e artesãs.

VIDEO DA "PORTUGALNTN" NO PÓDIO DOS MELHORES FILMES DE TURISMO DO MUNDO 2025

 O filme “Feel With Us”, um vídeo promocional cujas filmagens aconteceram em 25 municípios de Trás-os-Montes, Douro, Alto Tâmega e Barroso, produzido pela PORTUGALNTN - empresa de turismo de natureza com sede em Mirandela – acaba de ser distinguido com o terceiro prémio, entre 4.000 filmes, provenientes de mais de 50 países, na categoria de Serviços de Turismo, no World Tourism Film Awards.


A entrega de prémios aconteceu, esta sexta-feira, em Guimarães.

O World Tourism Film Awards, organizado pelo Comité Internacional de Festivais de Filmes de Turismo (CIFFT) e pelo Município de Guimarães, com o apoio do Turismo do Porto e Norte de Portugal e com a participação da UN Tourism, distinguiu 32 produções de excelência, provenientes de 17 países, celebrando a criatividade, a inovação e o impacto estratégico na indústria turística global.

O Filme “procura responder às expetativas de potenciais turistas com diferentes formas de estar e de ser, com distintas maneiras de viver. Sugere experiências territoriais que incluem atividades na natureza, mais calmas ou mais radicais, passeios, visitas ao património, interações culturais, promovendo também a gastronomia, os vinhos, as festas e tradições que caracterizam o território”, adianta o comunicado de imprensa.

Esta produção foi feita com recursos próprios. O texto e guião são da autoria de Ana Fragoso, a recolha e edição de imagem de Marco Gil.

Desta vez a PORTUGALNTN “acrescentou a importância de trabalhar em parceria e juntou no vídeo contributos de alguns parceiros, nomeadamente da empresa SUN Azibo Cruzeiros & Experiências e dos Zíngarus, com a responsável Ângela Costa a integrar a dupla de figurantes, e a banda de Folk Rock transmontana, que cedeu uma música original para garantir, na parte final do filme, a presença das sonoridades transmontanas, que também fazem parte da identidade regional”, acrescenta a nota de imprensa.

Esta distinção final, resulta do desempenho do filme ao longo do Circuito CIFFT, a competição global dedicada a conteúdos audiovisuais de turismo. Ao longo do ano, a produção competiu com mais de 4.000 filmes provenientes de mais de 50 países, nos diversos festivais internacionais que compõem o circuito, arrecadando vários prémios — incluindo duas distinções (1º Prémio na Categoria Desportos e Aventura, na competição Internacional e o 2º Prémio, na Categoria Aventuras & Expedições na competição nacional), no ART & TUR - International Tourism Film Festival; a classificação 𝐒𝐈𝐋𝐕𝐄𝐑, que corresponde ao 2º lugar, na Categoria de Serviços, no Japan World's Tourism Film Festival; e o 2º Prémio, na categoria de Serviços de Turismo, no 16th Amorgos International Tourism Film Festival, na Grécia.

Cada distinção contribuiu com pontos para a sua posição final no CIFFT Rankings, onde alcançou o 3º lugar, na categoria Serviços de Turismo, garantindo para a PORTUGALNTN e para o território esta distinção na lista dos Melhores Filme de Turismo do Mundo.

“Para além de fantásticas imagens, que o nosso território tem, neste filme mostramos experiências, já ultrapassamos a fase de ‘contar a história’ para a fase de ‘viver a história’, e não é fácil conseguir gerar esse sentimento nas pessoas, de sentirem que estão a viver a história”, refere João Neves, responsável pela PORTUGALNTN.

Reconhecido pelo seu conceito criativo, narrativa e qualidade de produção, o vídeo orgulha os promotores. “Pelo facto de termos vindo nos últimos anos a arrecadar vários prémios pode parecer fácil, mas asseguro-vos que não é. Competimos com mais de 4.000 filmes, provenientes de mais de 50 países. Estamos a lidar com pessoas especialistas nesta área, com sensibilidades e culturas muito diferentes”, argumenta Domingos Pires, igualmente responsável pela PORTUGALNTN.

Recordo que, em 2024, o evento da entrega de prémios World Tourism Film Awards, organizado pelo Comité Internacional de Festivais de Filmes de Turismo (CIFFT), decorreu em Valência, Espanha, e a PORTUGALNTN conquistou o “𝐏𝐞𝐨𝐩𝐥𝐞’𝐬 𝐂𝐡𝐨𝐢𝐜𝐞” 𝐀𝐰𝐚𝐫𝐝 𝟐𝟎𝟐𝟒, com o filme “We are what we feel”, considerado pelo público o Melhor Filme de Turismo do Mundo.

Artigo escrito por Fernando Pires (jornalista)

Lobo-ibérico: aprovado o Programa Alcateia 2025-2035

 O Governo aprovou hoje o Programa Alcateia 2025-2035, documento através do qual o país quer conseguir um estado de conservação favorável do lobo-ibérico (Canis lupus signatus).


O “Programa Alcateia 2025-2035 – Conservação da População de Lobo-Ibérico em Portugal” foi aprovado através do Despacho n.º 14505/2025, de 5 de dezembro.

Até 2035, o novo Programa Alcateia quer reverter a diminuição do número de lobos-ibéricos em Portugal, assegurando que esta espécie Em Perigo de extinção passa a estar em situação de conservação favorável.

Em Portugal, o lobo esteve presente em todo o território continental até ao início do século xx. Desde então, e à semelhança do registado no resto da Europa, verificou-se uma drástica redução da sua área de distribuição e do respetivo efetivo populacional.

Com o desaparecimento progressivo do lobo, de sul para norte e do litoral para o interior, a área de presença ficou circunscrita a áreas do Norte e Centro do País correspondendo atualmente a cerca de 20 % da distribuição original.

Hoje existem quatro núcleos populacionais: Peneda/Gerês, Alvão/Padrela, Bragança e Sul do Douro. Foram detetadas 58 alcateias (56 confirmadas, 2 prováveis). Estima-se que a população ronde os 300 animais, o que corresponde ao valor médio da estimativa de 190 a 390 lobos. A população portuguesa representa cerca de 15 % da população ibérica de lobo.

Estes dados, resultado do Censo do Lobo-Ibérico 2019/2021, serviram de base ao Programa Alcateia 2025-2035.

A revisão do regime jurídico da conservação do lobo-ibérico e este novo ciclo de medidas prevê cinco objetivos estratégicos e 45 medidas a implementar para os próximos 10 anos, com um financiamento que pode chegar aos 15 milhões de euros, provenientes de diversos instrumentos nacionais e europeus.

Entre esses objetivos estão a garantia de condições ecológicas mais favoráveis à conservação do lobo, a melhoria da coexistência com as atividades humanas e o reforço da monitorização e o nível de conhecimento sobre a espécie.

O programa traz novidades, como a atualização dos valores das indemnizações a atribuir por prejuízos causados pelo lobo à atividade pecuária.

“Uma vez que estes valores não eram atualizados desde 2017, a revisão agora efetuada traduz um aumento justo para os produtores de gado, porque passará a considerar a espécie pecuária atacada e o seu custo no mercado”, explica o Ministério do Ambiente e Energia em comunicado enviado hoje à Wilder.

Para indemnizações por perda de caprinos há um aumento global de 227%; para os equídeos o aumento é de 160%; para os ovinos de 130%; e para os bovinos de 97%. O despacho que suporta esta nova tabela de pagamentos produz efeitos a 1 de janeiro de 2025, pelo que todas as indeminizações referentes ao corrente ano já serão pagas tendo por base esta atualização.

O Programa Alcateia 2035, apresentado oficialmente em julho deste ano, prevê ainda simplificar e acelerar os procedimentos relativos à participação dos danos causados, avaliação de prejuízos e pagamento expedito das indemnizações.

Entre as medidas previstas está ainda o reforço do funcionamento do Sistema de Monitorização de Lobos Mortos (SMLM), a atualização dos dados sobre a situação populacional do lobo em Portugal ou ainda a promoção de ações de vigilância e dissuasão de furtivismo e uso de veneno, com a ajuda do SEPNA.

“O lobo-ibérico faz parte do nosso património natural e cultural, e a sua conservação é uma prioridade da política de conservação da natureza”, comentou, em comunicado, a ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho. “Temos de evitar o seu desaparecimento agindo ao nível do restauro ecológico, assegurando que os danos causados são devidamente compensados.”

O processo de elaboração deste Programa, conduzido pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) incluiu um período de consulta pública entre 18 de julho e 30 de setembro de 2025; foram recebidas 42 participações.

“O Programa Alcateia reflete o nosso compromisso efetivo com a conservação do lobo-ibérico”, declarou a ministra.

Este programa é o sucessor do PACLobo – Plano de Ação para a Conservação do Lobo-ibérico, iniciado em 2017.

Cabe agora ao ICNF apresentar, no espaço de dois meses, um cronograma detalhado com as medidas do Programa Alcateia e um painel de indicadores com vista à sua monitorização.

COMO ERAM ESCOLHIDOS OS DEPUTADOS, SEGUNDO EÇA. E AGORA?

Por: Humberto Pinho da Silva 
(Colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

 Ao ler: " Uma Campanha Alegre", de Eça de Queiroz, encontrei passagem escrita, em junho de 1871, em que o escritor explica como se escolhiam os deputados do seu tempo. Por ser interessante, e bastante curioso, translado, para o leitor poder avaliar - segundo Eça, - como eram escolhidos os políticos, no seu tempo:

O Governo, pois, “nomeia” os seus deputados. Estes homens são, naturalmente e logicamente, escolhidos entre amigos dos ministros. Por dois motivos:

1º - Porque a amizade supõe identidade de interesses, confiança inteira.

2ª - Porque sendo a posição de deputado ociosa e rendosa, é consoante que seja dada aos amigos íntimos - aqueles que vão ao enterro dos parentes e trazem o pequerrucho da casa às cavalitas

" Os amigos dos ministros são, naturalmente, os primeiros escolhidos. Para completar o número de uma maioria útil, estes amigos, mais em contacto, indicam depois outros, seus parentes que procuram colocar, ou seus aderentes que querem utilizar:

- "Tu não tens ninguém pelo círculo tal? - Pergunta X ao ministro seu íntimo.

- " Não."

- " Espera! Tenho um primo. O pobre rapaz tem poucos meios, é pianista. Mas é fiel como um cão. Um escravo! Posso dizer ao rapaz que conte com a coisa?" - " Podes dizer ao rapaz."

O leitor alheio às lides políticas. pode, perfeitamente pelo texto, como em 1871, os representantes do povo - que ocupavam as cadeiras da Casa da Democracia e deambulavam pelos Passos Perdidos, eram escolhidos; e ainda conhecer o valor e competência, que possuíam, para debater: leis e o Governo da Nação.

Pergunto agora: Como são escolhidos os atuais? Pelo grau académico? Pela honestidade? Pela conduta? Pelos largos conhecimentos que possuem?  Defenderem, intransigentemente, a ideologia que dizem acreditar? Ou ainda, pela crença que professam ou dizem professar, e pela qual foram batizados?

Não sei. Saberá o leitor?


Humberto Pinho da Silva
nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG” e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

Chocalheiro de Bemposta

 As Festas de Inverno da Terra Fria Transmontana estão a chegar e o Chocalheiro de Bemposta é uma das mais importantes. Realiza-se nos dias 26 de Dezembro e 1 de Janeiro. 

Venha sentir o calor das Festas na Terra Fria.

MUNICÍPIO DE FREIXO DE ESPADA À CINTA E GNR DE BRAGANÇA REFORÇAM COOPERAÇÃO PARA SEGURANÇA LOCAL

 O Município de Freixo de Espada à Cinta e o Comando Territorial da GNR de Bragança reuniram-se recentemente para discutir estratégias conjuntas voltadas à segurança, qualidade de vida e bem-estar da população local.


O encontro contou com a presença do Presidente da Câmara Municipal, Nuno Ferreira, e do Vice-Presidente, Pedro Vicente, assim como do Comandante do Comando Territorial de Bragança, Coronel António Duarte Rodrigues Lobo de Carvalho, e do Major Hernâni Mondragão Martins, Chefe da Secção de Operações, Treino e Relações Públicas.

Entre os principais pontos abordados, destaca-se a preparação da comemoração do Dia da Unidade do Comando Territorial de Bragança, prevista para fevereiro de 2026, que contará com a colaboração do Município.

Foram ainda discutidos protocolos de cooperação que incluem: a cedência de bicicletas elétricas para reforço do policiamento na Praia Fluvial da Congida; a disponibilização de habitação em regime de comodato para militares da GNR destacados no concelho; o desenvolvimento de um projeto de videovigilância na vila e na praia fluvial, com futuras condições para patrulhamento náutico; e o reforço do patrulhamento preventivo, apoiado por valências de investigação criminal, com o objetivo de aumentar a segurança percebida e efetiva.

O Município de Freixo de Espada à Cinta e a GNR de Bragança reafirmaram o compromisso de trabalhar em conjunto para garantir a proteção de residentes e visitantes, promovendo um ambiente seguro e tranquilo para todos.

Jornalista: Vitória Botelho
Foto: DR