As noites em Outeiro tornaram-se mais silenciosas depois que Tomás voltou da fraga, carregando consigo a memória intensa do tear de ouro. Mas, como toda a lenda viva, Castramouro começou a atrair outros corações curiosos, especialmente aqueles que não conseguiam resistir à promessa de tesouro e mistério.
Entre eles estava Margarida, uma jovem aldeã conhecida pela sua coragem e espírito inquieto. Ao ouvir os sussurros sobre o tear, decidiu que precisava ir ver por si mesma a princesa Moura. Não por ganância, mas por uma sensação de que havia algo na história que podia transformar a sua própria vida.
Numa noite de vento frio e céu limpo, Margarida aproximou-se da fraga. A água refletia a lua como um espelho partido, e o som do tear surgiu à distância, ritmado e melancólico. Quanto mais se aproximava, mais sentia uma força invisível, como se o próprio lugar a testasse. Cada passo sobre as pedras escorregadias exigia atenção, mas Margarida não recuou.
Então, finalmente, viu a princesa Moura. Brilhava como prata e ouro fundidos, tecia com uma precisão sobrenatural. Os novelos reluziam e os fios pareciam flutuar, criando figuras que pareciam dançar no ar. Margarida sentiu um frio intenso, mas também uma curiosidade irresistível.
- Quem ousa aproximar-se sem medo? Perguntou a princesa, sem parar de tecer. A sua voz era firme, mas carregava uma tristeza profunda.
- Sou apenas uma aldeã, respondeu Margarida, mas queria ver a verdade desta lenda.
A Moura inclinou a cabeça e, com um gesto de anuência, permitiu que Margarida chegasse mais perto. Os fios de ouro começaram a mover-se, desenhando imagens no ar. O castelo em chamas, a fuga desesperada, a aia protegendo a princesa, e aldeões cujas vidas haviam sido tocadas por aquele mesmo destino. Cada imagem pulsava como se tivesse vida própria.
De repente, um fio escapou do tear e enrolou-se no tornozelo da Margarida. Um arrepio percorreu o seu corpo, e uma onda de visões inundou-a. Sentiu o medo da princesa, a força da fuga, e a dor de deixar tudo para trás. Mas também sentiu esperança, coragem e a beleza de cada ato de amor e proteção. Margarida percebeu que o tear não era apenas um objeto, mas um guardião de memórias e emoções que pertenciam a todos que tinham cruzado aquelas terras.
- O tear não é para ser tocado, disse a Moura, a voz agora carregada de advertência. - Ele guarda a história de Outeiro, e só aqueles que entendem o seu valor podem ouvir o seu canto sem se perderem.
Margarida, com lágrimas nos olhos, retirou o pé do fio e ajoelhou-se diante da fraga. Sentiu que naquele gesto estava a reconhecer a verdade da lenda e assumindo o papel de guardiã, mesmo que apenas por lembrança e respeito.
Quando a princesa desapareceu lentamente na névoa, o som do tear tornou-se suave, quase imperceptível, como se estivesse adormecendo. Mas Margarida sabia que, em cada noite de lua cheia, o coração de Castramouro continuaria a bater no ritmo da tecelagem, lembrando a todos que alguns segredos são eternos e que certos tesouros não pertencem a mãos humanas.
E assim, a Moura Encantada continuou a viver entre a névoa e as águas da fraga, enquanto Outeiro guardava o silêncio e o respeito de uma lenda que não poderia ser esquecida. Quem ousasse escutar o tear, sentia não apenas o toque do passado, mas a presença de algo que transcendia o tempo, a coragem, a tristeza e a beleza eterna de uma princesa que fugiu, mas nunca deixou de tecer seu destino.
continua...
N.B.: Este conto teve como base a Lenda de Outeiro "A Moura Encantada" e a colaboração, na construção do "esqueleto", da IA. A narrativa e os personagens fazem parte do mundo da ficção. Qualquer semelhança com acontecimentos ou pessoas reais, não passa de mera coincidência.

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